Coluna de Alexandre Garcia, agora publicada diariamente na Gazeta do Povo:
Esta quinta-feira (21) foi um dia muito ruim para os políticos, e um
dia muito bom para o futuro do país. Preso um ex-presidente 80 dias
depois de ter deixado a pompa e a circunstância da presidência da
República, do Palácio do Planalto. Ele está agora em uma sala da Polícia
Federal, no Rio de Janeiro. Tal como outro presidente que está em uma
sala especial nas dependências da Polícia Federal de Curitiba, cumprindo
pena e condenado duas vezes.
Temer ainda não foi condenado. Está cumprindo prisão preventiva
porque o juiz Marcelo Bretas, da Justiça Federal do Rio de Janeiro,
acredita que ele poderia destruir provas. Foi preso também o ex-ministro
e ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco. Aliás, o
Rio de Janeiro está com todos os ex-governadores presos: Sergio Cabral,
Pezão, Anthony Garotinho…
Tudo isso é muito significativo também no exterior, onde já devem ter
feito esta ligação: dois ex-presidentes da República são presos no
Brasil, e a justiça pode começar a ser levada a sério graças a essas
novas gerações de juízes, de integrantes do Ministério Público e de
delegados da Polícia Federal – embora haja tropeções do Supremo e do MP.
São novas gerações que estão cansadas, como nós todos, da corrupção que
foi institucionalizada no país nas últimas décadas.
Nesse pedido de prisão de Michel Temer, por exemplo, o Ministério
Público diz que nas últimas décadas ele comandou um grande esquema de
corrupção que teria negociado R$ 1,8 bilhão. É muito dinheiro!
O presidente Bolsonaro, que está no Chile, fez uma declaração dizendo
que essa é a consequência de quem faz acordos para a governabilidade, e
que ele não vai cair nessa. Se a gente olhar para outros
ex-presidentes, o Collor está respondendo processo na Lava Jato, um está
cumprindo pena e outro em prisão preventiva. Sobram Sarney, Fernando
Henrique e Dilma. Ela também deve estar preocupada porque foi no partido
dela em que houve o germe desta institucionalização da corrupção.
Mas os três grandes partidos estão envolvidos. O PSDB tem como réus:
Aécio Neves, ex-senador e agora deputado; o ex-governador de Minas
Eduardo Azeredo que está preso e cumprindo pena; o Paulo Preto, operador
do partido em São Paulo; e o ex-governador do Paraná Beto Richa. O MDB
tem presos: Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara, e agora o
Temer. O PT teve todos os tesoureiros, o Lula e outros dirigentes do
partido presos.
Esforços válidos
Esse é o Brasil de hoje e que nos encoraja para o futuro. Embora
estejamos tristes com o passado – inclusive o passado recente, de tanta
corrupção -, estamos agora esperançosos com os resultados desse esforço
da polícia, do Ministério Público e da justiça para ver se a gente zera a
corrupção nesse país. Vale a tentativa.
Vale também o esforço do ministro Sérgio Moro ao enviar o pacote
anticrime para o Congresso Nacional para evitar aquelas coisas que
sempre aconteceram: o sujeito que tinha dinheiro contratava bons
advogados e não ia preso nunca porque ia protelando, pedia recurso, o
tempo ia passando e o processo prescrevia. Agora não. O Eike Batista, o
Marcelo Odebrecht e outros grandes empresários cheios de dinheiro foram
condenados. Há esperança!
Ironia do destino
Por último, um registro de ironia: João de Deus que supostamente
curava pessoas em Abadiânia precisou recorrer à Justiça para sair da
prisão e se curar em um hospital.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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