MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mesmo com hotéis lotados, feriado para Jango divide São Borja, RS


Chance de lucrar opõe parte da população a fechamento do comércio nesta.
Cenas de multidão no cemitério em 1976 não devem se repetir no 2º enterro.

Estêvão Pires Do G1 RS, em São Borja

Feriado não agradou Ivonete Figueiredo, dona de um ginásio em São Borja (Foto: Estêvão Pires/G1)Feriado não agradou Ivonete Figueiredo, dona de um ginásio em São Borja (Foto: Estêvão Pires/G1)
Terra natal de um dos mais importantes personagens na história da política nacional, São Borja não tem unanimidade diante dos tributos ao ex-presidente João Goulart, que nesta sexta-feira (6) será enterrado pela segunda vez no município da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. O dia será de feriado após a aprovação de uma nova lei de autoria do prefeito Farelo Almeida (PDT), o que gera contrariedade em parte dos mais de 60 mil moradores, alheios ao valor histórico e à repercussão internacional da nova cerimônia em homenagem ao são-borjense, morto há 37 anos em circunstâncias ainda controversas.
Nas ruas do município, poucos moradores confirmaram à reportagem do G1 se iriam à cerimônia prevista para iniciar às 16h30 no Cemitério Jardim da Paz, onde há um mês, sob o olhar do país, ocorreu a exumação de Jango. Mesmo os que apoiam a realização do feriado.
"Infelizmente parece que a maioria está sendo contra fechar o comércio, o que é triste. Mas este debate também tem influência de rixas políticas locais, que são colocadas acima do Jango. Pela própria história e mesmo pelo trânsito que precisa funcionar, eu defendo o feriado. Ainda mais eu, que fui ao primeiro enterro, quando era criança. Mas acredito que não irei desta vez. Não quero encarar filas e multidão", disse o pecuarista Telmo Rodrigues da Costa Filho, de 45 anos.
A insatisfação maior com o feriado parte de comerciantes e empresários. Entre eles está Ivonete Figueiredo, de 38 anos, proprietária de um ginásio de esportes no Centro de São Borja. "Achei ruim porque nesta época do ano temos muito movimento. Vamos abrir no feriado, como sempre fazemos, mas muitos horários marcados nas quadras de futebol já foram cancelados. Muita gente também irá viajar por causa do feriado", reclamou.
Guilherme prometeu abrir o estabelecimento mesmo com o decreto  (Foto: Estêvão Pires/G1)Guilherme prometeu abrir o estabelecimento
apesar do decreto (Foto: Estêvão Pires/G1)
Dono de uma lanchonete em uma das avenidas mais movimentadas de São Borja, Guilherme Porto, de 30 anos, também prometeu abrir o estabelecimento mesmo com o decreto e foi mais enfático. "Isso é bobagem. Não é merecido. Vou fazer resistência e abrirei", afirmou. "Em geral, quem é dono de algum negócio não gostou. Mas quem trabalha e ganhou folga não tem do que reclamar", ponderou o atendente de hotel Mario Escobar Vasques, de 28 anos.
Desperdiçar a chance de faturar no fim de ano também é justificativa para a microempresária Michele Soares divergir da existência do feriado, em mais um dia no qual o Brasil volta a lembrar São Borja. "Tenho uma loja de confecções no Centro. Se abrir, poderei pagar uma multa. Mas sei que muitos clientes gostariam de aproveitar a sexta para gastar com as compras de Natal", disse ela.
"Isso é bobagem"
Guilherme Porto, empresário
A posição é encarada com inconformidade pelo aposentado Jaime Munro, de 67 anos. "É um filho ilustre da nossa terra. O mundo inteiro o conhece. É uma justa homenagem".
Para o presidente do comitê municipal que apoia a Comissão Nacional da Verdade, o advogado Iberê Teixeira, a "insensibilidade" reflete a distância temporal dos fatos históricos. "Em São Borja há pouquíssimas pessoas ainda vivas que foram eleitores de Jango. Os que estão aí têm mais de 70 anos. E por isso, também acredito que o público não será grande no cemitério, assim como foi na exumação. Entendo que é natural", analisou.
É uma justa homenagem"
Jaime Munro, aposentado
Amigo de Jango, Teixeira é autor de quatro livros, e lembra que, mesmo sob a ameaça dos militares, uma multidão foi ao cemitério no primeiro enterro, em 1976. "Calculo que eram mais de 2 mil".
Apesar da insatisfação de alguns, a rede hoteleira de São Borja não tem motivos para reclamar. Nos sete maiores hotéis do município, apenas dois ainda tinham escassas vagas até a manhã desta sexta, segundo levantamento do G1. A prefeitura informou que o feriado só terá validade neste ano, de acordo com o decreto.
Honras militares em São Borja
A chegada dos restos mortais de Jango está prevista para as 11h no Aeroporto de São Borja, onde militares irão cobrir o caixão com uma bandeira do Brasil, e saudarão o desembarque com tiros de fuzil. De lá, o esquife será levado em cortejo até a Igreja Matriz do município. No local, haverá visitação do público a partir as 12h e uma missa deve ocorrer entre 15h30 e 16h30.
Programação
7h: saída dos restos mortais de Jango de Brasília
11h: chegada dos restos mortais a São Borja e traslado até a Igreja da Matriz
12h: abertura da igreja ao público
15h30: missa
16h30: traslado dos restos mortais ao Cemitério Jardim da Paz e segundo enterro
 Em seguida, o esquife será conduzido até o Cemitério Jardim da Paz, para ser enterrado novamente no jazigo onde no mês passado ocorreu a exumação, com objetivo de desvendar os mistérios que pairam sobre a morte. Indícios de que Jango possa ter sido vítima de envenenamento durante o exílio na Argentina levaram a família de Jango a solicitar ao Ministério Público Federal a investigação.
Entre as autoridades que já têm presença confirmada estão a titular da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL) e Pedro Simon (PMDB), que era amigo de Jango e colaborador do trabalhismo na época da morte. Simon, Maria do Rosário, o prefeito de São Borja, Farelo Almeida (PDT), e João Vicente Goulart, um dos filhos de Jango, discursarão antes da devolução dos restos mortais ao jazigo da família.
Como o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, está na China para compromissos, o presidente da Assembleia Legislativa, Pedro Westphalen (PP), vai representar o Executivo gaúcho durante as cerimônias.
Morte no exílio
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina.
Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, evidências levantaram a hipótese de que o ex-presidente tenha sido envenenado por agentes das ditaduras uruguaia e argentina, em colaboração com o governo brasileiro.
A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma Penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul. Disse que espionava Jango e que participou de um complô para introduzir uma substância mortal nos medicamentos que o ex-presidente tomava.
Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

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