Fernando Cavalcanti
Bolsonaro decretou luto oficial pela morte de Olavo de Carvalho. Para mim, porém, é muito mais do que isso.
A morte de Olavo abalou-me como se fosse de uma pessoa de minha família. De um grande amigo. De um grande mestre.
Há pessoas que encarnam em si a tragédia de
uma época, seja por aderirem entusiasticamente ao "zeitgeist", seja,
por, ao contrário, terem a coragem de opor-se a ele, quando é nefasto.
Olavo era dos segundos.
Olavo era um gênio. Polímata e autodidata,
podia abordar com segurança temas de todas as matérias, Humanas e
Exatas, Eruditas e Populares, e, o que é dificílimo, concatenando-as com
acontecimentos do cotidiano, num entrelaçamento perfeito.
Ouvir Olavo discorrer sobre qualquer
assunto era feito ouvir Mozart improvisar: os entendedores
maravilhavam-se ao perceber como de um motivo central se podiam fazer
infinitas variações.
Os esquerdistas inteligentes e honestos que
travaram contato com Olavo reconheciam seu toque de genialidade. Mas a
imensa maioria dos supostos intelectuais de esquerda, atualmente, sofre
de uma espécie de cegueira parcial: conhecem profundamente as obras
esquerdistas, e ignoram completamente as do lado contrário.
Habituei-me a fazer 2 perguntas-chave aos
amigos "progressistas" mais "anti-Olavo": o que achavam da paralaxe
cognitiva e da Estratégia das Tesouras.
Nenhum, até hoje, soube respondê-las.
Repito: NENHUM. E trata-se de conceitos "Olavianos" básicos, simples,
sem qualquer complexidade de apreensão.
Ou seja, Olavo é detratado por pessoas que não têm o mínimo conhecimento de sua obra.
Eis o retrato do Brasil de hoje, dominado pela esquerda ao ponto de até o conhecimento ser censurado.
O fenômeno, aliás, não é exclusivamente brasileiro. É uma doença de todas as democracias ocidentais.
O maior pensador americano da atualidade,
talvez do mundo, Thomas Sowell, é outro ilustre desconhecido. Burke?
Russell Kirk? Roger Scruton? Ayn Rand? Você os menciona e recebe do seu
interlocutor intelectual esquerdista aquele olhar vago, perplexo, da
ignorância absoluta.
São fantásticos todos esses autores. Se os
amigos leftists intelectuais honestos pelo menos os LESSEM, ficariam
impressionados com sua erudição e lógica (afinal, "ensinaram-lhes" na
escola e universidade que todo direitista é imbecil.)
Mas, não: basta um autor ser apodado de direitista, para que isso o converta em pária.
É o caso do Olavo. O qual, porém,
destacou-se deles por transcender o debate abstrato e ter a coragem de
"comprar brigas" e sofrer perseguições por suas tomadas de posição em
assuntos cotidianos.
Nós, que o acompanhávamos no COF e em redes
sociais outras, esperávamos com curiosidade, quase ansiedade, seus
posicionamentos sobre assuntos sérios e também seus comentários sobre
banalidades. Ele conseguia ser rico, instigante, seminal em tudo.
Como cresceram intelectualmente todos os que o acompanharam!
Fico rubro de vergonha alheia quando penso
que Olavo tinha menos de 2 milhões de seguidores enquanto retardados
como Felipe Neto, Khéfera, jogadores de futebol, modelos, cantoras e
outros ultrapassam facilmente os 10 milhões.
Fico triste ao pensar que pessoas como
Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros são
considerados intelectuais; Que pensam que a Globo, a Veja, a Folha e o
Estadão fazem jornalismo; Que Lula foi eleito, reeleito, fez sua
sucessora mentecapta e "ameaça" voltar de novo. E as FFAA nada falam!
Fico arrasado ao pensar que o STF usurpou
funções de outros Poderes sob o beneplácito ou a concordância medrosa
desses, e as FFAA, última instância de defesa da democracia, quedaram-se
inertes.
O Brasil, hoje, é teatro de um golpe.
Vivemos sob a que Rui Barbosa considerava a pior das ditaduras: a do
Judiciário, pois dela não se tem a quem recorrrer.
Essa percepção, indubitavelmente, amargurou
os últimos anos de Olavo de Carvalho. E vocês sabem que a tristeza
reduz a resistência imunológica.
Olavo morreu depois de muita luta. Uma vida
inteira sem se curvar a condescendências que lhe teriam garantido
posições influentes, aplausos, benesses. Faleceu perseguido, exilado e
dependente da caridade alheia.
Um mártir de suas convicções. Herói.
O que não o impedia de ter seus defeitos,
como todos nós. Era desbocado, teimoso, brigão, impaciente, rancoroso e
bravio. Ele próprio, com humilde humor, reconheceu isso:
"Meu sonho é chegar na porta do Céu e Jesus cochichar: 'Entre depressa, não tem ninguém olhando'."
Olavo, querido, polêmico, valente, genial Olavo...
Você viverá para sempre. Os que o
denegriram por malícia, e os que o fizeram por ignorância, esses, sim,
perecerão na vala comum do esquecimento.
"Os meus mortos queridos... eu não sinto
saudade deles, pois eles estão presentes, eles existem. Nada do que
aconteceu 'desacontece'. O que aconteceu durante uma fração de segundo
já está na eternidade. Nunca mais volta a não-ser."
Discordo da primeira parte da sentença. Sinto uma saudade tremenda de meus mortos queridos. Olavo é agora um deles.
Mas é uma saudade terna, feliz. Orgulhoso de ter visto que lutou o bom combate. Morreu em plena batalha, no campo de honra.
Cabe a nós, agora, levar a luta adiante.
E creio que um dia, passada essa época de
ódio ideológico, que invade e desvirtua filosofia e ciência, ser-lhe-á
feita plena justiça. Será lido como filósofo, não como polemista. E seus
tesouros serão "descobertos", "enxergados" por muitos dos cegos que
hoje não os querem ver.
Olavo foi passado, presente e, agora, pertence ao futuro.
Olavo é eterno.
* Recebido de um leitor, por e-mail.
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