BLOG ORLANDO TAMBOSI
Sem uma nova Constituição e uma reforma política de gente grande, acho que não temos futuro. Com o “trânsito em julgado”, então, a corrupção terá um brilhante futuro. Bolívar Lamounier, em entrevista a Luciano Trigo, da Gazeta do Povo:
No
livro “Da Independência a Lula e Bolsonaro – Dois séculos política
brasileira”, o cientista político Bolívar Lamounier investiga episódios
da nossa História política para tentar explicar de que forma as
instituições democrático-representativas foram construídas e implantadas
em nosso país – e como isso afetou a qualidade da nossa democracia. Do
reexame da conjuntura do Império e do início do período republicano aos
governos de Lula e Bolsonaro, o autor examina a evolução do Congresso,
dos partidos políticos e das práticas eleitorais e faz uma revisão
crítica da historiografia brasileira. Nesta entrevista, Bolívar fala
sobre o seu livro e comenta o cenário político atual.
-
O nosso passado colonial e imperial explica de alguma maneira a
dificuldade para a consolidação de uma democracia plena e madura no
Brasil? Se não é o nosso passado, qual é a causa dos percalços da nossa
democracia?
BOLÍVAR
LAMOUNIER: Esse é o mistério que tentei desvendar em meu livro “Da
Independência a Lula e Bolsonaro”. Apesar da colonização portuguesa, da
monocultura e da escravidão, fatores universalmente invocados, com
razão, argumentei que não começamos mal. Ao contrário do que geralmente
se afirma, a Constituição de 1824 fazia todo sentido como arcabouço para
a transição de uma tirania absolutista ao Estado Constitucional.
É
importante frisar que, na primeira metade do século 19, a democracia
representativa engatinhava por todo parte, os Estados Unidos sendo uma
exceção, mas a escravidão estava lá, tão ou mais cruel que aqui. A
República foi um golpe militar, talvez inevitável, mas o pior foi ter
desembocado em regimes de partido único em todos os Estados, um modelo
imposto por Campos Salles, exceção feita ao Rio Grande do Sul, onde
“gaviões” e “maragatos” se digladiavam.
Penso
que esse ciclo aparentemente infindável de crises e retrocessos remonta
à Revolução de 30 e à autotransformação de Getúlio Vargas de
“Dr.Jekyll” em “Mr.Hyde”. Sua impensada guinada ditatorial, que só não
foi mais longe porque tivemos que entrar na guerra ao lado dos Estados
Unidos, deixou plantada a semente do antigetulismo e do antijanguismo,
que levou ao militarismo e por aí afora.
E
tivemos o imenso azar de Lula, um populista apoiado num aglomerado
disforme de esquerdistas e estudantes, chegar ao poder justo quando
Fernando Henrique havia arrumado o país para a retomada do
desenvolvimento. Agora, sinceramente, estou pessimista: Lula por mais 8
anos prenuncia um retrocesso de várias décadas.
-
Durante bastante tempo a disputa eleitoral no Brasil ficou marcada pela
polaridade PT x PSDB. Hoje os dois partidos parecem cada vez mais
próximos na oposição a Bolsonaro, Alckmin pode ser vice na chapa de
Lula, e o próprio Fernando Henrique dá sinais de preferir Lula a
Bolsonaro. Isso dá razão a quem enxergava no binômio PT-PSDB uma
ilustração da “estratégia das tesouras” de Lenin?
BOLÍVAR:
É mais um exemplo de nossa tragédia partidária. O populismo – há quem
diga o “carisma” – de Lula permitiu ao PT, partido ambíguo em relação à
democracia, se fazer passar por “centro”, até porque as principais
lideranças da luta contra o regime militar desapareceram no curto
período. E o PSDB se formou sem refletir direito sobre o significado de
“socialdemocracia”.
Como
é que um país que mal consegue equilibrar suas contas vai reduzir
desigualdades mediante “entitlements”, atribuição indefinida de direitos
a diferentes categorias? Foi uma forma meio envergonhada de conservar a
personalidade passada de esquerdistas e cristãos-democratas, quando o
que se impunha era um liberalismo sério, realista, que pusesse fim ao
patrimonialismo e à superinflação que vinha desde 1961.
