Por Rodrigo Bueno, diretor da área de Robótica da ABB no Brasil
Em
março de 2024, o Brasil recebe, pelo segundo ano consecutivo, a Fórmula
E, um evento que não apenas destaca a inovação e a velocidade, mas
também ressalta a crescente importância dos veículos menos poluentes
(Híbridos e Elétricos) no cenário global. O E-Prix de São Paulo, prova
que faz parte do calendário de 2024, acontecerá no dia 16 na capital
paulista, novamente no circuito montado no Sambódromo do Anhembi,
situado na zona norte da cidade.
Inaugurada em
2014, a Fórmula E, concebida por Alejandro Agag e Jean Todt, atua como
uma arena de demonstração para a capacidade e potencial dos veículos
elétricos. Funcionando como um laboratório para as equipes
participantes, a competição desempenha um papel importante no avanço da
transição energética e na redução das emissões de gases de efeito
estufa.
A realização do evento em solo
brasileiro sincroniza-se com um período de acentuado crescimento das
vendas de veículos híbridos/elétricos e importantes aportes financeiros
do setor automotivo, sinalizando um período transformador para a
indústria brasileira. A convergência desses fatores sublinha a
importância crítica dos investimentos em automação robótica para
impulsionar a transição eficiente para a produção destes veículos na
indústria automotiva brasileira.
Projeções da
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
indicam que os investimentos na indústria automotiva brasileira podem
atingir a marca histórica de R$ 100 bilhões até 2028/2029. Este ciclo
sem precedentes de aportes, abrangendo montadoras e fornecedores de
autopeças, alinha-se a um contexto econômico mais estável, impulsionado
por reformas estruturais, incluindo a tributária, e pelos princípios
orientadores do programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação),
direcionado à descarbonização da frota e à introdução de carros híbridos
a etanol.
Surpreendendo as previsões, as vendas
de carros elétricos e híbridos atingiram um novo recorde no Brasil em
2023, totalizando 93.927 emplacamentos de eletrificados leves. Esse
aumento expressivo de 91% em relação a 2022 evidencia uma transformação
nas preferências do consumidor brasileiro em direção à mobilidade
sustentável.
A transição para veículos elétricos
impõe desafios significativos na gestão da complexidade associada à
montagem e à cadeia de suprimentos na indústria automotiva. A produção
desses veículos e de outros motores eletrificados está destinada a
aumentar substancialmente, impulsionada por incentivos governamentais
alinhados às metas de mitigação das mudanças climáticas e pela expansão
das ofertas de produtos por parte dos fabricantes.
A
fabricação global de veículos será caracterizada, portanto, nos
próximos anos por um mix fragmentado entre carros a combustão, carros
híbridos e carros elétricos, o que destaca a necessidade premente de uma
transformação significativa nos processos de produção. A automação
robótica, por meio de robôs colaborativos, robôs móveis autônomos e
sistemas digitais, emerge como uma solução para enfrentar os desafios
associados a essa transição. A flexibilidade proporcionada por essas
tecnologias é crucial para atender à demanda variável e à rápida mudança
nas preferências dos consumidores.
O
aprimoramento da flexibilidade será impulsionado pelos progressos na
implementação de robôs colaborativos, robôs móveis autônomos (AMRs) e
sistemas digitais. Essas tecnologias possibilitam montagens
personalizadas e alterações rápidas na produção. Além disso, a transição
para uma logística e manuseio de materiais mais autônomos nas fábricas
desempenhará um papel fundamental nesse avanço. A conectividade local
mais rápida, incluindo o uso de redes 5G, é essencial para a melhoria
desses processos.
Outro ponto crucial na
transformação é a mudança para células de produção modulares e
individuais. Essas células têm a capacidade de suportar uma maior
variedade de produtos e ofertas em comparação com os sistemas de
montagem linear tradicionais. Essa abordagem oferece aos fabricantes a
flexibilidade de modificar ou substituir células individuais sem
interrupções na produção. Dessa forma, é possível iniciar processos em
pequena escala e ajustar o ritmo de produção, adicionando ou
reimplantando células conforme as mudanças na demanda.
A
utilização de big data para o planejamento preditivo será um recurso
valioso para os fabricantes otimizarem layouts de produção. Por meio de
simulações digitais, a análise de dados permitirá que antecipem e reajam
de maneira eficaz a qualquer mudança nas condições. Essa abordagem
possibilita uma gestão mais eficiente e proativa das operações,
garantindo maior adaptabilidade e eficácia nas respostas às demandas do
mercado.
O Brasil encontra-se em um período
dinâmico na indústria automotiva, com eventos como a Fórmula E e os
investimentos substanciais apontando para uma era de veículos elétricos.
A automação robótica emerge como a ferramenta essencial para enfrentar
os desafios e garantir uma transição eficiente. Ao abraçar a inovação e
investir em tecnologias que impulsionam a produção de veículos
elétricos, a indústria automotiva brasileira pode não apenas se manter
competitiva globalmente, mas também liderar a transformação elétrica na
América do Sul.
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