Jair Bolsonaro
é um homem de convicção. Não se trata de convicção sobre princípios de
política ou de economia, mas, sim, da convicção trazida pela percepção
de que ele, presidente da República, está perdendo instrumentos de
poder. Como o de demitir chefes de estatais, ou de exigir deles
obediência ao que Bolsonaro considere melhores políticas – incluindo
fechamento de agências do Banco do Brasil ou formação de preços de combustíveis.
A
convicção de Bolsonaro baseia-se na forte crença de que há sempre
conspirações em curso para tirá-lo do poder. Esses processos mentais,
não importa a opinião médica que se tenha deles, são fatores importantes
para se entender a motivação e as decisões do presidente brasileiro,
segundo relatos em “off” de pessoas que acompanharam diretamente como
chegou a recentes posturas políticas. No caso da Petrobrás,
por exemplo, o presidente acha que a conspiração foi armada via
aumentos de preços do diesel para irritar os caminhoneiros que, por sua
vez, têm a capacidade de paralisar o País e criar o clima de caos social
para prejudicá-lo.
O
mesmo ocorreu no caso do Banco do Brasil. O fechamento de agências,
entende Bolsonaro, foi urdido com o intuito de prejudicá-lo entre o
eleitorado de pequenas cidades e a pressão que elas exercem sobre
deputados de várias regiões. Mesmo a aprovação da autonomia do Banco Central
(algo que ele defendeu em público durante a campanha) caiu sob a mesma
interpretação: Bolsonaro acha que lhe foi retirado um poder efetivo, o
de mandar na taxa de juros.
Auxiliares
têm se esforçado em explicar ao presidente que a formação de preços no
setor de energia, a política de pessoal em instituições financeiras
públicas e a fixação da taxa de referência de juros obedecem a
mecanismos complexos e a fatores entre os quais alguns (como o cenário
internacional de juros e preços de commodities) escapam a qualquer
controle brasileiro. Mas o presidente, segundo relatos confiáveis, não
quer ouvir falar disso.
O
mundo político e pessoal de Bolsonaro, de acordo com interlocutores
frequentes, é completamente dominado pelo empenho pela reeleição e a
luta para sobreviver às conspirações para tirá-lo do poder e aplainar a
volta de Lula. Frases ditas pelo ex-presidente petista em entrevistas
recentes, como a importância de se preservar a atuação do Executivo
sobre a Petrobrás, são mencionadas por Bolsonaro em conversas privadas
como “prova” do que diz ser necessário manter como “instrumentos de
poder”.
A
crença em conspirações tramadas por adversários estava presente também
na maneira como Bolsonaro reagiu à pandemia. Depois de acreditar que o
alarme sobre o vírus não passava de tentativa de desestabilização, o
presidente passou a enxergar nas medidas restritivas adotadas por
prefeitos e governadores apenas uma tática política de indispor a
população contra o poder central. Ele acredita, de fato, que seus
adversários continuam tentando criar uma situação de baderna à la Chile
por meio do desemprego, miséria e fome. E o que é pior: com o dinheiro
que ele, Bolsonaro, está disponibilizando via ajudas emergenciais.
Quem
conversa muito com o presidente afirma que ele só pensa em reeleição e
submete qualquer outro tipo de consideração – como “intervencionismo” ou
“liberalismo” na política econômica – ao cálculo político-eleitoral de
prazo curtíssimo. É o que o faz defender posturas aparentemente
contraditórias. Intervir na formação de preços de combustíveis (e a ação
vai se estender também ao setor elétrico) fez desabar os mercados, dos
quais dependem os humores de investidores, mas energizou seu núcleo
eleitoral duro.
O mesmo vale para a ajuda emergencial imediata, âmbito da ação política na qual Bolsonaro conta com as fortes simpatias do Centrão e
sua prática de fazer agrados com o dinheiro do contribuinte. Nas
complexas discussões sobre ajuda emergencial e teto de gastos Bolsonaro
julga ter chegado ao fundo da questão. As preocupações com a situação
fiscal são tidas pelo presidente como pretextos de cínicos gananciosos
que não entendem nada de política. “Tudo bem que a tua turma ganha
dinheiro, PG”, já disse Bolsonaro mais de uma vez a Paulo Guedes, “mas
não me tira poder”.
Ainda que seja apenas uma, Bolsonaro é um homem de convicção.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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