O governo está nas mãos dos caminhoneiros, sem capacidade de reação. Temer está sem rumo, escreve Merval Pereira no jornal O Globo:
O governo piscou ao,
pela boca do próprio presidente Michel Temer, pedir “uma trégua” aos
grevistas. E a Petrobras piscou também ao aceitar reduzir em 10% o preço
do diesel e congelá-lo por 15 dias. As greves de caminhoneiros são
freqüentes num país que depende de sua malha rodoviária, cada vez em
situação mais precária, para o abastecimento das cidades.
Mas, mesmo as que
demoraram mais tempo, não provocaram tantos estragos quanto a atual. O
governo está nas mãos dos caminhoneiros, sem capacidade de reação. Não é
razoável imaginar que não tivesse informações sobre a movimentação dos
grevistas, o mais provável é que tenha menosprezado a capacidade de
mobilização da classe. Esquecendo-se de que em diversos governos,
anteriores, como o de JK, e mais recentemente, desde Fernando Henrique,
passando por Lula e Dilma, houve paralisações como essas, em menor
escala graças à ação firme e a capacidade de negociação dos governos
naqueles momentos.
"O governo tomou a
decisão de manter a livre circulação das estradas e, se preciso, com o
uso da força militar", dizia comunicado divulgado do Palácio do Planalto
na greve de 1999. Bastaram três dias da paralisação para a greve
terminar. Mas os grevistas tiveram ganhos expressivos: congelamento do
preço do diesel e das tarifas de pedágio e desativação das balanças que
multavam quem estivesse acima do limite de carga.
Ninguém faz um
movimento desses, de caráter nacional, sem que lideranças do movimento
grevista se reúnam e mantenham contatos entre si. Além do mais o governo
perdeu o controle do Congresso, o episódio da aprovação do fim do
PIS/Confins não é trágico, apenas é risível, porque dá para consertar no
Senado, mas o presidente da Câmara, o pré-candidato à presidência
Rodrigo Maia, na ânsia de distanciar-se do governo e agradar aos
grevistas, cometeu alegadamente um erro de cálculo de nada menos que R$ 9
bilhões.
O senador Eunício de
Oliveira, presidente do Senado, teve que voltar às pressas de Fortaleza
para apagar esse incêndio, mas a decisão de se ausentar de Brasília num
momento como esse dá bem a mostra de como as principais lideranças
políticas do país estão desconectadas da realidade.
Uma prova também de
que o governo Temer perdeu o poder de negociação, que gastou para se
livrar das duas tentativas da Procuradoria-Geral da República de
processá-lo. Na reta final da eleição, um governo impopular, cuja
economia não respondeu às expectativas, tende a ver uma debandada de
seguidores, especialmente daqueles que se candidatarão em outubro. Cada
vez mais se assemelha ao final do governo Sarney em 1989, quando ser da
oposição era um trunfo.
Como em outras greves
do tipo, os caminhoneiros também têm reivindicações políticas. Mas
desta vez se superaram. A União Nacional dos Transportadores Rodoviários
e Autônomos de Carga colocou como primeira reivindicação “cumprimento
integral da lei do voto impresso em urnas eletrônicas ou adoção do voto
impresso em urnas de lona, com apuração a cargo das Forças Armadas”. E
arremataram pateticamente: “em caso de descumprimento, nos somaremos ao
clamor popular por intervenção militar”.
Na verdade, o clamor
popular será atendido quando as Forças Armadas forem utilizadas não para
apurar votos, mas para desbloquear as estradas do país e permitir não
apenas o direito de ir e vir dos cidadãos, mas garantir o abastecimento
das cidades, que já estão sofrendo com quatro dias de paralisações.
Nem mesmo o
pré-candidato Jair Bolsonaro apoiou a reivindicação, que parecia cair
como uma luva para sua campanha. Disse que apoiava a greve, mas não o
bloqueio das estradas. E calou-se sobre a intervenção militar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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