Por
incrível que pareça, a população brasileira quer menos Estado e valoriza
a meritocracia e o mercado. Em poucas palavras, está mais próxima da
doutrina liberal que da ideologia retrógrada do lulopetismo. Editorial
do Estadão, comentando pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo:
A
derrota sofrida pelo PT na eleição municipal de São Paulo foi tão
acachapante que o partido resolveu tentar descobrir, com método
científico, as razões desse desastre, que foi especialmente doloroso na
periferia da capital, antigo reduto petista. Para isso, a Fundação
Perseu Abramo, ligada ao PT, foi aos bairros mais pobres da cidade para
entrevistar os eleitores que, embora tivessem votado no partido entre
2002 e 2012, se negaram a votar em Dilma Rousseff para a Presidência em
2014 e em Fernando Haddad para a Prefeitura em 2016.
O
resultado desse trabalho ilustra o quão descolado da realidade está o
discurso petista voltado para os mais pobres. Mais do que isso, permite
perceber que esses eleitores, diferentemente do que apregoam os
ideólogos petistas, consideram o Estado, e não a “burguesia”, como seu
inimigo, valorizam a meritocracia e entendem que a crise ética da
sociedade não é resultado de vícios estruturais, e sim de mau
comportamento individual, que deve ser resolvido, antes de mais nada,
pela família.
A
pesquisa foi feita entre 22 de novembro de 2016 e 10 de janeiro deste
ano, baseando-se em entrevistas em profundidade com moradores de bairros
periféricos de São Paulo, acima de 18 anos, com renda familiar mensal
de até cinco salários mínimos e que deixaram de votar no PT. Ao menos
30% dos entrevistados são ou foram beneficiários de programas sociais
implementados pelos governos petistas. Ou seja, é o perfil tido como
característico do eleitor petista, ao menos no imaginário dos que
consideram o PT representante natural dos “excluídos”.
Como
hipótese, o estudo afirma que o padrão de vida na periferia melhorou
como resultado direto das políticas dos governos petistas, mas essa
melhoria levou os moradores a “se identificarem mais com a ideologia
liberal, que sobrevaloriza o mercado”. Com a crise econômica, prossegue a
hipótese, esses moradores, ao contrário do que os petistas certamente
esperavam, reagiram movidos pela “lógica da competição”, isto é, pela
ideia de que é preciso que cada um trabalhe duro para superar os
problemas. Tal visão é incompatível com uma ideologia que anula o
indivíduo em favor da “classe trabalhadora”.
De um
modo geral, a pesquisa concluiu que a política “não é prioridade no
cotidiano” dos entrevistados. Quando falam do tema, em geral abordam os
escândalos de corrupção. O estudo constatou também que “as categorias
analíticas utilizadas pela militância política ou pelo meio acadêmico
não fazem sentido para os entrevistados”, isto é, os embates entre
“direita” e “esquerda” ou entre “reacionários” e “progressistas”
simplesmente “não habitam o imaginário da população”. Além disso,
constatou a pesquisa, “a cisão entre a classe trabalhadora e a burguesia
também não perpassa o imaginário dos entrevistados”. Isso significa, em
outras palavras, que toda a discussão sobre a divisão da sociedade
entre “nós” e “eles”, promovida incessantemente pelo PT, é significativa
somente para as classes médias e as suas redes sociais.
O estudo
é obrigado a reconhecer que “o principal confronto existente na
sociedade não é entre ricos e pobres, entre capital e trabalho, entre
corporações e trabalhadores”, e sim “entre Estado e cidadãos, entre a
sociedade e seus governantes”. Para os entrevistados, “todos são vítimas
do Estado que cobra impostos excessivos, impõe entraves burocráticos,
gerencia mal o crescimento econômico e acaba por limitar ou sufocar a
atividade das empresas”. A maioria, ademais, se disse favorável a “uma
atuação mais integrada entre poder público e iniciativa privada em favor
da coletividade”.
Dessa
forma, segundo a Fundação Perseu Abramo, “abre-se espaço para o
‘liberalismo popular’, com demanda de menos Estado”. A entidade sugere
que, se quiser voltar a prevalecer nas urnas, “o campo
democrático-popular precisa produzir narrativas contra-hegemônicas mais
consistentes e menos maniqueístas”. É o reconhecimento, afinal, de que a
estratégia petista de hostilizar as “elites” fracassou, e é também a
prova de que um projeto político que racionalize o Estado, estimule a
iniciativa privada e premie os melhores e mais esforçados é
eleitoralmente viável.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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