"Ativistas trans ficaram furiosos porque Bernardinho simplesmente
constatou algo que salta aos olhos de quem ainda consegue enxergar o
mundo sem a lente contaminada da política identitária: a despeito do
nome e dos órgãos sexuais novos, uma parcela de Tiffany, a física, a
atlética, será para sempre Rodrigo". Artigo de Paulo Polzonoff,
publicado pela Gazeta do Povo:
Era para ser tão-somente uma jogada de vôlei. Uma atleta recebe,
outra levanta e um terceiro ataca a bola em direção à quadra adversária.
Ao lado da quadra, o técnico da equipe reclama do ponto perdido e solta
um palavrão depois de fazer uma constatação óbvia: trata-se de um homem
jogando contra mulheres. Era para ser tão-somente um lance num jogo de
quartas-de-final da Superliga Feminina de vôlei. Mas se transformou num
maremoto identitário.
Tudo porque o jogador que finalizou o ataque se chama Tiffany. Ele é
um homem biológico de ombros largos, quadril estreito, braços e pernas
fortes e toda uma estrutura física moldada à base da testosterona que
correu em suas veias depois da puberdade e antes de ela se submeter a
uma cirurgia de mudança de sexo (ou ressignificação sexual, para os que
falam a novilíngua) e ao tratamento hormonal exigido pelo Comitê
Olímpico Internacional. Desde 2017, Tiffany defende o Sesi Bauru. Contra
equipes formadas por mulheres biológicas, ele é consistentemente o
maior pontuador e também o melhor jogador em quadra.
Ativistas trans ficaram furiosos porque Bernardinho simplesmente
constatou algo que salta aos olhos de quem ainda consegue enxergar o
mundo sem a lente contaminada da política identitária: a despeito do
nome e dos órgãos sexuais novos, uma parcela de Tiffany, a física, a
atlética, será para sempre Rodrigo.
Os ativistas recorreram às redes sociais, sempre elas, para atacar o
treinador, usando para isso os lugares-comuns argumentativos de sempre.
Ao usar a palavra “homem” para se referir a Tifanny, Bernardinho seria
transfóbico, homofóbico, o pior ser humano do Universo, alguém a ser
punido pela chibata invisível da opinião pública por não rezar pela
cartilha do gênero neutro.
Se o egrégio Supremo Tribunal Federal retomar o julgamento que
criminaliza o que um burocrata qualquer definirá como homofobia e
decidir mesmo igualar comentários como o de Bernardinho (“é um homem!”)
ao racismo, qualquer pessoa que ousar empregar o artigo masculino para
se referir a Tiffany (ou o feminino para se referir a Tammy Gretchen)
será não só alvo da rebelião dos trolls cheios de boas intenções, mas
também correrá o risco de pagar multa, indenização por dano moral e até
ser preso.
Sim, preso.
Pois que prendam Bernardinho, esse homem abjeto indignado com a
injustiça de ver suas esforçadas atletas tendo de competir
esportivamente contra um adversário em clara vantagem biológica!
E, para aproveitar a viagem do camburão, prendam também a tenista
Martina Navratilova, lésbica, que recentemente também foi excomungada
pela comunidade LGBT por ter afirmado num artigo que homens que se
identificam como trans e competem em esportes femininos são nada menos
do que trapaceiros. Prendam-na por ter cometido o terrível crime de
expressar sua opinião! Por ter causado um dano irreversível ao coração
fragilíssimo desses homens fortes e suas raquetadas violentas.
No embalo punitivista daqueles que pretendem reparar o que não requer
reparo, prendam também Jordan Peterson, o professor que se recusou a
usar o pronome neutro para se referir a seus "alunxs". Prendam o
atendente de uma loja de conveniências que aparece num vídeo viral
cometendo o delito grave, gravíssimo, imperdoável mesmo de se referir a
um homem de saias como “senhor”.
Temeroso diante da reação da milícia virtual, Bernardinho acabou se
desculpando. Disse que não queria ofender Tiffany, o que é evidente.
Ninguém – ninguém! –, nem mesmo o explosivo Bernardinho, quer que trans,
atletas ou não, sofram violência, sejam humilhados, ostracizados,
demonizados, excluídos do bom convívio, presos, torturados, etc.
Adiante, ele esclareceu que seu comentário (“é um homem!”) fazia
referência “ao gesto técnico e ao controle físico que ela tem, comum aos
jogadores do [vôlei] masculino e que a maior parte das jogadoras não
tem”.
O que deixa claro que Bernardinho não entendeu algo que os ministros
do Supremo parecem ter compreendido melhor: desculpas de nada servem se
na frase seguinte o “criminoso” insiste em reiterar a realidade e em
questionar a narrativa fantasiosa.
Trata-se, pois, de um crime com um sem-número de agravantes, sem
qualquer possibilidade de perdão. Às favas todos os escrúpulos de
consciência! Na tirania identitária, a única sentença aceitável é também
aquela que exclui qualquer possibilidade de arrependimento. Cortem as
cabeças, pois.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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