Teresina (Piauí) - O
Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI),
vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh),
realizou a primeira cirurgia para tratamento da Doença de Parkinson no
estado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O paciente de 49 anos, de
Teresina, no Piauí, que tem Parkinson há 16 anos, sofre com uma forma
rara da doença, que é chamada Parkinson precoce. Essa condição acomete
pessoas antes dos 40 anos de vida. A cirurgia aconteceu na última
terça-feira (19) e o caso é semelhante ao do ator canadense-americano
Michael J. Fox, de 62 anos, que foi diagnosticado com a enfermidade há
mais de 30 anos, quando tinha 29 de idade.
“A
maioria dos pacientes com Parkinson são mais velhos. Mas, no caso em
questão, a pessoa tem apenas 49 anos e sofre com a doença desde os 33.
Imagina o paciente que apresenta Parkinson aos 70 ou 75 anos? Ele vai
ter o resto de vida com alguma limitação, mas, muitas vezes, não chega a
evoluir tanto. Agora, a pessoa com 30 anos, vai ter a maior parte da
vida, que seria funcional, perdida. Entretanto, a cirurgia resgata
isso”, comenta o neurocirurgião do HU-UFPI/Ebserh, responsável pela
cirurgia na instituição, Gustavo Noleto.
O
procedimento foi um sucesso! O paciente teve alta da UTI no dia
seguinte (20) ao ato cirúrgico, com melhora significativa dos sintomas,
sem nenhum tipo de sequela. No dia 21 de março, recebeu alta hospitalar,
comemora o gerente de Atenção à Saúde do HU-UFPI/Ebserh, que também é
neurocirurgião, Maurício Giraldi.
Ele
explica que essa é uma cirurgia complexa, demorada, que dura em torno
de oito horas. O paciente precisa fazer exames de imagem. Depois, com a
utilização de equipamentos de uma empresa especializada no assunto,
engenheiros fazem o cálculo exato do local onde devem ser colocados os
eletrodos. “Então já envolveu uma segunda equipe aí, de engenharia.
Posteriormente, entra a equipe de neurocirurgia.
O procedimento cirúrgico consiste na implantação de Deep Brain Stimulation
(DBS), técnica de neuromodulação, com aplicação de eletrodos em áreas
específicas do cérebro do paciente, que vai ajudar a interromper os
sinais irregulares. Esses eletrodos produzem pulsos elétricos que
ajudam a regular padrões anormais de atividade elétrica nas regiões do
cérebro em que são implantados, ajudando a combater sintomas de diversos
transtornos”, explica o Giraldi.
Para
essa cirurgia, a equipe foi composta por profissionais de diversas
áreas e especialidades, como neurocirurgiões, anestesista, neurologista,
enfermeiros e técnicos de enfermagem. De acordo com Noleto, a cirurgia
foi realizada, em grande parte do tempo, com o paciente acordado, com
uma sedação consciente, sem dor, permitindo que o usuário do SUS
conseguisse interagir, inclusive obedecendo aos comandos para poder
avaliar como ele estava respondendo durante o procedimento.
“Depois
que os dois eletrodos são implantados dentro do cérebro, a gente fixa
os componentes e fecha a pele. Num segundo momento, que é para implantar
a bateria que vai alimentar esses eletrodos, é que o paciente é
colocado para dormir sob anestesia geral”, detalha Noleto.
A Doença de Parkinson
A
Doença de Parkinson é uma enfermidade degenerativa causada por um
processo de envelhecimento de uma determinada região do cérebro, chamado
substância “Nigra”, responsável pela produção de dopamina, um
neurotransmissor importante na regulação do sistema sensório-motor e do
estado de humor. A degeneração dos neurônios pigmentados nessa região é a
principal causa da Doença de Parkinson.
“A
doença prejudica muito a qualidade de vida de um indivíduo, pelo
tremor, pela rigidez, pela dificuldade de movimentação etc. Então, o
HU-UFPI/Ebserh celebra um novo momento. A realização desta primeira
cirurgia aqui é simbólica, porque ela abre a possibilidade desse tipo de
paciente começar a ter, no nosso estado, no SUS, gratuito, uma cirurgia
que é extremamente complexa e de alto custo”, explica Giraldi.
De
acordo com ele, a cirurgia não cura o Parkinson, mas propicia uma
melhora importante dos sintomas e permite que a medicação usada no
tratamento volte a ser eficiente, dando outra condição de vida às
pessoas beneficiadas por ela.
Critérios para a cirurgia
O
primeiro critério para o paciente fazer a cirurgia é que ele tenha,
pelo menos, quatro ou cinco anos de diagnóstico da doença para poder ter
certeza de que se enquadra no grupo cirúrgico. Além disso, deve
apresentar um histórico de não resposta à medicação.
“O paciente que está usando medicação há muitos anos e que passa a não mais responder como no começo
do tratamento, ele começa a ter flutuações motoras”, relata Noleto.
Além disso, outros pré-requisitos são avaliados: o paciente não pode ter
nenhum quadro psiquiátrico descompensado nem apresentar problemas
cognitivos graves. Precisa também realizar todo o acompanhamento
pós-operatório recomendado.
“No
começo, ele vai estar conosco aqui no Hospital com 30 dias. Depois, com
três meses, seis meses, até anualmente. Após 10 anos, é indicada a
troca de bateria, a depender do fabricante”, informa Noleto.
Sobre a Ebserh
O
HU-UFPI faz parte da Rede Ebserh desde novembro de 2012. Vinculada ao
Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente,
administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e
impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como
hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm
características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde
(SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o
desenvolvimento de pesquisas e inovação.
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