Coluna de William Waack para o Estadão:
O grande teste para o presidente eleito Lula
é conseguir pular a própria sombra. Não se trata apenas da sombra
deixada pelos escândalos de corrupção do período petista no poder, um
dos fatores essenciais para se entender a oposição ao novo/velho
governante.
A
grande sombra que Lula precisa pular é a da própria geração. É a que,
na saída do regime militar, acreditou que a redemocratização e tudo o
que se escreveu na Constituição automaticamente levariam à solução de
desigualdade, miséria, ignorância, violência e doença.
Essa
geração adotou um “contrato social” que fez subir constantemente os
gastos sociais nas últimas décadas, não importando qual governo. Ocorre
que o País quebrou tentando financiar esse estado de bem-estar social. É
este o grande pano de fundo do debate em torno da PEC da Transição.
Ao se tentar entender como uma parcela relevante dessa geração – a atual velha-guarda do PT
– orientou sua ação política é fundamental considerar o peso das
ideias. Uma das mais centrais na formação dos dirigentes petistas é a
que atribui ao Estado o principal papel nas transformações, sobretudo
para transferência de renda como instrumento de combate à desigualdade.
A
julgar pelo que se ouve da equipe de transição, o cerne desses
postulados não se alterou. Sucessivos pronunciamentos de Lula indicam
que essa “visão de mundo” (aumento dos gastos sociais via impostos e
endividamento) continua orientando a velha-guarda que o cerca.
Mas
ela enfrenta uma questão crucial de difícil solução. Para ficar em
apenas um aspecto, o do poder político, ele se alterou substancialmente,
dificultando a ação do PT tanto em função do desequilíbrio entre os
Poderes (Judiciário e Legislativo avançaram sobre o Executivo) quanto
pela deterioração dos partidos políticos e a predominância do
patrimonialismo no Legislativo.
A
margem de manobra política diminuiu ainda mais por causa da amplitude
da oposição extra parlamentar, talvez mais significativa que a
parlamentar. Nos dois âmbitos tornou-se imperioso o salto rumo a um
amplo entendimento, no qual o partido teria de abdicar de boa parte da
posição de comando – algo a que nunca se dispôs.
Sabe-se
que o sapo não pula por boniteza, mas por precisão. O pulo do sapo rumo
à necessária frente ampla (entendida como “concertación” e não como
ajuntamento de siglas sob a direção do PT) está neste momento no meio
caminho entre criar uma rota de consenso para tirar o País da estagnação
ou provocar uma perigosa crise de confiança. É enorme o tamanho da
sombra de uma geração.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário