Mario Sabino
Metrópoles
A imprensa se deu conta, finalmente, do grande mal ao país causado pela destruição do legado da Lava Jato. E, agora, reage com editoriais críticos a quem vem destruindo. É pouco. Sentenças de condenação de corruptos anuladas, multas bilionárias de acordos de leniência suspensas, empreiteiras sujas de volta a obras públicas, Lei das Estatais praticamente revogada, foro privilegiado estendido, ex-juiz e procuradores da operação perseguidos politicamente — tudo isso parece ter pegado de surpresa os jornais tradicionais.
CARDÁPIO PREVISÍVEL – Não dá para entender esse espanto com o cardápio previsível como bife com fritas em boteco de esquina. O establishment político, jurídico e empresarial sempre esteve pronto a reagir com força à ameaça representada pela Lava Jato. Ele só precisava de uma brecha.
A brecha foram as mensagens roubadas do celular de Deltan Dallagnol e alegremente divulgadas pelos mesmos jornais que hoje se indignam com o desmantelamento da operação que se propunha a limpar o Brasil. Mensagens que, embora produto de gatunagem digital, acabaram usadas como provas em processos.
A imprensa lavou o produto de roubo, e lavou com exclamações de ultraje. Como se houvesse alguém na face da Terra que pudesse resistir a grampos ou roubos de mensagens privadas. Ninguém resiste, senhores, e é por isso que existe sigilo telefônico e de correspondência. O sigilo é uma homenagem que a lei presta à fraqueza da alma humana.
CULPAS PROVADAS – A verdade crua e cozida é que, a despeito dos diálogos do então procurador federal Deltan Dallagnol e demais integrantes da Lava Jato, todas as culpas foram provadas e corretamente atribuídas tanto no Brasil como no exterior.
Ninguém teve negado o direito à defesa e os processos passaram pelas instâncias devidas, inclusive o próprio Supremo.
A imprensa deixou-se levar pela excitação de divulgar conversas privadas e, no embalo, promoveu uma caça às bruxas escandalosa, como se os criminosos fossem o juiz e os procuradores, não os ladrões que dilapidaram a Petrobras e arredores.
FIZERAM O JOGO – Na chamada grande imprensa, os editoriais críticos de hoje lamentam o que vem ocorrendo com a herança da Lava Jato, mas ainda abrem apostos para dizer que a operação errou nisso e naquilo.
Esses veículos da grande mídia sabem o que fizeram com o combate à corrupção, que foi praticamente destruído.
Agora, deveriam é dar o braço a torcer e reconhecer que fizeram o jogo dos corruptos e corruptores que haviam sido punidos exemplarmente, bem como dos que ainda poderiam sê-lo.
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