A única fraude explícita é no argumento usado para questionar o resultado das urnas. A coletiva do PL é pura cloroquina técnica. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Valdemar
da Costa Neto, esse patrimônio nacional, foi até onde nem o Ministério
da Defesa ousou ir para promover a arruaça contra o processo eleitoral.
Na tarde da última terça-feira (23) o PL, partido que ele comanda com
mão de ferro, fez uma coletiva de imprensa para detalhar a representação
que fez ao Tribunal Superior Eleitoral pedindo a invalidação dos
resultados de mais de 250 mil urnas usadas no 2º turno das eleições
presidenciais. O total corresponde a 59% delas e um montante de votos
que pode chegar a 73 milhões. A alegação para tanto é que as urnas dos
modelos de 2009, 2010, 2013 e 2015 apresentam falha no log, o que,
supostamente, impediria sua devida identificação. O que se tem é uma
chicana contestatória.
Um
mero cruzamento de dados bastaria para resolver o problema. Os arquivos
de log têm outros mecanismos que possibilitam saber qual a origem dos
votos e de que urna vieram. Constam também informações como código do
município, zona eleitoral e seção eleitoral.
Em
entrevista ao site Poder 360, o professor do Departamento de Engenharia
de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP, Marcos
Simplicio contestou a afirmação de que não é possível aferir a
autenticidade dos logs porque eles “não dizem qual o ID da urna
correspondente”. Segundo Simplicio, “não é o ID de urna que confere
autenticidade ao arquivo de log, mas sim a assinatura digital feita pela
urna sobre aquele arquivo de log”.
A
única fraude explícita é no argumento usado para questionar o resultado
das urnas. A coletiva do PL é pura cloroquina técnica. Requentou
informações falsas difundidas na live do influenciar argentino Fernando
Cerimedo e adicionou outros elementos de maneira a subsidiar
influenciadores que, por sua vez, tratam de traduzir isso em narrativa
para um público mais amplo. O procedimento é conhecido e foi usado na
pandemia para difundir as teses negacionistas.
A
auditoria do PL não faz qualquer consideração sobre o resultado das
demais eleições, ainda que as urnas contestadas tenham recebido votos
também para os governos estaduais que tiveram disputas de 2º turno. Isso
sem mencionar o uso delas também no 1º turno, o que foi lembrado pelo
ministro Alexandre de Moraes no despacho em que responde à representação
do partido. O questionamento apresentando é exclusivamente sobre a
vitória de Lula. É curioso, e também conveniente, que não existam
dúvidas sobre a eleição de 99 parlamentares do partido, de seus
governadores, senadores ou até de aliados do presidente Bolsonaro em
outras agremiações.
Segundo
Thais Oyama, do UOL, o presidente vinha ligando todos os dias para
Valdemar Costa Neto de modo a fazê-lo tomar medidas judiciais contra a
eleição. O tal relatório estava sendo preparado para apresentação apenas
em dezembro, mas, aparentemente, o Palácio do Planalto forçou sua
antecipação de maneira a engrossar o tensionamento político nas ruas.
Desde
que o sistema de votação digital foi implementado, nenhuma entidade
fiscalizadora, nem mesmo as Forças Armadas, identificaram elementos que
pudessem sustentar uma acusação de fraude. Os patriotas do PL,
entretanto, querem ser corregedores da democracia, virando a mesa com
base em uma fundamentação esdrúxula para fazer a vontade de Jair
Bolsonaro e manter acesa a esperança de quem está pegando chuva fazendo
vigília na frente dos quartéis.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário