"Engana-se quem pensa que essa greve traz à população algo que não seja caos. Ela é pelo Diesel e não reduzirá nem o frete".
Essa frase, que
postei dia 26/05 nas minhas páginas do Facebook, suscitou inúmeros
comentários. A maioria expressando desagrado. Era previsível porque
pesquisa feita pelo Instituto Methodus informava, na véspera, que 86% da
população apoiava a greve. No entanto, não tenho o hábito de auscultar a
opinião pública para decidir o que devo escrever ou falar. Se fosse
fazê-lo, não teria escrito ou dito coisa alguma quando poucos, muito
poucos, combatíamos as ideias de esquerda e o petismo na segunda metade
dos anos 80.
Estou convencido,
pela simples aplicação da razão aos fatos, de que é preciso distinguir
as motivações. Uma coisa é a greve dos caminhoneiros, com apoio dos
transportadores e produtores rurais interessados em reduzir o preço do
diesel. Atendida essa reivindicação e isentos do pagamento de pedágio
quando vazios, não fica um caminhão no acostamento. Ou alguém acredita
que seus condutores continuarão parados até que o país tome jeito, que o
Estado encolha, que os impostos diminuam, que a segurança aumente, que
as estradas melhorem?
Outra coisa, então,
são as pautas nacionais, sobre as quais muito tenho escrito e das quais
poucos se têm ocupado. Quanto mais terrível for a situação no dia 7 de
outubro, quanto maior o caos, mais receptiva estará a massa de eleitores
a quem lhe oferecer, em 7 de outubro, o conhecido prato feito de
mentira, populismo, corporativismo, estatismo e, claro, subsídios
públicos. Não vislumbro a menor chance de que em tal situação a maioria
do eleitorado decida optar por uma política econômica liberal. Ao
contrário, ela se inclinará para o lado de quem lhe oferecer doses mais
robustas do mesmo veneno através da mão falsamente dadivosa do Estado.
Sou contra o plantio do caos.
Comece a falar em
privatização e fim do monopólio e veja o que acontece. Quais as demandas
da greve da Federação Única dos Petroleiros (FUP) programada para
quarta feira? Demissão do presidente da Petrobras, retirada das Forças
Armadas das refinarias onde garantem o abastecimento dos caminhões,
manutenção dos empregos, “não às privatizações” e ao “desmonte da
Petrobras”. Ah! Enquanto a empresa era vampirizada pelo governo petista
que a transformou em objeto de escândalo e escárnio mundial, a turma da
FUP, agora grevista, posava para fotos ao lado de Lula e Dilma. Agora,
faz greve e se une aos caminhoneiros... “para o bem do Brasil”. Deve
haver apoiador do caos aplaudindo a greve desses hipócritas porque,
afinal, ela ajuda o caos, certo?
A pluralidade de
expectativas em relação aos caminhoneiros é uma evidência de que ela
está sendo vista como uma espécie de Bombril com usos contraditórios.
Ora é uma porta aberta para a “intervenção militar constitucional”, ora
uma oportunidade para o "Fora Temer", ora uma chance de criar clima para
a volta da esquerda ao poder, ora uma oportunidade de acabar com os
males do estatismo e ora uma oportunidade de buscar soluções junto ao
Estado, ora servirá para acabar com o monopólio do petróleo e ora
servirá para preservar definitivamente o monopólio. Entendam-se, porque
eu não entendo.
Ponderação final: se
você está convencido que a greve é boa para o país, que o “Fora Temer”
petista que vi em caminhões, vindo ontem de Santa Maria, é uma boa
pauta, que o agravamento do caos institucional fará o que até agora não
foi feito, responda para você mesmo, a quatro meses de eleições gerais,
qual o grupo político que colherá maior vantagem dele com vista aos
próximos quatro anos de poder no país?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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