“An Airport for Disgusting Flies” arrecadou inacreditáveis 6 mil
cestas-básicas em todo o mundo. Mas o sucesso comercial do filme não
intimida Karlo Amarhal, que diz que estuda uma continuação ainda mais
surpreendente. Paulo Polzonoff Jr. para a Gazeta:
E o Oscar vai para... “An Airport for Disgusting Flies”, de Karlos Amarhal.
Foi a primeira vez que o Brasil ganhou o Oscar. O experiente diretor,
produtor, roteirista, ator, cantor, figurinista e cabeleireiro Karlos
Amarhal tinha chegado perto com “Big Ears to Kindle Fire”, a pungente e
ao mesmo tempo revoltante história de Thyago, um menino com
orelhas-de-abano que enriquece depois de processar os coleguinhas de
pré-escola que tiravam sarro de suas abas – e que abas! Na época, o
filme foi indicado a 34 estatuetas, mas não levou nenhuma, o que gerou
acusações de brasilofobia. A produção premiada daquela noite foi o duro,
amargo e perturbador “Was Rin-tin-tin the Racist Dog Ever?”, sobre o
célebre cão dobermannófobo.
E pensar que este caminho para a consagração do audiovisual do meu
Brasil varonil começou a ser pavimentado há muitos anos pela atriz
Flaviana Karma. Que, até ser cancelada pela turba ensandecida (mais
detalhes abaixo), entrou para a história como a autora das imortais
palavras “Criminalizem a gordofobia!”. Na época ninguém deu muita bola e
houve quem até risse da causa da atriz. Mas pouco depois x ministrx do
Legisciário (ou Judilativo) entendeu o tamanho do problema (sem
trocadilho) e determinou que discriminar uma pessoa com IMC superior a
25 era um crime análogo ao racismo, mas muito diferente, porque tinha
mais peso (com trocadilho) na Escala Manu de Quepeninha.
O mundo inteiro parou para ver quando Gumercindo Farias, o primeiro
acusado de gordofobia, foi julgado e condenado à morte ao ser flagrado
na calçada assoviando a melodia de “Gordo Baleia, Saco de Areia”, funk
para sempre marcado na memória coletiva na voz de Caê III, o Detãrd.
Mais tarde a pena foi reduzida para prisão perpétua, depois trinta anos
em regime fechado, depois semiaberto, depois tornozeleira eletrônica,
depois vem cá, esquece isso, me dá um abraço e vamos fundar uma ONG.
De lá para cá, muita coisa mudou. A própria Flaviana Karma teve sua
estátua derrubada quando descobriram que ela tinha interpretado
voluntariamente papéis como a “obesinha engraçadinha” em alguns
programas de televisão. Mesmo destino teve a estátua de Jô Soares. Houve
alguma conversa de extremistas de ultradireita sobre devolver o Cristo
Redentor ao local, mas tudo não passou de um delírio fascista.
Amarhal, que era uma criança quando tudo isso aconteceu, inspirou-se
na luta que observava no próprio lar para produzir seus primeiros
filmes, entre eles a trilogia formada pelo musical “Sua Napa Não Me
Protege da Chuva”, o romântico, mas não sexista “Nosso Amor é Maior que o
Estrabismo” e o drama histórico “De-de-demoro Pra Di-dizer que
Te-te-te-te Amo”. Todos sabiam que um dia Amarhal ganharia um Oscar, só
não quando, embora uma senhora da etnia romani tivesse lhe dito que
seria num dia 15 de agosto.
“An Airport for Disgusting Flies” surge no momento certo. Ano
passado, o mundo foi tomado por manifestantes pedindo o fim da
calviciefobia, popularmente conhecida como carecofobia. Centenas de
milhares de homens e mulheres quebraram os centros históricos das
maiores cidades do mundo para fazer pressão pelo fim dessa que é
considerada por muitos historiadores A Última Injustiça do Mundo.
O filme conta a história de Saulo, um homem calvo que está andando
tranquilamente pela rua quando vê uma senhora e um senhor conversando na
esquina e apontando em sua direção. Apavorado e com a psique já em
frangalhos, ele espreme os olhinhos para, com muito esforço, ler os
lábios da mulher. Ela diz “Ali, perto daquele careca”. E a partir daí o
filme deixa de lado o drama individual de Saulo para falar do drama de
todas as pessoas portadoras de deficiência capilar.
Até o final, do qual não posso deixar de falar. A cena em que Saulo,
diante do espelho, se despede do último fio de cabelo em sua cabeça
lustrosa é, nas palavras do crítico Phu Takeuspa, uma “obra-prima
comparável à Estátua de Davi II, que substituiu a representação
heteronormativacisbranca do racista Michelangelo”.
“An Airport for Disgusting Flies” arrecadou inacreditáveis 6 mil
cestas-básicas em todo o mundo. Mas o sucesso comercial do filme não
intimida Karlo Amarhal, que diz que estuda uma continuação ainda mais
surpreendente. “Algo me diz que sobrou um cabelinho na nuca”, sugeriu
ele em entrevista recente. Será que estamos diante do surgimento de uma
franquia de sucesso que quebrará o recorde mundial do drama histórico
“Todxs”, com a 64ª continuação prevista para estrear mês que vem?
Enquanto o roteiro de “An Airport for Disgusting Flies 2” não fica
pronto, Karlo Amarhal trabalha na cinebiografia de sua maior (!) musa
inspiradora, Flaviana Karma. Intitulada “If Only I Could Close my Mouth
Shut”, a produção terá no papel principal a jovem atriz Enza di Enza,
que desde que nasceu vem se preparando para o papel comendo cinco Big
Macs por dia.
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BLOG ORLANDO TAMBOSI
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