Bolsonaro está conseguindo não ganhar o jogo: permitiu que temas
destinados apenas a fazer barulho dominassem de verdade a pauta oficial.
Coluna dominical de Carlos Brickmann:
O jogo ia bem: dois projetos da mais alta importância, a lei de
combate ao crime e a reforma da Previdência, entregues ao Congresso logo
no início do Governo, uma definição clara de prioridades (primeiro a
Economia, logo depois a Segurança, manter tranquilo o que já funcionava,
o agronegócio), e fazer barulho com outros temas para distrair a
oposição. E que é que se poderia pedir de melhor do que uma oposição
dirigida por Gleisi Hoffmann?
Pois Bolsonaro está conseguindo não ganhar o jogo: permitiu que temas
destinados apenas a fazer barulho dominassem de verdade a pauta
oficial, passou a impressão de que um escritor residente nos Estados
Unidos manda em parte do Governo, e não conseguiu controlar as
iniciativas de seu filho Carlos, o 02, a quem chama carinhosamente de
“pitbull”. Ou, pior ainda, é conivente com os ataques via Twitter a
aliados de que necessita – alguns de seu próprio grupo, como o vice
Mourão; outros de fora, como Rodrigo Maia.
Bolsonaro não está em fase de boa sorte. Na disputa entre Supremo e
Lava Jato, foi atingido Moreira Franco – sogro de Rodrigo Maia. A tropa
virtual bolsonarista festejou, e Rodrigo Maia, já chateado com Moro, se
cansou. Não rompe com o Governo, nem desiste da reforma da Previdência,
mas coordenar a ação política oficial, de maneira a conseguir os votos
suficientes para aprová-la, isso não. E que governista poderá fazer a
coordenação? Onyx Lorenzoni? Eduardo, filho 03?
Melhor não: perder de muito é ruim demais.
Deixa…
Há muita gente de prestígio tentando convencer Rodrigo Maia a ficar
no barco, como Janaína Pascoal, uma das redatoras do pedido de
impeachment de Dilma, deputada estadual paulista com a maior votação de
um parlamentar na história do país. Paulo Guedes, o superministro da
Economia, trabalha nisso. E há quem tente convencer Bolsonaro de que o
papel de seus filhos não é constranger o Governo – posição da ala
militar, cujo porta-voz é o vice-presidente Mourão.
Aliás, Mourão já avisou Bolsonaro de que não tem mais paciência para as ofensas que Olavo de Carvalho lhe dirige. Cansou.
…disso
O integrante mais surpreendente da turma do deixa-disso é o senador
Flávio Bolsonaro, o filho 03. Pelo Twitter, disse: “O presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, é fundamental na articulação para aprovar a Nova
Previdência e projetos de combate ao crime. Assim como nós, está
engajado em fazer o Brasil dar certo!” No mesmo post, desagravou Rodrigo
Maia dos ataques de seu irmão Carlos e do ministro Sergio Moro, que
tinha deixado claro que em sua opinião o presidente da Câmara dava
prioridade à Previdência e deixava para sabe-se lá quando o projeto de
combate ao crime.
A paz militar
Pode ser que o presidente Bolsonaro tenha ouvido os conselhos do
grupo militar e dado comando de ordem unida ao filho 02 e aos
guerrilheiros de Internet. Afinal de contas, ou é isso ou não haverá
reforma da Previdência (nem o pacote da segurança de Moro). E, a
continuar assim, nem Governo.
Coincidência
A gravação da conversa de Michel Temer com Joesley Batista foi
divulgada poucos dias antes da votação da reforma da Previdência. A
prisão de Moreira Franco ocorreu no momento em que seu genro era o
principal articulador da aprovação da reforma da Previdência. A
discussão de Sérgio Moro com Rodrigo Maia, em que o ministro disse que o
povo não aguentava mais a insegurança (e recebeu dura resposta)
aconteceu na mesma ocasião.
O destino, ó destino cruel, parece conspirar contra a reforma da Previdência.
O show da vida
A prisão de Temer e Moreira Franco foi parte de um duelo entre
Operação Lava Jato e Supremo. O Supremo tomou decisões que reduziram a
margem de ação dos procuradores da Lava Jato (que deixaram clara sua
irritação), e esta poderia ser a primeira resposta – o que explica o
estardalhaço com que foram feitas, com paralisação do trânsito (e,
claro, imagens da TV).
Os bois gigantes
Por falar em prisões, sai nesta segunda, no Brasil e nos EUA, o livro
Traidores da Pátria, do jornalista Cláudio Tognolli. Na capa, a foto
dos irmãos Joesley e Wesley Batista – a conversa de Temer com Joesley,
que a usou em delação premiada, quase derrubou o então presidente. No
livro, documentada, a história do crescimento da JBS, com propinas para
muita gente, inclusive, diz a delação, Michel Temer. Para crescer, a JBS
se ligou ao Governo da época, do PT, e usou dinheiro de bancos
públicos. Os irmãos por pouco não se livraram de qualquer pena, como
prêmio pelas denúncias. Mas a delação tinha suas falhas, foi anulada, e o
Supremo pode prendê-los.
Um lançamento inusitado: dois bois gigantes de fibra de vidro
circularão por Brasília das 11h30 às 15h30, com DJ de música caipira e
locutor. O livro sai no Brasil com três mil exemplares e nos EUA, em
inglês, com dez mil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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