Até hoje, este tipo de sobressalto vinha de comandantes uniformizados de
verde. Agora, a desordem veste saia preta. Artigo do escritor Deonísio
da Silva, via coluna do Augusto Nunes:
O Brasil é uma caixinha de surpresas. Tuitando na rede inquieto
vaga-lume verde, eis que seu voo é ameaçado pelo desentendimento entre
civis de ternos bem cortados e outros, de toga preta. Será questão de
uniforme?
Muitas vezes fomos governados por profissionais uniformizados, desde a
deposição do primeiro e único imperador brasileiro, o carioca Pedro II,
nascido no bairro de São Cristóvão, no Rio.
Mas, ao contrário de Pedro II, nossos presidentes não têm nem
garantem nenhuma estabilidade. A República segue a trancos e barrancos e
está na prisão o vice que se tornara presidente com a deposição da
presidente cuja chapa integrara. Está na prisão também o antecessor dos
dois. Ela aguarda a sua vez de depor ou de ser presa antes para isso,
como o foi seu vice na semana passada.
O Brasil agora é governado com trajes civis, mas tem um soldado na
presidência da República, um capitão de Exército cercado de generais,
recuperando os albores da nova ordem, uma vez que desde os primeiros
mandatos muitos militares têm passado pela presidência da República e
pelos ministérios.
Foi no governo de um deles que foi instalada a integração do Brasil
pelas comunicações, primeiramente por micro-ondas e depois por satélite,
antecipando a internet que ano passado levou o capitão Jair Bolsonaro à
Presidência da República.
O ministro das Comunicações a quem o general Emílio Garrastazu Médici
dera a missão de unificar o Brasil foi Hygino Corsetti, oficial de
Exército e descendente de italianos. Ele cumpriu a missão e em 1972, a
Festa da Uva, celebrada em Caixas do Sul, sua terra natal, inaugurava a
transmissão em cores na televisão brasileira.
Hoje, outro descendente de italianos, o presidente e seus ministros
mais solares podem vestir-se de civis, mas só disfarçam o uniforme. O
poder, não. Em qualquer democracia, quem garante o Direito é a Força. E a
Força está em quem pode garantir que seja cumprido o que foi
determinado pela Lei.
Não precisam dizer isso e quando o fazem dá-se um estrago na mídia,
mas foram eles que intervieram sempre que a lei precisou deles para
consertar a bagunça e impor a ordem para o progresso, o lema que criaram
ao garantir a República com os dois primeiros marechais, Deodoro e
Floriano, e depois com outros generais. Aliás, no Brasil, vice assume, e
o carma segue.
O que foi determinado nas ruas nas maciças movimentações populares
que destituíram aqueles e levaram esses ao poder de novo? A Reforma da
Previdência? O combate à corrupção? Bom, em primeiro lugar foi
determinado quem seria o Presidente!
Essas substituições vêm de longe. De batina preta, o pároco
substituiu o morubixaba, enfeitado de penas coloridas e altos penachos.
Logo o médico, que havia pouco tinha substituído o barbeiro,
substituiria também o pajé com outras feitiçarias. Foi assim que o
Brasil começou e foi assim que se formou.
Se os prezados leitores estão gostando da salada deste texto, notem
que os homens de saia estão lotando as prisões com presidiários civis.
Mas estão divididos. Uns querem prender, outros querem soltar. As
votações decisivas têm sido de 6 x 5 para um lado ou para outro na
Suprema Corte, como chamam o STF.
Soltar ou prender deveria ser normal quando determinado por homens de
saia. O problema é que, tal como os primeiros homens de saia, os atuais
acham que não podem ser criticados. O morubixaba deles, aliás, já pariu
o primeiro monstro, determinando que seja punido quem dele discordar.
Que é isso? Até hoje, este tipo de sobressalto vinha de comandantes uniformizados de verde. Agora, a desordem veste saia preta.
*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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