Coluna de Percival Puggina, publicada em seu blog:
Lembrei-me, há pouco,
do tsunami que atingiu a economia mundial na crise causada pelo
descontrole na emissão de créditos imobiliários no governo Bush. Com o
pedido de falência do banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, a
palavra subprime explodiu nas manchetes e telas de TV. No dia seguinte,
a água bateu no queixo da maior seguradora norte-americana, a AIG, e já
não se falava noutra coisa... O sistema financeiro estava desabando em
cascata. A economia capitalista mergulhava e era incerto se havia
oxigênio suficiente nos pulmões.
Enquanto, no mundo
inteiro, os governos apertaram o cinto preparando-se para as incertezas
da travessia, aqui no Brasil, lembro bem, houve duas reações simultâneas
e diferentes. A mais conhecida foi a de Lula, então no seu segundo
mandato, período em que começou a se ver como uma divindade. Quando
advertido para o que estava acontecendo e sobre a inconveniência de
assumir compromissos onerosos como a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos
de 2016, Lula desprezou a crise dizendo que, no Brasil, o tsunami era
simples marolinha. Seguiram-se anos de multibilionária transferência de
recursos para os companheiros do setor público e do setor privado
nacional, para a turma do Foro de São Paulo e para parceiros ideológicos
africanos. Marolinhas não intimidavam Lula.
Essa foi a mais
trágica das reações brasileiras à crise da economia mundial em 2008 e
nos anos seguintes. A outra, jocosa, é a que trago à reflexão dos
leitores. Naquelas noites, em meados de setembro de 2008, havia muito
mais rolhas de espumante no lixo de Porto Alegre e, presumo, em todo o
país. Festejava-se a ressurreição do camarada Marx. Enfim o trem da
história chegara à estação onde o velho alemão, determinado e confiante,
esperava por ele. Cumpriam-se os fados e a História se curvava às
previsões do profeta.
Talvez menos por Marx
e mais pelo fim de capitalismo, abriam-se garrafas como quem liberta o
pensamento para os vapores da utopia. A imaginação conduzia a delírios
de prazer com a antevisão de bancos quebrando, empresas fechando portas,
filas quase soviéticas às portas das padarias, pedintes nas ruas e
multidões no seguro desemprego e no bolsa família. Seria a afirmação do
papel do Estado como grande pastor do povo, na uniformidade obediente da
miséria. Justiça e igualdade servidas em fumegantes conchas no grande
sopão do socialismo. O maldito capitalismo, enfim, estertorava.
Estou jogando
palavras, de fato. No entanto, elas caem sobre realidades que vi há
quase dez anos e a elas se moldam. Com vocábulos piores, era isso que
muitos diziam, naqueles dias difíceis, sobre o que estava em curso nos
centros vitais do organismo capitalista, os infernos liberais dos
Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Dez anos depois, o trem passou e
a história seguiu seu curso no mundo livre. O petismo produziu no
Brasil seu próprio tsunami financeiro e moral. A Venezuela é a mais
recente experiência fracassada de comunismo e as economias capitalistas
prosperam como há muito não acontecia. Quem tiver condições avise o Marx
que ele perdeu o trem.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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