Projeto é voltado para a agricultura, cultura ayhuasqueira e intercâmbio.
Trabalho deverá ter duração de três anos.
Kaxinawás aprendem novas técnicas (Foto: Bruno Imbroisi / Embrapa)A ideia do projeto surgiu em 2008. De acordo com o líder do projeto, o pesquisador Moacir Haverroth, foram os próprios Kaxinawás que propuseram a parceria. “Em 2008 iniciei um projeto com os índios da etnia Kulina e na primeira viagem de campo que estava fazendo para as terras indígenas Kulinas, tive contato com os Kaxinawás de Nova Olinda, que fica no meio do caminho até os Kulinas. Comecei a conversar com eles e eles colocaram algumas demandas de pesquisa que a Embrapa pudesse ajudá-los. Eles estavam retomando algumas tradições entre elas o uso da ayahuasca. E estavam preocupados com a exploração das espécies”, conta.
A partir de então ele passou a ter encontros periódicos com os indígenas no município de Feijó ou na própria aldeia para discutir o que outros projetos poderiam ser desenvolvidos.
“Aqui na Embrapa nós temos várias modalidades de projeto desde o que chamamos de Macroprograma1 até o Macroprograma 6 que envolve agricultura familiar e desenvolvimento território com componentes de pesquisa e desenvolvimento sustentável e tem componentes de pesquisa e desenvolvimento para a comunidade. É um tipo que se encaixa bem para povos indígenas”, enfatiza.
Índio Kaxinawá senta em frente a uma árvore daespécie Samaúma (Foto: Bruno Imbroisi / Embrapa)
Pesquisa agroflorestal
O projeto começou efetivamente em março de 2012 com a visita da primeira equipe de pesquisadores às aldeias. Outras duas visitas foram realizadas em novembro do mesmo ano e em março de 2013.
Durante esses encontros, os pesquisadores apresentaram técnicas para produção de mudas de árvores frutíferas, enxerto de plantas e mapeamento dos solos. Além disso, os pesquisadores também querem ajudar os nativos a combater pragas como a broca da bananeira e pragas que afetam as plantações de macaxeira e amendoin.
Outros trabalhos que estão sendo desenvolvidos são a criação de abelhas sem ferrão para produção de mel nas aldeias e a construção de casas de farinhas nas aldeias de Nova Olinda. "Em princípio trabalhamos com produção para subsistência. Mas, pode posteriormente ser um produto para ser comercializado", diz.
Pesquisadores ajudam nativos a combater pragas (Foto: Bruno Imbroisi / Embrapa)Esse trabalho resultará ainda numa série de cartilhas bilíngues contendo as técnicas utilizadas pelos pesquisadores e pelos indígenas. "Vai haver tanto o conhecimento deles quanto o nosso e todos serão autores", enfatiza.
Dificuldades
Mas ao menos uma parte do trabalho está ameaçada. Apesar do projeto já ter se iniciado e do prazo de três anos para execução já ter sido estabelecido, a pesquisa sobre plantas medicinais e as plantas utilizadas em rituais ainda não foi realizada por falta de autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente.
Segundo o pesquisador, embora o órgão tenha sido criado com o objetivo de resguardar o patrimônio genético brasileiro conta a biopirataria a burocracia e a demora dos membros do conselho para analisar os projetos acaba prejudicando as pesquisas.
“Há uma grande dificuldade hoje no Brasil para se realizar qualquer pesquisa com povos tradicionais, povos indígenas com algum acesso ao conhecimento tradicional ou patrimônio genético. Você tem uma dissonância muito grande entre o projeto que você aprovou, o tempo que você tem para executar o projeto e a autorização do CGEN”, critica.
Por causa da demora, a equipe corre o risco de perder recursos para executar o projeto. “Em vez de fazer em três anos com calma, acaba fazendo em tempo limitado. Se for aprovado dentro do período”, lamenta.
Interferência cultural
Em média, 20 pessoas participam de cada expedição às aldeias, que duram em média 10 à 15 dias. Para evitar conflitos ou interferências com os indígenas, Haverroth destaca que são realizadas oficinas de metodologias participativas para preparar os membros da equipe.
"Dentro do projeto foi realizada uma oficina de preparação. Para ensinar a equipe como chegar na aldeia, o que pode ser feito, o que não pode, como se comportar, o que pode ser levado", ressalta.
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