Sem combustíveis, o fim de semana deve ser de caos

Sem álcool e sem gasolina nos postos de combustíveis de Salvador e interior, o fim de semana dos baianos será no aconchego do lar

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Tribuna da Bahia, Salvador
26/05/2018 13:08 | Atualizado há 7 horas e 51 minutos

   

Foto: Reprodução

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Por Lício Ferreira
Sem álcool e sem gasolina nos postos de combustíveis de Salvador e interior, o fim de semana dos baianos será no aconchego do lar. Ninguém vai querer se aventurar em gastar o que não tem. Daí que, ficar em casa junto aos familiares e amigos, vendo TV, será a grande pedida.
A assessoria do Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniências do Estado (Sindicombustíveis) informou que nesta sexta-feira 95% dos postos de Salvador e RMS já estavam sem combustíveis desde o início da manhã. “E aqueles que estavam com alguma reserva nos seus depósitos, as filas eram quilométricas ao redor”.
Nas ruas vimos de perto a situação e confirmamos a informação. No posto Shell do Barbalho, que fica na parte superior da ladeira da Água Brusca, a fila dava volta inteira no quarteirão e chegava a congestionar a rua Emídio de Mesquita, onde fica localizado o Instituto IFBA (ex-Escola Técnica Federal). O congestionamento obrigou, inclusive, uma viatura da Transalvador a orientar o tráfego no local.
Justa
Após abastecer seu carro, João Felipe, 36 anos, comentou: “Esta é uma reivindicação justa e necessária dos caminhoneiros e mostra que a população está atenta e acordada contra as posições do governo”.  Fabiana Mendes, 32 anos, relatou que, desde ontem (última quinta-feira) estava à procura de combustíveis. E confessou: “Acho importante a greve para que o governo venha a  olhar um pouquinho mais pela gente”.
Ainda no bairro do Barbalho, ao lado do Instituto Central Isaías Alves (ICEIA), Paulo Guedes, 81 anos, dizia ter percorrido vários bairros da cidade para encher o tanque sem conseguir. “Parei aqui neste posto, pensando em encontrar combustíveis. Venho do Pau Miúdo passando pela Bonocô. Agora, eu vou pra casa para não gastar o restante da gasolina que ainda tenho”.
Outro cliente, que passava pelo posto para encher de ar o pneu do carro, comentou. “Dei muita sorte. Eu vinha de casa no subúrbio e, á altura do bairro do Lobato, encontrei um posto livre e pude abastecer meu veiculo. Paguei R$4,57 pelo litro da gasolina. Mas sei que muitos estão se aproveitando da situação para abusar nos preços “. 
Punição
A partir de denúncias dos proprietários de veículos, os órgãos de defesa do consumidor Procon e Prodecom estão nas ruas fiscalizando e punindo alguns estabelecimentos. O superintendente do Procon, Filipe Vieira disse que “aqueles que tentarem se aproveitar desta situação de desespero dos clientes sofrerão punição”. E anunciou: “A sanção pode variar entre R$600 reais a R$ 6 mil”.
Filipe Vieira esclarece ainda que: “O aumento de preços dos combustíveis, por si só, não se constitui um abuso, em razão da própria complexidade da formação dos preços dos produtos. Mas, isto não dá margem a mudanças bruscas para tirar vantagens do consumidor”.
Desde o inicio da greve o presidente do Sindicombustíveis-Bahia, Walter Tannus  vem reafirmando: “O apelo que faço é que não suba o preço. Não é hora de aproveitar e tirar proveito. O dono de posto é livre, mas não é hora de fazer isso”.
E acrescenta: "A tendência é de agravamento da crise. Os postos continuam sem receber produto. O produto continua sem chegar. Pedimos também aos empresários para não vender toda a reserva para que os veículos de emergência como ambulâncias e viaturas da polícia, possam abastecer".
Redução
Diante da falta de abastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) decidiu adiantar a redução da frota de ônibus para esta sexta-feira (25). Cerca de 20% dos veículos da Integra Salvador não saíram das garagens.
"A demanda pelo transporte está menor, então nós reduzimos o número de veículos, mas pode ser que mude, não dá pra ficar definindo um número", ressalta Fábio Mota, secretário da pasta. Até última quinta-feira, o plano da pasta era reduzir a frota apenas a partir deste sábado. Mas como perceberam uma menor procura pelo transporte nesta sexta, adiantaram a redução para manter os veículos circulando pelo maior tempo possível.
Por enquanto, a expectativa da Semob é de que os ônibus consigam operar até a próxima terça-feira (29) sem reabastecimento. "Se a demanda de passageiros continuar caindo, a gente vai aumentando a redução. A frota de 50% no fim de semana também pode ser menor, caso o número de pessoas em busca do transporte público diminua”, garante.
Notificação
A Transalvador, por sua vez, informa que os agentes de trânsito estão orientados a não notificarem veículos imobilizados em via pública por falta de combustível, enquanto durar a crise no abastecimento da cidade. A infração conhecida por pane seca é de natureza média e tem previsão no artigo 180 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa de R$ 130,16 reais.
O superintendente Fabrizzio Müller alerta ainda que o CTB estabelece, no artigo 26, que antes de colocar o veículo em circulação nas vias públicas, "o condutor deverá assegurar-se da existência de combustível suficiente para chegar ao local de destino". "Mas, em virtude dos problemas ocasionado pelo movimento dos caminhoneiros, é de bom senso flexibilizar", disse.
Continuação
A paralisação dos caminhoneiros contra a alta do diesel ainda continua em, pelo menos, 20 estados do país.Iniciada na última segunda-feira (21), a greve é contra o aumento sucessivo dos combustíveis. Apesar de um acordo de pausa, firmado entre algumas lideranças e o governo federal, motoristas seguem fechando rodovias federais e estaduais em todo o Brasil.
O produto diesel sofreu 11 reajustes em 17 dias. Como o preço do petróleo subiu, a Petrobras repassou as flutuações nas cotações internacionais às refinarias.  O governo tinha aceitado 12 propostas exigidas pela categoria, mas se negou a acatar a principal reivindicação: a isenção do PIS/Cofins sobre o óleo diesel. 
No posto Sete Portas, de bandeira independente, o gerente Welington Carvalho, 44 anos, estava desolado com a situação. “Fiz o pedido de abastecimento há dois dias e não tenho previsão de receber dia nenhum. Estou sem gasolina e sem álcool desde a noite de ontem (quinta) e terei que aguardar o final do movimento“, finaliza.