Estigma “zero” como meta, no Dia Mundial da Obesidade
| Artigo Prof. Alexandre Gaducchi* | A
Organização Mundial da Saúde, OMS, há quatro anos instituiu a data de
04 de março como efeméride em apoio à conscientização de um problema de
saúde pública planetário, que é a obesidade. Segundo a OMS, o mundo tem
cerca de 1 bilhão de obesos, 650 milhões são adultos, 340 milhões
adolescentes e 39 milhões são crianças, o que torna a conjuntura ainda
mais preocupante. As causas da obesidade, segundo inúmeros estudos que
vêm sendo realizados há décadas, são compostas por múltiplos fatores,
que vão desde a questão genética até as ambientais.
O peso do estigma A
falta de uma visão sistêmica em torno do problema, inclusive das redes
de cuidados com a saúde, é um dos pilares para outro problema, que vem
compondo o ecossistema da obesidade, na conjuntura social. Trata-se do
estigma, espécie de ‘selo desqualificante’ socialmente e que vê a
obesidade uma questão individual, sem levar em conta os demais fatores
já identificados nos estudos. O encadeamento desses elementos, somado à
estigmatização dos indivíduos, pode elevar em 32% o risco de
desenvolvimento de uma depressão, se comparados a pessoas que não são
classificadas como obesas.
Um
estudo recente da Current Obesity Reports (2023), periódico focado nos
temas em torno da questão da obesidade planetária, aponta que os efeitos
do estigma, do preconceito e da desinformação em relação à obesidade
causam muitos transtornos psicológicos às pessoas desse grupo. Uma
grande meta-análise recente sintetizando 105 estudos, incluindo dados
sobre 59.000 participantes, descobriu que o estigma percebido da
obesidade entre os indivíduos foi associado significativamente à piora
de saúde mental, sugerindo que os efeitos da estigmatização sobre o
obeso são mais insidiosos mentalmente, do que a obesidade, em si.
O
efeito é maior sobre as pessoas mais pobres ou menos favorecidas
intelectualmente. A questão comportamental e no contexto social também
afetam a autoimagem do obeso, que muitas vezes cria uma espécie de auto
estigma, impactando ainda mais, sua saúde mental e por consequência, a
física. Ansiedade, autoestima baixa, auto depreciação, por exemplo,
podem ser “gatilhos” emocionais para que um obeso desconsidere os
cuidados com sua saúde e some mais esses problemas à cadeia produtiva da
obesidade, que, reitero, é multifatorial, incluindo causas genéticas e
sociais.
Estigma em dose dupla A
prevalência do sobrepeso e obesidade também afeta as pessoas que vivem
com HIV nos dias atuais. Isso ocorre por causa da heterogeneidade da
população mundial. No início da epidemia, entretanto, a perda de peso
era associada à infecção e havia o estigma sobre o indivíduo de aspecto
“fraco e magro”. Também aqui as questões emocionais, o estigma ou a auto
estigmatização podem ser fatores associados à obesidade e sobrepeso
desse público. O uso dos antirretrovirais, questões emocionais ligadas a
este recorte social, como a falta de orientação nutricional adequada e
sem exercícios físicos, bem como a longevidade conquistada com os
avanços no tratamento da infecção, são fatores que contribuem para o
aumento da gordura corporal. Estudos pontuais revelam percentuais entre
15,9-42% de sobrepeso e 0-24% de obesidade em diferentes continentes
entre os que fazem uso dos medicamentos classificados como
antirretrovirais. Esses múltiplos fatores trouxeram, com o aumento da
expectativa de vida, o aparecimento das comorbidades típicas do
envelhecimento, além da possibilidade de alterações lipídicas e
glicídicas que favorecem as alterações no peso corporal.
Estigma zero é a meta A
síntese da pesquisa é a de que haveremos de olhar para esses tempos com
vergonha do que fizemos em relação aos reforços no estigma sobre o
obeso. Preconceitos, discriminação ou segregação são comportamentos
derivados de uma sociedade sem educação para entender as diferenças
entre indivíduos. Certamente devem ser combatidos com informação,
educação e inclusão. A empatia é a amálgama para quaisquer
circunstâncias, e serve muito bem no contexto da vida de pessoas com o
diagnóstico da obesidade.
Minha
mensagem neste dia é que tenhamos esse acolhimento e muita empatia,
para que no futuro, possamos ter superado a conjuntura planetária, as
questões genéticas, mas com a alegria de viver, independentemente do seu
peso.
Sobre o autor Alexandre
Gadducci é professor de educação física, pesquisador e doutor em
Ciências da Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da USP,
especializou-se nos cuidados a pessoas com obesidade no pré e pós
cirurgia bariátrica.