A
aliança PT-PSDB é o melhor exemplo do que tenho afirmado: ter esse
sistema partidário e não ter nenhum, dá na mesma. É tudo uma grande
ameba, uma fraude à vontade do eleitor.
-
Uma seção inteira do seu livro, aliás, é dedicada à Reforma Política.
Poderia resumir quais devem ser as diretrizes dessa reforma, em relação
ao sistema eleitoral, aos partidos políticos e a eventuais mudanças no
Congresso?
BOLÍVAR:
Fiz o possível para condensar minha ideia de reforma no capítulo 8 de
“Da Independência a Lula e Bolsonaro. Defendo: 1) Um regime
parlamentarista, sem as tergiversações “semipresidencialistas” dos
adeptos do regime francês; 2) Um sistema eleitoral “misto”, designação
imprópria do sistema alemão, mas com cuidado, porque sua complexidade
pode dar margem a casuísmos sem fim; 3) Uma estrutura partidária séria –
no momento, temos uma comédia, com 24 partidos – e grupos
corporativistas fazendo-se passar por tal – na Câmara Baixa; 4) redução
do número de deputados federais para cerca de 420, como propôs em 1986 a
Comissão Afonso Arinos, e do número de Senadores para 54 – dois por
Estado: Roraima com três senadores só pode ser anedota, não é?
-
De que forma o crescimento das redes sociais e da internet tem afetado a
política e a democracia no Brasil? O poder de censura das chamadas Big
Techs é preocupante? Quais são os riscos que esse fenômeno traz, e como
superá-los?
BOLÍVAR:
Quem imaginava que a comunicação instantânea realizaria o velho sonho
rousseauniano e anarquista de uma vontade do povo unificada e fraterna,
enganou-se redondamente. O que estamos vendo é uma proliferação
infindável de espirra-canivetes. E a presença cada vez maior das Big
Techs só vai piorar isso, claro.
-
Vivemos cada vez mais, uma época de “ódio do bem”. Não lembro, por
exemplo, de ver na época de FHC amigos deixarem de se falar, ou parentes
romperem relações por causa de política. Hoje há uma permanente
demonização do outro, e parece que metade dos brasileiros odeia a outra
metade. Como você analisa isso?
BOLÍVAR:
É o resultado inevitável da dissolução da política, dos partidos e das
elites no sentido sério desta segunda palavra), e também da estagflação –
porque sem desmantelar o patrimonialismo e o corporativismo é óbvio que
não teremos crescimento) – e da ignorância, no duplo sentido de
estupidez e falta de escolaridade. E por aí afora. Sobriedade, respeito e
outras qualidades necessárias em uma sociedade moderna foram
“desconstruídas” – não é assim que se diz? – em proveito da boçalidade
generalizada.
- Você enxerga a possibilidade de uma terceira via vencer a eleição deste ano? Por quê?
BOLÍVAR:
Ainda não joguei a toalha, mas acho difícil. Sérgio Moro parece que não
vai decolar. Dória será vítima de suas qualidades: está fazendo um
grande governo em São Paulo, por isso não tem tempo para percorrer o
país, o que, eleitoralmente, é o que devia estar fazendo, como Lula e
Bolsonaro fazem. Antigamente havia uma legislação sobre o calendário
eleitoral, lembra-se? Parece que não há mais.
- Há um desequilíbrio na relação entre os Poderes no Brasil hoje?
BOLÍVAR:
Para o mau enredo que o Brasil vivencia hoje, de uma forma ou de outra,
temos o pior elenco de nossa história, nos três Poderes. Sem uma nova
Constituição e uma reforma política de gente grande, acho que não temos
futuro. Com o “trânsito em julgado”, então, a corrupção terá um
brilhante futuro...
- Voltando ao seu livro, de que forma a nossa historiografia foi contaminada (e comprometida) pelas premissas do marxismo?
BOLÍVAR:
A primeira grande influência foi o que tenho denominado
“protofascismo”, o pensamento autoritário que se formou na crítica à
Constituição de 1891. Tratei de exemplificá-lo na figura de Oliveira
Vianna, no capítulo 8 de meu livro “Tribunos, profetas e sacerdotes”.
Nas primeiras décadas do século, o marxismo era irrelevante no Brasil.
