Lançamento simultâneo, "Os 948 dias do gueto de Varsóvia", de Bruno Halioua, e "Diário tardio", de Max Mannheimer | Vêm aí, em abril, dois lançamentos da Estação Liberdade: Os 948 dias do gueto de Varsóvia, de Bruno Halioua, e Diário tardio: Theresienstadt - Auschwitz - Varsóvia - Dachau, de Max Mannheimer. Lançados concomitantemente, os livros tocam em questões atuais como a resistência, a liberdade, a memória e a destruição dela. |
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Os 948 dias do gueto de Varsóvia
narra a história do período com extenso aparato documental, desde
diários de escritores que viveram no gueto até cartinhas de crianças que
eram privadas de sonhar com um mundo melhor. Através das memórias de
quem viveu e sobreviveu ao período naquele lugar, Bruno Halioua nos projeta para um passado sombrio onde a violência e a barbárie culminariam na erradicação de milhares de pessoas.
Título: Os 948 dias do gueto de Varsóvia Autor: Bruno Halioua Tradução: Luciano Vieira Machado ISBN: 978-65-86068-75-7 Formato: 14 x 21 cm / 256 páginas Preço: R$ 69,00
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Max Mannheimer,
por sua vez, tendo ele mesmo sido um sobrevivente do Holocausto,
precisou de tempo para reviver o passado e transformá-lo na obra Diário tardio: Theresienstadt - Auschwitz - Varsóvia - Dachau.
Durante décadas, ele reprimiu suas memórias dos campos de concentração
em que fora obrigado a viver sob custódia nazista -- Auschwitz, os
guetos de Theresienstadt e de Varsóvia, e Dachau. Até que acasos da
vida, que seguiu apesar dos traumas, o levaram a relatar, em forma de
diário, grande parte do horror por que teve que passar desde a
juventude.
Título: Diário tardio: Theresienstadt - Auschwitz - Varsóvia - Dachau Autor: Max Mannheimer Tradução: Luis S. Krausz ISBN: 978-65-86068-28-3 Formato: 14 x 21 cm / 128 páginas / Ilustrado com documentação fotográfica Preço: R$ 56,00 |
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Bruno
Halioua, escrevendo agora sobre um passado que não viveu na pele, mas
que o atinge enquanto médico de origem judaica, historiador da medicina e
descendente de pessoas que viveram no gueto, e Max Mannheimer, um homem
daqueles tempos que escreveu e agiu pensando no futuro da humanidade,
encontram-se no meio do caminho da discussão do que se pôde ou não pôde
fazer outrora e do que se poderá fazer daqui em diante.
Se
recontar os sofrimentos de um povo serve para lembrar que isso não
deveria ter acontecido e jamais deve acontecer novamente, seja com este
mesmo povo, seja com quaisquer outros, os livros de um sobrevivente e de
um historiador do assunto põem-se um ao lado do outro, como que
resistindo em um front, e em uníssono clamam pela paz; e exclamam que
basta, que já passou da hora de cessar toda perseguição e toda
atrocidade opressoras. Como conclama Mannheimer no final de seu Diário, “vocês não são responsáveis pelo que aconteceu. Mas para que isso nunca aconteça de novo, isso sim vocês são responsáveis”.
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A
história do gueto de Varsóvia começa em 12 de outubro de 1940, Yom
Kipur daquele ano, quando as autoridades nazistas ordenaram a
transferência de todos os judeus da cidade polonesa para um perímetro
fechado.
A opressão
terminaria exatamente 948 dias depois, com o extermínio dos últimos
resistentes e a dinamitação da Grande Sinagoga, localizada na rua
Tłomackie. É o fim da maior comunidade judaica da Europa, a única que
ofereceu resistência armada à crueldade. A descrição dessa resistência
com meios extremamente parcos e na verdade desesperada é um marco da
perseverança humana e símbolo do enfrentamento possível e necessário a
estruturas opressoras, ontem, hoje e sempre.
Bruno
Halioua apresenta também com pormenores os momentos anteriores à
instituição do gueto, com a escalada da violência e da barbárie, que
culminariam na erradicação. Com base nos numerosos testemunhos escritos
durante e após o período em questão, Halioua narra a vida cotidiana de
mais de 380 mil pessoas (isto é, cerca de 30% da população de Varsóvia à
época): a multiplicação das medidas antijudaicas, os estratagemas para
comer, trabalhar, rezar apesar do inferno, a coragem necessária para
resistir à máquina de morte criada pelo Terceiro Reich.
