Pesquisadores temem que o corte proposto pela diretoria do IBGE
aos questionários do Censo Demográfico 2020 não só comprometa a
qualidade dos dados recolhidos como deixe no escuro prefeituras na
elaboração de políticas públicas. Após dois meses de discussões,
envoltas por críticas de técnicos e exoneração de diretores, o conselho
do IBGE aprovou, na semana passada, o formato com menos perguntas.
Realizado a cada dez anos, o Censo tem a missão de visitar todos os
lares do país para saber quantos são os brasileiros e como eles vivem.
Além de dados essenciais para estimar a população e suas características
(idade, sexo, raça), colhe também informações sobre educação, renda e
trabalho, entre outras. O IBGE realiza, nos intervalos decenais,
pesquisas sobre esses temas, com amostras populacionais menores. Mas o
Censo é hoje o único levantamento no Brasil que consegue informações
minuciosas. “Seria muito caro chegar a esse nível de desagregação, mas o
Censo tem um custo baixo pelo ganho de escala. Municípios esperam o
Censo para fazer o diagnóstico do que mudou nos últimos dez anos e
planejar o que fazer nos próximos”, diz Ricardo Ojima, presidente da
Abep (associação de estudos populacionais) e professor da UFRN. A
principal crítica dos pesquisadores está na mudança em perguntas sobre
renda no questionário básico, aquele adotado em todos os 71 milhões de
domicílios do país -o universo do Censo. Para essa base, não será mais
possível saber o rendimento de cada morador do lar, apenas o do
responsável pelo domicílio (uma pessoa indicada pelos entrevistados da
casa). Medir a renda per capita (por habitante) no universo, e não pelo
questionário da amostra -mais detalhado, mas aplicado a um grupo
selecionado-, é importante porque oferece uma representatividade
estatística para qualquer nível geográfico, afirma Rogério Barbosa,
pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da USP e visitante no
departamento de sociologia da Universidade de Columbia.
Folhapress
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