Todo ser humano guarda um mecanismo de defesa de suas convicções e
crenças, sejam elas de que natureza for, religiosa, política,
familiar...Esses mecanismos têm como objetivo proteger o emocional, a
fim de que não se desmorone diante de frustrações, expectativas
negativas, angústias de tudo que possa vir do mundo exterior e que tenha
poder, de alguma forma, destrutivo daquilo que cremos. Há uma
necessidade humana interior de aplacar, de não aceitar tudo aquilo que
ameace a integridade dessas crenças. Freud estudou com devoção esses
aspectos humanos: mecanismos de defesa do eu.
Nesses dias de divisionismo político em nosso País, temos visto as
pessoas passionalmente, por todos os lados, se lançando a essa técnica,
sem se darem conta do que fazem. Acredito que tenha sido isto que
ocorreu, quando o juiz Sérgio Moro, em audiência pública, na Câmara
Federal, na última quinta-feira (30), com objetivo de falar a respeito
do Código de Processo Penal foi confrontado, segundo a Folha de S.
Paulo, por José Geraldo, da Bahia, que acusou o magistrado de abuso de
autoridade: “Ninguém cometeu mais abusos do que você”, afirmou o
parlamentar, que teve a palavra cortada por Danilo Forte, do PSDB do
Ceará. Wadih Damous, do Rio de Janeiro, criticou o que considera
excessos da Operação Lava Jato: “Em função do que acontece no Paraná,
não sei se estou ensinando corretamente aos meus alunos de Direito.
O que se percebe hoje é um laboratório punitivista, em que os
fundamentos do Estado democrático de Direito estão sendo pulverizados.”.
Ao que, ainda segundo a mesma fonte, o juiz verbalizou: “Não cabe
responder casos concretos, casos pendentes, não cabe a mim responder,
não vim aqui para isso. Vim para responder sobre o Código de Processo
Penal. Ainda assim minhas decisões estão sujeitas a diversos controles
jurisdicionais. E os tribunais em geral têm mantido as minhas decisões,
majoritariamente. Não cabe aqui ficar explicando a alguns parlamentares
que fizeram perguntas ofensivas”.
Um dos mecanismos de proteção do nosso eu, sabe o povo, quando afirma
que a melhor defesa é o ataque. Ora, ora, também sabemos que a vaidade
faz parte de todo processo humano, certamente o juiz guarda a sua, mas
não se pode ignorar que é fato o que ele disse: a sua decisão não é
sacralizada como única, mas sim revisada em instâncias superiores.
Ademais, se tem colocado única e exclusivamente nas mãos dele todo um
suposto poder da Lava Jato, mas ele é a ponta de um sistema, que passou
pela Polícia Federal, em investigação, pelo Ministério Público em
denúncia e por fim à Justiça. Talvez estejamos, em qualquer situação,
procurando evitar o que vem em confronto com as nossas crenças,
desejos.
* José Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.
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