Quando surge, é logo dominado pela figura de Luís Carlos Prestes, cuja
formação intelectual era rasa. Então, a rigor, o marxismo de grande
vulto é só depois da Segunda Guerra, trafegando sobre o “sucesso” da
União Soviética e o importante papel que ela teve na vitória sobre a
Alemanha.
Por
isso, no Brasil, o marxismo intelectualizado surge já acoplado e, por
vezes, indistinguível do nacional-desenvolvimentismo, pela mística da
industrialização etc. Observe-se que, nessa época, a ciência social
não-marxista ou antimarxista era muito fraca tanto na Europa, sobretudo
na França, como nos Estados Unidos. Eis porque, no Brasil, mesmo tendo
poucos intelectuais de grande influência, o marxismo alastrou-se
facilmente pelas universidades.
-
Qual é sua crítica, por exemplo, à análise do patrimonialismo e do
“estamento burocrático” feita por Raymundo Faoro, sobretudo em “Os donos
do poder”?
BOLÍVAR:
Mestre Raymundo Faoro teve um importante papel na desmistificação da
tese, típica de Oliveira Vianna, de um país ganglionar, assentado quase
exclusivamente sobre a família patriarcal. Mas passou para o outro
extremo. Imaginou uma máquina de Estado consubstanciada no patronato
político – expressão concreta de nossa patrimonialismo – transplantada
de galho de Portugal para cá e dominando completamente a Colônia. Ele
transformou o patrimonialismo em uma “enteléquia”, quero dizer, uma
substância que sobrevive imutável através dos séculos. Tese
insustentável.
O
patrimonialismo originário, provindo de um país de escassa população,
Portugal, tinha expressão localizada – no Nordeste, principalmente.
Cresceu e foi sendo revificado à medida que os diferentes ciclos
econômicos fracassavam. Com o colapso do açúcar, a oligarquia nordestina
largou grande parte de seus engenhos – superados de longe pelos
holandeses que, expulsos, foram para a América Central – e açambarcaram
posições no Estado.
O
mesmo se deu, em muito menor escala, no ciclo da mineração. Mas deu-se
escancaradamente com o colapso do café em São Paulo. O Convênio de
Taubaté (1906) foi uma clara expressão política do que venho de afirmar:
a aristocracia cafeeira desistia de sua inviável autonomia em troca da
proteção do Estado. O próprio getulismo seguiu essa lógica: o ditador
agraciou amigos próximos com empreendimentos privilegiados.
-
Qual seria, então, a sua explicação para a persistência do
patrimonialismo na sociedade brasileira – patrimonialismo que em
governos recentes chegou próximo da perfeição?
BOLÍVAR:
A lógica exposta na resposta anterior prosseguiu e se revigorou, mesmo
nos governos militares. Os momentos sucessórios do regime militar
permitem viabilizar tal continuidade. O esboço de liberalismo iniciado
no governo Castelo Branco, com Otávio Gouveia de Bulhões e Roberto
Campos, foi liquidado pelo general Costa e Silva, que se impôs como
candidato à sucessão. Morto Costa e Silva, a cúpula militar dá um golpe
dentro do golpe, impedindo a posse do vice legitimamente eleito, o
deputado mineiro Pedro Aleixo, e entronizando Garrastazú Médici no lugar
dele. O general Geisel, além de estatizante, levou o endividamento
externo às raias do delírio – origem da chamada “década perdida”.
-
Qual dos chamados “pais fundadores” (Sérgio Buarque, Caio Prado Jr e
Gilberto Freyre) da moderna historiografia brasileira é hoje mais
relevante para explicar o Brasil? Por quê?
BOLÍVAR:
Eu tenderia a dizer Caio Prado, mas a obra dele é muito desigual, além
do que, naturalmente, ele não se propôs pensar a democracia. Sérgio
Buarque – refiro-me a “Raízes do Brasil” – foi brilhante, mas
excessivamente amarrado a um culturalismo weberiano não muito bem
digerido, que não o deixou se livrar da antiga tese dos “grilhões do
passado”.
No
que me diz respeito, quem mais me ensinou foi Victor Nunes Leal, autor
de “Coronelismo, enxada e voto”. É um livro que todo mundo leu ao
contrário, como uma lamúria ligada ao latifúndio, quando ele quis dizer
exatamente o contrário: que, apesar do latifúndio, o Brasil estava
evoluindo no sentido de uma democracia representativa razoável. Isso em
1948.
Mas,
depois, infelizmente, veio a guerra-fria, a contraposição getulismo x
lacerdismo, os delírios reformistas de Jango etc, e fomos para o brejo.
Jornalismo x jornalixo: a eterna batalha (2).
Segunda parte do estudo de Fernão Lara Mesquita, publicada no blog Vespeiro:
No
capítulo anterior fomos da “Guerra das Gazettes” (Thomas Jefferson x
Alexander Hamilton) à primeira grande remissão por conta de Joseph
Pulitzer e Sam McClure, duas das “sequências genéticas” que vão compor
para todo o sempre o DNA do jornalismo e do jornalixo, os dois canais –
da vertente sã e da vertente doente – da disputa pelo poder nas
democracias.
Vale,
no entanto, recuar um passo antes de seguir adiante, para identificar
claramente o “gen recessivo” que faz do jornalismo, antes de tudo, para o
bem e para o mal, um parteiro de reformas.
Mais
de mil e quinhentos anos se tinham passado, rios de lágrimas e de
sangue tinham corrido quando a invenção de Gutemberg finalmente permitiu
que Lutero desmascarasse o esquema de poder que, apoiado na censura e
no controle estrito da informação, se tinha estruturado por cima da
Igreja e transformado a mensagem de Cristo num instrumento de terror. O
primeiro ramal do tronco bi-partido da semente que ele plantou medraria
na Inglaterra com a “Revolução Gloriosa” de 1688 que dá ao Parlamento,
eleito pelo povo, o lugar que era do rei. O segundo fincaria raízes na
América do Norte.
A
imprensa americana nasceu antes da democracia americana. Os Estados
Unidos eram apenas um conglomerado de 13 colônias independentes com
características genéticas bastante diferentes entre si até que Alexander
Hamilton, James Madison e John Jay as convencessem a se unir numa
federação apoiada numa Constituição democrática com a publicação de uma
série de 85 artigos entre outubro de 1787 e agosto de 1788 no The
Independent Journal de Nova York.
Foi
a imprensa, portanto, o veículo dos Federalist Papers mediante os quais
discutiu-se à exaustão e estabeleceu-se para sempre a receita do
primeiro sistema político inteiramente baseado no debate de ideias e no
livre consentimento de seus aderentes. Hamilton, autor da maioria dos
artigos, escreveu-os dois por semana em intervalos de três dias, sob a
pressão dos acontecimentos, enquanto rolava a Convenção de Filadélfia e,
portanto, num ritmo essencialmente jornalístico. Mas então ainda não
estava em cena a disputa de poder com data marcada que a democracia
institui, e que é a mãe do jornalixo…
Feito
o parêntese, voltamos a McClure e Pulitzer e à exitosa operação de
ressuscitação da jovem democracia americana defeituosa promovida pelo
jornalismo deles. Afastado da luta pela cegueira prematura, Pulitzer
reserva uma parte de sua fortuna para perpetuar o jornalismo de
qualidade em cujas mãos acreditava estar o futuro da democracia. Morre
em 1911 e em 1912 é lançada a pedra fundamental da Columbia University
Graduate School of Journalism. Só em 1927 dá-se a primeira distribuição
do Prêmio Pulitzer em 21 categorias encomendado por ele e até hoje tido
como o mais importante da profissão.
Mas
“o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. É Walter
Duranty, editor e correspondente do NYTimes na Moscou de Joseph Stalin,
um dos primeiros e mais festejados ganhadores do Pulitzer (1932), quem
vai se tornar o grande paradigma histórico da volta triunfal do
jornalixo ao primeiro plano.
A
semente do mal, que viera prosperando desde a “Guerra das Gazettes”, é a
constatação de que, se o jornalixo não comanda os fatos, ele pode
comandar a reação da massa dos eleitores aos fatos. É ele que instiga e
alimenta a indignação que se levanta ou a anestesia que se instala na
opinião pública. Lênin nunca negou a que veio e como veio. Só o poder
lhe interessava. O terror elevado ao estado da arte era, declaradamente,
o seu instrumento de ação. Quanto mais sagrado fosse o valor universal
violentado e mais gratuita e injustificada a violência praticada contra
ele, maior e “mais eficiente” seria o efeito do terror provocado e mais
perto estaria a conquista do poder. E diante da indignação que essa
violência inevitavelmente provocaria, dizia Vladimir Ilitch com todas as
letras, “acuse o atacado daquilo que você é; ponha nele a culpa pelo
que você faz”.
Foi
o jornalixo protegido pela marca do NYTimes, e não Lênin, que
transformou essa receita sinistra na “salvação moral” da humanidade.
Corrompido por Stalin, que “fez-lhe o nome” dando-lhe entrevistas
exclusivas em momentos cruciais (e certamente não apenas isso), Duranty
transformou-se no protótipo do Fausto, “dono” incontestável do assunto
mais quente do jornalismo de seu tempo, e foi cortejado e festejado no
mundo inteiro por isso.
Segundo
ele, “tudo era cor-de-rosa na revolução russa”. “Ia às mil maravilhas a
Nova Política Econômica” (NEP). “Moscou era uma festa”. “Stalin era
amado pelo povo”…
Mas
nenhum jornalista estrangeiro, senão ele, podia sair da capital. Até
que em 1934 Gareth Jones, viajando incógnito, registra o horror da fome
na Ucrânia. Stalin estava resolvendo dois problemas matando de fome,
pelo confisco de toda comida existente, a população que resistira à sua
revolução (e até hoje ainda não se livrou da Russia), e escondendo da
população de Moscou, inundada com essa mesma comida, a debacle da
economia soviética.
Aproximadamente
4 milhões de ucranianos foram deliberada e sistematicamente
assassinados pela fome para sustentar a mentira socialista. Foram os
primeiros de uma vasta montanha de cadáveres…
Expulso
da Russia, também Gareth Jones foi assassinado um ano depois, aos 29
anos, quando fazia uma reportagem na Mongólia. Jurado de morte, os
“guias” que contratara estavam a soldo da polícia política soviética…
O
NYTimes, diante do escândalo da publicação das matérias de Jones no
Ocidente, tirou Duranty de Moscou mas logo o devolveu para lá. Foi ele
quem “cobriu”, com as lentes cor-de-rosa de sempre, os famosos
“processos-farsa” (1936-38), sempre justificando-os, com que Stalin
assassinou todos os seus companheiros revolucionários.
Duranty
morreu em paz em 1957 na Florida, aos 73 anos, e seu Prêmio Pulitzer,
apesar de repetidos movimentos para que fosse revogado, nunca o foi, nem
o NYTimes, em resposta a “investigações” sobre seu desempenho exigidas a
partir dos anos 90 (pós queda do muro), “descobriu” qualquer coisa de
muito grave sobre ele e todas as mentiras que escreveu e dormem em seus
arquivos.
O
socialismo real nunca pretendeu ser diferente do modelo que Lênin lhe
conferiu. Da versão maoista dos anos 50-60, passando pelas “repúblicas
democráticas” da Cortina de Ferro, pela cubana dos paredón, pela
vietnamita dos boat people, pela cambodjana que matou 1/4 de população
do país, pela coreana dos Kim até chegar à ciber-ditadura de Xi Jinping,
todas impõem-se pela violência e pelo terror; todas afirmam sem meias
palavras que o poder totalitário do partido único, extensão do chefe
único, está acima de tudo e de todos, sob pena de morte. Foi sempre o
modelo de jornalixo relançado pelo até hoje premiado Walter Duranty e
refinado ao estado da arte por Antonio Gramsci, que fez dele o que nunca
foi, ensejando que continuasse matando como mata até hoje “em nome do
bem da humanidade”.
Agora
mesmo, em plena fervura planetária da patacoada das fake news nascida e
criada pelo jornalixo, um docudrama muito bem feito – na Polônia,
jamais em Hollywood, é claro – contando essa história está ofertado na
Netflix. Mas vem sob o título genérico “À sombra de Stalin”, um “filme
sobre questões sociais”, e escondido sob a legenda que se lê abaixo que
não menciona o NYTimes, o nome do seu tristemente famoso agente
stalinista ou a palpitante questão das fake news.
Ou
seja, quase 100 anos depois dos acontecimentos, o jornalixo é uma
instituição cada vez mais firme, mais forte e, como se verá no capítulo
de amanhã, mais generalizada.
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