Narrado com verbos conjugados no presente, como que para de propósito não relegar o evento histórico ao passado, Os 948 dias do gueto de Varsóvia,
sintético, preciso e edificante, é um livro indispensável a todos
aqueles que desejam compreender melhor esse trágico episódio do século
XX.
O gueto de
Varsóvia e seu levante, como diz o autor, "vai muito além da comunidade
judaica. [...] Constitui, depois da guerra, um momento-chave da história
da Europa no século XX, como Marek Edelman ressaltou de forma notável:
'A Shoá é a derrota da civilização. E, infelizmente, essa derrota não
cessou em 1945. Temos de nos lembrar disso'." |
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Bruno Halioua é
dermatologista e professor de história da medicina na Universidade
Sorbonne em Paris. Ex-diretor da clínica da Faculdade de Medicina de
Paris, possui um DEA (Diploma de Estudos Aprofundados, título de
pós-graduação francês) em história contemporânea e é membro da Sociedade
Francesa de História da Medicina. É também autor de La Médecine au temps des Hébreux; Sience et conscience; Blouses blanches, étoiles jaunes e La Médecine au temps des pharaons. |
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| Durante
décadas, Max Mannheimer reprimiu suas memórias dos campos de
concentração em que fora obrigado a viver sob custódia nazista --
Auschwitz, os guetos de Theresienstadt e de Varsóvia, e Dachau, aonde o
enviaram em uma marcha da morte. Guardou para si todo o horror que
lugares como esses causam a um ser humano, mesmo que os pesadelos do
silêncio o assombrassem e a depressão o adoecesse. Embora tenha
sobrevivido, perdeu pai, mãe, dois irmãos, uma irmã e a esposa, ou seja,
toda a família, exceto um terceiro irmão. Porém,
após muitos anos, ao se deparar, em viagem aos Estados Unidos, com uma
suástica bordada na roupa de uma pessoa; e também, em outra ocasião, ao
pensar que estava próximo da morte por conta de um mal-entendido com seu
médico, Mannheimer resolve abordar seu difícil passado e, logo,
escrever um diário sobre o período mais aterrador de sua vida. Nestes
diários tardios a que os leitores brasileiros agora têm acesso,
Mannheimer conta sobre sua juventude na antiga Tchecoslováquia até a
ocupação alemã -- o relato da propagação da praga nazista entre vizinhos
e próximos é comovente --, seguindo com a mudança para uma parte não
ocupada do país, mas onde a máquina hitlerista i alcançará também.
Relata finalmente sua experiência nos campos de extermínio, com
descrições da rotina estafante de trabalhos forçados e narrações de
passagens insólitas, como por exemplo o pão que ele comia em uma sala de
autópsia ou a felicidade de uma roupa nova após meses. Rememora os
pequenos atos de bravura dos colegas de jornada, como a desafiar o
destino e dar sentido ao sofrimento, ações que quase sempre redundam em
tortura, fuzilamento ou forca. Nas páginas finais, a descrição da
libertação traz o adendo positivo mostrando que a resistência não apenas
é possível, mas necessária. |
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Max Mannheimer nasceu
em 1920, em Nový Jičín, cidade na antiga Tchecoslováquia. Judeu, foi
perseguido pelos nazistas e forçado a trabalhar para eles. Perto de
completar 23 anos, enviaram-no junto a toda sua família para o gueto de
Theresienstadt e logo para Auschwitz, onde só sobreviveram ele e um
irmão, que seriam ainda enviados para o gueto de Varsóvia, na Polônia, e
para Dachau, na Alemanha. Em 1945, poucos meses antes do fim da Segunda
Guerra Mundial, Manheimmer, muito debilitado, foi libertado do domínio
nazifascista.
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Após
a libertação, voltou a sua cidade natal, casou pela segunda vez e
mudou-se para Munique. Começou a pintar sob o pseudônimo ben yakov, teve
suas pinturas expostas em várias ocasiões e também trabalhou com
diversas organizações judaicas. Escreveu estas memórias nos anos 1970 e
as publicou em livro somente em 2000. Engajou-se no conselho da Fundação
Jugendgästehaus Dachau, uma instituição para conscientizar sobre a
história de violência contra os judeus, que após a morte de Mannheimer,
em 2016, passou a levar seu nome: Fundação Max Mannheimer-Haus.
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