Há uma coisa que não muda: o desfrute da máquina pública do País por interesses particulares. J. R. Guzzo, via Estadão:
O Brasil velho está mais vivo e forte do que nunca. Entra década e
sai década, entra governo e sai governo, entra Constituição e sai
Constituição, há uma coisa que não muda: o desfrute da máquina pública
do País por interesses particulares. Tente esquecer um pouco as
discussões sobre alta política que fazem parte do noticiário. O que
vale, por trás do falatório, é o que está dizendo o Diário Oficial da
União, na seção reservada às nomeações – é ali que vai se ver, no mundo
das coisas reais, a quantas anda o governo. O do presidente Jair Bolsonaro,
dado como a caminho do cemitério praticamente desde que tomou posse,
apresenta um boletim de saúde que diz outra coisa: pela distribuição de
cargos dourados na administração federal, o “acordo político” que estava
faltando parece que já não falta mais.
É o preço a pagar, no Brasil velho que não muda nunca, por esta coisa
que os entendidos em política chamam de “governabilidade” –ou seja, a
simples capacidade de se tomar alguma decisão que fique de pé e,
sobretudo, de se manter o presidente no cargo para o qual foi eleito
durante os quatro anos de seu mandado legal. Quer ficar vivo? Então
conserve o aparelho do Estado do tamanho em que está, ou se possível
maior ainda, e terceirize a sua exploração pelas gangues políticas
conhecidas como “partidos”. Em troca de cargos na constelação estatal,
elas formarão a sua “base de apoio” – e a sua vida de governante fica
automaticamente mais segura. Os negociantes são os mesmos do século
passado, ou até do outro.
Seu nome genérico do momento é “centrão”.
Demorou, mas a turma de sempre já começou a receber a sua parte:
“Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação”, “Secretaria de
Mobilidade Urbana”, “Departamento Nacional de Obras Contra a Seca”, etc.
Que raio seria esse Fundo? Não interessa. O que conta é que o orçamento
lá é de quase R$ 30 bilhões por ano; compram coisas como “kits
escolares”, etc. Deu para entender? Outra coisa: fica mais claro, agora,
porque todos os governos, não importa o que digam, têm horror a
diminuir o tamanho do Estado. Se for diminuído, diminuem os cargos a
serem traficados – e aí, como é que fica a “governabilidade”?
Talvez não exista um emblema mais revelador do Brasil velho, e da sua
capacidade de resistir a tudo, do que esse infame DNOCS. Ele foi criado
para “combater a seca” no Nordeste. É lógico que se tivesse feito o
trabalho pelo qual o contribuinte paga já não haveria mais seca, no
Nordeste ou em lugar nenhum. Mas esse negócio está aí desde 1909 (seu
nome de nascença era “IOCS”, depois “IFOCS, até virar DNOCS a partir de
1945) e a seca continua. Se em 111 anos não resolveu o problema, por que
iria resolver agora, com a direção do senador Ciro Nogueira? O destaque
principal de sua biografia é ter sido denunciado ao Supremo Tribunal Federal em fevereiro último pela Procuradoria-Geral da República, por corrupção e lavagem de dinheiro – coisa de Odebrecht e Lava Jato.
São nossas coisas, são coisas nossas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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