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| Sandra de Angelis +55 11 99911-3798 sandra@edgemidia.com.br www.edgemidia.com.br |
| Artigo Prof. Alexandre Gaducchi* | A
Organização Mundial da Saúde, OMS, há quatro anos instituiu a data de
04 de março como efeméride em apoio à conscientização de um problema de
saúde pública planetário, que é a obesidade. Segundo a OMS, o mundo tem
cerca de 1 bilhão de obesos, 650 milhões são adultos, 340 milhões
adolescentes e 39 milhões são crianças, o que torna a conjuntura ainda
mais preocupante. As causas da obesidade, segundo inúmeros estudos que
vêm sendo realizados há décadas, são compostas por múltiplos fatores,
que vão desde a questão genética até as ambientais.
O peso do estigma A
falta de uma visão sistêmica em torno do problema, inclusive das redes
de cuidados com a saúde, é um dos pilares para outro problema, que vem
compondo o ecossistema da obesidade, na conjuntura social. Trata-se do
estigma, espécie de ‘selo desqualificante’ socialmente e que vê a
obesidade uma questão individual, sem levar em conta os demais fatores
já identificados nos estudos. O encadeamento desses elementos, somado à
estigmatização dos indivíduos, pode elevar em 32% o risco de
desenvolvimento de uma depressão, se comparados a pessoas que não são
classificadas como obesas.
Um
estudo recente da Current Obesity Reports (2023), periódico focado nos
temas em torno da questão da obesidade planetária, aponta que os efeitos
do estigma, do preconceito e da desinformação em relação à obesidade
causam muitos transtornos psicológicos às pessoas desse grupo. Uma
grande meta-análise recente sintetizando 105 estudos, incluindo dados
sobre 59.000 participantes, descobriu que o estigma percebido da
obesidade entre os indivíduos foi associado significativamente à piora
de saúde mental, sugerindo que os efeitos da estigmatização sobre o
obeso são mais insidiosos mentalmente, do que a obesidade, em si.
O
efeito é maior sobre as pessoas mais pobres ou menos favorecidas
intelectualmente. A questão comportamental e no contexto social também
afetam a autoimagem do obeso, que muitas vezes cria uma espécie de auto
estigma, impactando ainda mais, sua saúde mental e por consequência, a
física. Ansiedade, autoestima baixa, auto depreciação, por exemplo,
podem ser “gatilhos” emocionais para que um obeso desconsidere os
cuidados com sua saúde e some mais esses problemas à cadeia produtiva da
obesidade, que, reitero, é multifatorial, incluindo causas genéticas e
sociais.
Estigma em dose dupla A
prevalência do sobrepeso e obesidade também afeta as pessoas que vivem
com HIV nos dias atuais. Isso ocorre por causa da heterogeneidade da
população mundial. No início da epidemia, entretanto, a perda de peso
era associada à infecção e havia o estigma sobre o indivíduo de aspecto
“fraco e magro”. Também aqui as questões emocionais, o estigma ou a auto
estigmatização podem ser fatores associados à obesidade e sobrepeso
desse público. O uso dos antirretrovirais, questões emocionais ligadas a
este recorte social, como a falta de orientação nutricional adequada e
sem exercícios físicos, bem como a longevidade conquistada com os
avanços no tratamento da infecção, são fatores que contribuem para o
aumento da gordura corporal. Estudos pontuais revelam percentuais entre
15,9-42% de sobrepeso e 0-24% de obesidade em diferentes continentes
entre os que fazem uso dos medicamentos classificados como
antirretrovirais. Esses múltiplos fatores trouxeram, com o aumento da
expectativa de vida, o aparecimento das comorbidades típicas do
envelhecimento, além da possibilidade de alterações lipídicas e
glicídicas que favorecem as alterações no peso corporal.
Estigma zero é a meta A
síntese da pesquisa é a de que haveremos de olhar para esses tempos com
vergonha do que fizemos em relação aos reforços no estigma sobre o
obeso. Preconceitos, discriminação ou segregação são comportamentos
derivados de uma sociedade sem educação para entender as diferenças
entre indivíduos. Certamente devem ser combatidos com informação,
educação e inclusão. A empatia é a amálgama para quaisquer
circunstâncias, e serve muito bem no contexto da vida de pessoas com o
diagnóstico da obesidade.
Minha
mensagem neste dia é que tenhamos esse acolhimento e muita empatia,
para que no futuro, possamos ter superado a conjuntura planetária, as
questões genéticas, mas com a alegria de viver, independentemente do seu
peso.
Sobre o autor Alexandre
Gadducci é professor de educação física, pesquisador e doutor em
Ciências da Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da USP,
especializou-se nos cuidados a pessoas com obesidade no pré e pós
cirurgia bariátrica.
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