Poeta fluminense lança “está na hora de me tornar um homem sério”, pela Editora Minimalismos
“vazo para ver até onde chega a linha de cuspe”
Leo Nunes (pág. 63)
Sexualidade,
morte, amadurecimento, religião e identidade. Estes são só alguns dos
temas tratados pelo poeta fluminense Leo Nunes (@leonardocnunes) em “está na hora de me tornar um homem sério” (90 pág.), livro de poesias publicado pela Editora Minimalismos.
Como
um filho bastardo da geração beat e um possível adepto da geração
mimeógrafo, a geração que andava pelas ruas da cidade de São Paulo
fazendo uma poesia libertária, Leo não tem medo de enfrentar os seus
fantasmas para encarar os percalços de uma vida moderna, principalmente
para um homem gay em um espaço urbano. Subversivo, mas apaixonado, o
autor faz uma exploração pessoal dentro da criação e desenvolvimento de
um personagem, e busca encontrar através dessa investigação os ecos
poéticos que ressoam em cada um de nós. Sua escrita resgata temas e
assuntos que o acompanharam ao longo da adolescência e início da vida
adulta.
Através dos ecos de uma Ana Cristina Cesar ou um Roberto Piva, “está na hora de me tornar um homem sério”
adota um tom mais confessional e autoficcional, sendo dividido em três
partes. Na primeira, “pequena trajetória de uma bicha da baixada”,
acompanhamos a trajetória de se descobrir um homem gay e encarar o mundo
conservador de uma região pobre da cidade: “Procurei trabalhar no livro
a jornada de um personagem. Queria poder ler um livro que contasse e
trouxesse os desejos e sabores de um ser muito específico: uma bicha da
baixada fluminense que vai tentar descobrir o mundo”.
Dos
encontros com “os meninos da igreja” a uma tentativa de “administrar
uma cadela no cio”, para Leo a poesia é quase que uma preparação para
uma vida que virá. Na segunda parte, “a magia está aqui”, o poeta nos
apresenta um mundo mais convulso e complexo, das montanhas-russas ao
Bate-Bate, das Maratonas ao Sambas, a poesia encontra um espaço urbano
complexo de se aprender, cuja aparência é retratada através das
entrelinhas da poesia.
Por
fim, na terceira parte, “a vida no apartamento 1107”, seguimos com este
jovem adulto em seu pequeno apartamento e fazemos companhia às
aventuras íntimas das noites mal dormidas, dos amores mal passados e das
poéticas que atravessam sua vida.
Algumas
das suas principais influências literárias são as obras de Andrea del
Fuego e Victor Heringer. No campo da poesia, Leo passeia por um campo
vasto de referências como Ana Martins Marques, Marília Garcia, Flávia
Péret, Lilian Sais (que fez a leitura crítica da obra), Rafael Zacca,
Angélica Freitas, Pedro Cassel, Ana Cristina Cesar, entre outros nomes.
Multidisciplinarmente, tem como referências cinematográficas Eduardo
Coutinho e Agnés Varda.
Leo Nunes: liberdade e intensidade, mas um poeta quando dá
Leo Nunes nasceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e “está na hora de me tornar um homem sério”
é o seu livro de estreia. É formado em Comunicação Social - Rádio e TV
pela UFRJ em 2011 e iniciou no mercado audiovisual em 2010 trabalhando
na Conspiração Filmes como assistente de edição. Desde então vem
trabalhando em produtoras de TV e Cinema do Rio de Janeiro. Atualmente
trabalha como Coordenador de Pós-produção na produtora A Fábrica onde
está desde 2017.
Sua
motivação ao se firmar no gênero veio de “querer ver na poesia a
realidade, as palavras, os sentimentos de um homem gay nos anos 2020”.
Leo afirma que é “poeta quando dá”. “está na hora de me tornar um homem sério”
nasce dentro de uma oficina de poesia ministrada por Rafael Zacca,
quando tentou “esgotar” o tema da chamada “viadagem”. “Resolvi então
aceitar esse tema e tentar explorar ele ao máximo. Escrevi o livro ao
longo de três semestres de oficina, fui construindo através das
provocações novos poemas que buscavam formar uma imagem. Foi um ano e
meio para conseguir elaborar todo o projeto”, relata.
Sem abandonar os toques autobiográficos, essenciais para uma poesia visceral como a de “está na hora de me tornar um homem sério”,
Leo compõe neste livro um relato coletivo de uma experiência muito
comum: a de nascer nas margens do país e precisar enfrentar preconceitos
rumo à libertação. Trata-se de uma poesia mais que urgente, uma poesia
latente, que dificilmente não vai encontrar seus pares pelas noites das
cidades.
Sobre
seus projetos futuros, revela: “Nesse momento estou desenvolvendo um
projeto para meu segundo livro de poemas. Dessa vez estou focando no
corpo, cidade e memória”.
Leia um trecho de “está na hora de me tornar um homem sério” (poema da pág. 74):
[mancha no teto
é acúmulo]
assim como quem fuma guarda
no peito as horas
passadas
não posso consumir nuvens
não poderei crescer esférica
conservo os líquidos
restos fluidos
de outras existências
vigio e protejo
tudo o que sobra dos outros
sou o ponto de resguardo
do desvio
tudo para um dia
desaguar
Para comprar o livro, acesse a página da Editora Minimalismos:
https://www.editoraminimalismos.com/product-page/est%C3%A1-na-hora-de-me-tornar-um-homem-s%C3%A9rio-de-leo-nunes
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