Vilma Gryzinski
comenta a ridícula lei aprovada pela Assembleia Legislativa de São
Paulo estabelecendo a segunda-feira sem carne. É um ato desferido contra
a liberdade de escolha individual, uma violência contra os cidadãos
gerada por mentes doentias e totalitárias:
São Francisco de
Assis que proteja o deputado Feliciano Filho e suas boas e necessárias
ações em defesa dos animais domésticos, silvestres e de criação. E que a
justiça não lhe falte em imparcialidade no processo por maus tratos num
abrigo de cachorros da Ong que criou.
“As fotos e as
descrições da situação encontrada impressionam até os que não são
especialmente sensíveis à causa, pelo grau de crueldade que estava sendo
praticado”, dizia a ação aberta pelo Ministério Público em 2014 sobre o
estado dos 40 cães lá encontrados.
E que o espírito
Margaret Thatcher – já que a Igreja Anglicana não faz mais santos e, se
pudesse, mandaria a czarina do liberalismo para o inferno – nos proteja
de cretinices como o projeto de lei de autoria de Sua Excelência,
aprovado pela eminentíssima Assembleia Legislativa de São Paulo, sempre
tão preocupada com os interesses da população.
O projeto institui, como as excelências gostam de dizer, a Segunda sem Carne,
pregada pela militância vegetariana em todo o mundo como o primeiro
passo para convencer os atrasados comedores de proteína animal a
reconhecer os seus pecados e se converter à causa.
Como, ainda, não
conseguem obrigar a população in totum a passar as segundas com arroz,
feijão e verdura, sem mistura, – e, francamente, nem gostariam de
desagradar a cadeia da carne, cadeia no sentido figurado, fora para os
figurões do ramo atualmente recolhidos ao sistema prisional -, o projeto
de lei vale para refeitórios, restaurantes e lanchonetes de escolas
estaduais e órgãos públicos.
Todos os envolvidos
têm que fixar “um cardápio alternativo sem carne e seus derivados”, sob
pena de multa de 300 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, um
abantesma do burocratês hoje equivalente a 7 521 reais.
Se sancionada, a lei
evidentemente não vai pegar, embora nunca possamos subestimar a
capacidade do estado de criar insanidades par ao infeliz cidadão comum
resolver.
O mais provável é que
as crianças recebam menos proteínas e que as diretoras de boas escolas –
existem, sim, e oferecem uma respeitável alimentação a seus alunos –
sejam as únicas a ter uma preocupação desnecessária em sua longa lista
de exigências burocráticas.
Como foi feito para
não pegar, o projeto do deputado Feliciano – por infelicidade, menos
conhecido que seu homônimo – é o tipo de inanidade que jornalistas bem
intencionados e políticos com as intenções de sempre elogiam em
uníssono.
Ainda bem que
Margaret Thatcher continua espiritualmente presente para nos avisar:
“Para mim , o consenso parece ser o processo de abandono de todos os
princípios, valores e convicções políticas. Portanto, é algo em que
ninguém acredita e a que ninguém objeta.”
Mrs. Thatcher, como o
povão a chamava (sindicalistas, esquerdistas e elitistas em geral
preferiam a palavra bruxa, para ficar na mais publicável), acreditava em
convicções. E em brigas, debates, eleições, até em guerra, como
descobriram os generais argentinos que imaginaram lhe passar a perna.
Qualquer coisa que
envolvesse a energia do confronto de ideias e não a letargia do consenso
sem preço a pagar. Que outra pessoa na posição de líder de uma potência
nuclear teria coragem de dizer que “um mundo sem armas nucleares seria
menos estável e mais perigoso para todos nós”?
Antes de chegar aos
dez anos gloriosos, pela força de suas ideias, mesmo para quem não
concordasse com todas elas, Thatcher teve seu próprio embate na esfera
da alimentação escolar.
Como secretária da
Educação durante o governo do primeiro-ministro Edward Heath, que
postumamente vive recaindo em investigações sobre pederastia, ela acabou
levando a culpa pelo corte do leite para crianças acima de sete anos
das escolas públicas.
Em inglês, o caso
rendeu uma rima que os inimigos políticos nunca a deixaram esquecer:
“Thatcher, Thatcher, milk-snatcher”. A ladra de leite.
Quase 20 anos depois,
já como primeira-ministra, rejeitou o corte do leite para todas as
crianças em nome do equilíbrio das contas – um princípio sagrado para
ela, mas não para fazer uma economia banal. “Qualquer coisa que
economize 400 milhões de libras, vou levar em consideração. Mas não
quatro milhões”, anotou à margem da proposta.
Michelle Obama também
descobriu, à sua maneira, que querer obrigar os estudantes a comer o
que é certo também pode dar errado. Seu projeto de alimentação saudável
nas escolas redundou em milhões e milhões de refeições jogadas no lixo.
Donald Trump o sepultou de vez.
Isso não significa
que as escolas americanas possam dar porcarias para os estudantes comer –
embora o conceito de porcaria seja bem elástico nos Estados Unidos.
Mas legislar sobre comida pode criar uma intrusão na segunda parte mais sensível do ser humano, depois do bolso: o estômago.
Proteger os animais,
inclusive os criados e abatidos para consumo humano, muitas vezes em
condições medonhas, é um requisito ético elementar. Distinguir entre os
políticos que defendem boas causas e os que as usam em causa própria é
obrigação dos eleitores que não querem ser lubridiados.
Esperemos que o deputado Feliciano Filho, e todos os seus excelentíssimos colegas, sejam da primeira categoria.
E que Margaret
Thatcher esteja sempre rondando para nos lembrar:”Alguns socialistas
parecem acreditar que as pessoas deveriam ser números num computador do
estado. Nós acreditamos que deveriam ser indivíduos. Somos todos
desiguais. Ninguém, graças aos céus, é igual ao outro, por mais que os
socialistas queiram que sejam. Nós acreditamos que cada um tem o direito
de ser desigual, mas que todo ser humano é igualmente importante.”
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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