Em sua coluna publicada pelo site da Veja, Vilma Gryzinski
pergunta "em que ponto estamos dos sete pilares malditos da
Venezuela?". A semelhança, de fato, é assustadora - graças à herança
lulopetista:
Prestem atenção nos
sete pontos levantados pela organização InSight Crime para explicar como
a Venezuela, primeiro sob Hugo Chávez e depois sob o desmando alucinado
de Nicolás Maduro, se transformou num estado mafioso.
As semelhanças com o
Brasil são assustadoras. Nós escapamos de chegar lá ou ainda podemos
alcançar o nível de deterioração em que cidadãos comuns simplesmente
morrem de fome, doenças ou tiros inteiramente produzidos pelo regime?
Cada leitor tem capacidade de tirar suas conclusões. Os sete pilares da maldição são os seguintes:
1. Infiltração do crime nas mais altas instâncias do estado
A InSight Crime
levantou os nomes de 123 funcionários das esferas superiores da máquina
do governo. Incluem-se na lista a vice-presidência; os ministérios do
Interior, Defesa, Agricultura, Educação, Serviço Penitenciário, Comércio
Exterior, Energia, Elétrica, Guarda Nacional, Forças Armadas, Serviço
de Inteligência e PdVSA, a estatal petrolífera.
As atividades
criminosas são, majoritariamente, tráfico de combustível e de cocaína, e
venda de alimentos e remédios no mercado negro.
O tráfico de drogas é
institucionalizado e dividido em áreas sob o controle de militares e
civis. O nome Cartel de los Soles não designa um cartel ou grupo
dominante do tráfico como na Colômbia ou no México.
O sol se refere à
estrela dourada usada pelos generais da Guarda Nacional Bolivariana, mas
a expressão é usada para designar todos os funcionários do aparato
estatal envolvidos com o tráfico.
Parece uma estrela de xerife americano. Maduro usa uma quando se fantasia de comandante.
2. Evidências de cleptocracia
A palavra “evidência”
é uma forma elegante de designar o estado de desgraça nacional que a
rapinagem organizada produziu no país com as maiores reservas mundiais
de petróleo fora do Oriente Médio.
Tal como a
hiperinflação, de 18 000%, é difícil calcular exatamente o montante do
“grande saque do século XXI”, na definição do colunista Nelson
Bocaranda, uma brincadeira amarga com o socialismo pregado por Chávez e
correlatos.
“Os cofres nacionais
foram pilhados em escala industrial pela elite bolivariana”, define a
InSight, mencionando um cálculo de 300 bilhões de dólares, evidentemente
impossível de ser confirmado pois os ladrões são os mesmos donos dos
dados oficiais.
O controle de preços e
da taxa de câmbio no comércio exterior, esta eliminada em janeiro
quando a “moeda” oficial já valia 23 500 menos vezes que o dólar no
paralelo, foram os principais instrumentos desse assalto coletivo.
3. Transferência do poder do estado para agentes irregulares ou ilegais
Em outras palavras, o
inferno descontrolado que o regime cubano criou na Venezuela – embora
em seu próprio país tudo seja altamente regulado.
Com a criação dos
“coletivos”, os grupos comunitários armados que no Brasil seriam
chamados ironicamente de movimentos sociais, as Forças Armadas e de
segurança perderam o monopólio do uso da força como fieis depositários
de um instrumento concedido pela sociedade.
Depois de devidamente
cubanizadas e incorporadas ao esquema “roubolucionário” em ampla
escala, as Forças Armadas venezuelanas viraram um braço do regime.
Mas os coletivos
permanecem. Divididos entre bairros da periferia, principalmente de
Caracas, recebem armas e licença para usar a violência. Seus integrantes
cobrem o rosto quando mobilizados para atacar oposicionistas ou
controlar postos de votação e usam motocicletas.
São uma espécie de motoboys do mal. O mesmo sistema foi “exportado” para a Nicarágua.
Os queimadores de
pneus, plantações e edifícios ocupados do Brasil nunca chegaram nem
perto do nível de nocividade de seus modelos venezuelanos, mas a próxima
categoria é catastroficamente conhecida entre nós: bandidos que
controlam o sistema penitenciário, exercem atividades criminosas dentro e
fora das cadeias e operam em coordenação com as “autoridades”.
Na Venezuela, são
chamados de “pranes”. O acordo de cooperação surgiu depois de uma
rebelião em que os mediadores, pela parte do governo, foram um pastor
evangélico e um integrante do coletivo Las Piedritas.
O acordo com os
“criminosos revolucionários” entrou em vigor em 2011, quando a deputada
Iris Varela, conhecida como Comandante Fosforito, foi nomeada ministra
do Serviço Penitenciário. Uma de suas qualificações aparentemente foi
ser amante do mais alto escalão.
A partir daí,
evidentemente, a coisa só degringolou. Como os bandidos, de novo, também
são donos dos dados, só dá para ter uma ideia com cálculos não
oficiais: 92 homicídios por 100 mil habitantes (no Brasil, 42).
4. Crescimento exponencial do crime organizado
O equivalente venezuelano dos grupos chamados de “comandos” no Brasil são as “megabandas”.
O crime em larga
escala foi incentivado pelos motivos acima descritos, inclusive a
corrupção institucionalizada. Mas seu fundamento ideológico bebe da
mesma distorção do pensamento esquerdista segundo o qual a pobreza
justifica e até enobrece a criminalidade.
Falsas políticas
sociais criaram zonas de criminalidade livre, orwellianamente chamadas
de “zonas de pacificação”. A polícia não entrava em determinadas áreas,
na prática transferidas para o controle de grupos de criminosos comuns.
O pioneiro dessa
“política” foi José Vicente Rangel Ávalos, prefeito de Sucre, na Grande
Caracas, segundo o levantamento da InSight Crime.
Membro da elite
bolivariana, filho de um ex-vice-presidente de Chávez, está na lista de
19 figurões do governo feita pelo Canadá, acusando-os de “graves
violações dos direitos humanos” e corrupção. Atenção, Canadá, um dos
países mais meticulosos do mundo em matéria de relações exteriores.
A retirada das forças
de segurança de determinadas áreas é pregada por um conhecido campo
político no Brasil. Um de seus mais frequentes argumentos é a falácia
chamada de “genocídio do povo negro”, como se existissem batalhões de
brancos matando pessoas com base na cor da pele.
Oficialmente, a política das “zonas de paz” na Venezuela foi cancelada. Todas continuam a ser, evidentemente, zonas de guerra.
5. Altos níveis de violência praticados por agentes estatais e não-estatais
De tão conhecido pelos brasileiros, este item praticamente dispensa explicações.
Numa de suas inúmeras
farsas, Maduro lançou um programa de “operações de libertação do povo”,
uma espécie de operação fantasia para combater o crime. Nem é preciso
dizer o que aconteceu.
6. Exportação da criminalidade
Ao condenar à fome ou
ao exílio seu próprio povo, o regime bolivariano criou legiões de
pequenos contrabandistas de gasolina, mulas do tráfico de cocaína e
envolvidos nas várias pontas da exploração sexual amplificada pela
situação de necessidade.
Atualmente, cerca de
cinco mil venezuelanos fogem do país por dia. Nesse ritmo, o número pode
chegar a 1,8 milhão este ano – 5% da população do país.
As sucessivas ondas
de refugiados dos milagres do socialismo do século XXI começaram com os
empresários. Os que não quisessem ou conseguissem ser cooptados pelo
companheiro Chávez foram simplesmente confiscados.
Depois foram os
profissionais de alta qualificação, principalmente da indústria do
petróleo. As classes médias com algum recurso vieram em seguida. As
massas de desvalidos da hiperinflação, esfaimados mesmo com as
bolsas-tudo, formam as atuais correntes humanas.
Alguns observadores
acreditam que diversas camadas de bolivarianismo de raiz também já estão
no mesmo caminho. Com ou sem reeleição, esta uma possibilidade
inexistente, percebem que o madurismo é insustentável.
As figuras mais
conhecidas estão na lista negra dos países onde historicamente os
ladravazes latino-americanos procuravam estacionar o estilo de vida
proporcionado por atividades ilegais, em especial a república de Miami.
Para onde irão? Onde encontrarão aliados no crime?
7. Acusações internacionais de amplo espectro de atividades criminosas
O último item da
lista da InSight Crime parece quase uma formalidade. Mas reativa a
urgência da questão do ponto de vista do Brasil.
De novo, onde irão se refugiar os bandidos de uma vizinhança na lonjura da selva amazônica?
Em todos os aspectos, o desastre produzido pelo chavismo na Venezuela epitomiza a desgraças latino-americanas.
Num amplo arco que
vai da formação histórica de populações sem sentido de cidadania,
propensas ao caudilhismo e seu companheiro de viagem, o clientelismo,
até uma classe de intelectuais servis às mais delirantes teses
neomarxistas, como se o original não fosse suficientemente ruim, a
Venezuela bolivariana é o que nós poderíamos ser ou corremos o risco de
nos transformar.
É possível também
defender uma ideia oposta. Se Hugo Chávez tivesse sido acusado,
investigado, julgado e condenado pelo regime intrinsecamente corrupto
que criou, a catástrofe venezuelana teria sido em escala muito menor.
Mas isso nunca poderemos saber. A história real da América Latina é muito mais delirante do que a contrafactual.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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