MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 30 de abril de 2013

Adepto do turismo 'extremo', inglês leva viajantes a Chernobyl e ao Irã


Ele criou agência que também leva à Coreia do Norte e ao Turcomenistão.
Iraque e Faixa de Gaza estão nos planos de pacotes para o futuro.

Flávia Mantovani Do G1, em São Paulo

Dylan Harris, da Lupine Travel, em viagens ao Irã, Turcomenistão e Coreia do Norte (Foto: Dylan Harris/Arquivo pessoal)Dylan Harris em algumas de suas viagens; da esquerda para a direita, em sentido horário: Irã, Turcomenistão (segunda e terceira fotos) e Coreia do Norte (Fotos: Lupine Travel/Divulgação)
Na agência de turismo britânica Lupine Travel, não adianta o cliente chegar pedindo um pacote para Cancún, Nova York ou Paris. Os destinos com os quais a empresa trabalha são, para dizer o mínimo, menos convencionais.
Há cinco opções para o viajante: fazer um tour pela cidade-fantasma Chernobyl, palco do grande acidente nuclear em 1986; visitar o islâmico Irã; conhecer uma das nações mais fechadas do mundo, a comunista Coreia do Norte; passear pelo Turcomenistão, um dos países mais inexplorados do planeta; ou ir de trem de Moscou a Pequim, percorrendo os 10 mil quilômetros da maior ferrovia contínua do mundo, a Trans-Mongoliana.
Em breve um novo destino deve se unir à lista: o Iraque. “Em julho vou para o norte do país fazer uma pesquisa. Se os lugares que eu visitar forem seguros o suficiente, quero começar a organizar tours por lá em 2014”, contou ao G1 o dono da agência, Dylan Harris, de 34 anos, acrescentando que a Faixa de Gaza e a Somalilândia (estado que se declarou independente da Somália) também estão nos seus planos para o futuro.
Turista passa por detector de radiação em Chernobyl (Foto: Dylan Harris/Arquivo pessoal)Turista passa por detector de radiação em Chernobyl
(Foto: Dylan Harris/Arquivo pessoal)
‘Pesadelo logístico’
A ideia de criar uma agência que trabalhasse com destinos como esses surgiu da própria experiência de Dylan como viajante.
Aos 20 e poucos anos, ele percorreu o Leste Europeu de trem e percebeu que, quanto menos turístico o lugar, mais ele gostava.
“Fiquei fascinado principalmente pelos lugares menos desenvolvidos, que não mudaram muito desde a queda da ‘cortina de ferro’: Albânia, Bósnia, Moldávia”, conta.
Ele diz que foi conquistado principalmente pela população desses países. “Apesar dos tempos difíceis que eles experimentaram, havia um acolhimento e uma simpatia genuína nas pessoas que conheci”, diz.
Achei que fosse receber alguns poucos clientes 'excêntricos', mas o interesse foi crescendo bastante"
Dylan Harris
Dylan resolveu ir mais longe. Atravessou a Rússia até a Sibéria e depois foi à Coreia do Norte. No caminho, percebeu duas coisas: havia mais viajantes como ele, interessados nesse tipo de lugar, e uma dificuldade grande para organizar a jornada.
“Quanto mais longe eu ia, mais difícil ficava. Atravessar a Rússia, por exemplo, foi um pesadelo logístico”, afirma.
Alguns meses depois, ele aproveitou os contatos que tinha reunido nesses países para ajudar outros viajantes a planejar passeios nesses destinos. No início, era apenas um hobby, que ele conciliava com uma empresa que tinha no ramo musical.
“Achei que fosse receber alguns poucos clientes ‘excêntricos’, mas nos anos seguintes o interesse começou a crescer bastante”, diz. Em 2007, surgiu a Lupine Travel, à qual ele se dedica inteiramente hoje, trabalhando até 16 horas por dia.
Máscaras e hospital abandonados em Chernobyl (Foto: Lupine Travel/Divulgação)Máscaras e hospital abandonado em Chernobyl (Foto: Lupine Travel/Divulgação)
De universitários a idosos
A clientela de Dylan é mais variada do que ele esperava. Além de estudantes e mochileiros na faixa dos 20 ou 30 anos, ele diz receber regularmente grupos de idosos de 70 e 80 anos, principalmente na viagem de trem pela Trans-Mongoliana ou pela Coreia do Norte.
Turistas na Coreia do Norte, levados pela Lupine Travel (Foto: Lupine Travel/Divulgação)Grupo de turistas após torneio de golfe na Coreia
do Norte (Foto: Lupine Travel/Divulgação)
“Acho que a única coisa que todos têm em comum é o amor por viajar e a necessidade de explorar lugares novos e ter experiências novas”, afirma Dylan.
A maioria vem da Europa, da Oceania ou da América do Norte, mas ele diz que nos últimos meses tem notado maior procura de latino-americanos. Turistas brasileiros já o contrataram, mas apenas para o passeio de Chernobyl.
Costumava mentir para os meus pais sobre os lugares que visitava, mas agora eles não ficam tão preocupados como antes
Dylan Harris
Dylan oferece tours semanalmente, dirigidos por guias locais. Mas ele também acompanha pessoalmente os turistas com frequência: ao menos duas vezes ao ano em cada um dos cinco destinos.
O agente garante que os viajantes não correm risco nas suas viagens, desde que cumpram estritamente as leis dos países que visitam.
O aviso de que não devem descumprir nenhuma regra é reforçado com os grupos que vão ao Irã. "A aparência das cidades e a forma como os jovens agem dão a impressão de que se está em um país ocidental. Quando você está lá, é fácil esquecer que se trata de um estado islâmico rígido, que tem severas punições a quem beber álcool ou cometer adultério, por exemplo", diz.
Em Chernobyl os turistas são orientados a nunca se desviar do grupo. "Ainda há alguns lugares com alto nível de radiação, mas os tours ficam longe deles e passam apenas por áreas seguras”, diz Dylan.
A cidade de Chernobyl (Foto: Lupine Travel/Divulgação)Chernobyl (Foto: Lupine Travel/Divulgação)
Ele leva a namorada em muitas das viagens. Os pais também não se preocupam mais. “Quando eu era mais novo, costumava mentir para eles sobre os lugares que visitava porque não queria que eles me impedissem de ir. Mas agora eles confiam em mim e não ficam tão preocupados como antes”, diz.
Nas suas primeiras viagens, no entanto, Dylan não se sentia tão seguro como hoje. Ele conta, por exemplo, que levou um grande susto na primeira vez que esteve no Irã, quando um policial o parou, perguntou aos gritos se ele era inglês e o levou até seu gabinete. “Eu estava aterrorizado. Tive medo de que ele me acusasse de ser espião e me colocasse na prisão”, diz.
Tremendo e suando, foi informado de que o policial apenas queria conversar sobre poesia. “Ele tinha estudado literatura inglesa na universidade e amava poesia, mas nunca tinha tido a chance de falar com um inglês sobre o tema", relata. "Tomei chá com ele conversamos a tarde toda.”

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