O mercado brasileiro de automóveis está prestes a dar um novo passo em termos de qualificação. Trata-se da obrigatoriedade dos controles de estabilidade e tração em todos os carros produzidos a partir de janeiro de 2022, assim como adoção do Proconve L7, que define novos limites de emissões. Mas assim como aconteceu em 2014, quando a legislação passou a exigir airbags frontais e freios ABS, o que sepultou populares decanos, como Mille e Gol (G4), a nova exigência irá afetar diretamente os compactos, como Onix, Polo, Argo e, consequentemente uma nova geração do March.
E quem afirma isso é o presidente da Nissan, Marco Silva, que participou de uma coletiva com jornalistas de Belo Horizonte. O chefão da filial da marca japonesa explica que as novas exigências são necessárias para elevar os níveis de segurança e emissões dos automóveis, mas isso impactará no mercado.
“O segmento B-Hatchback (compactos) tem se transformado. Mas o hatch que a gente conhece vai ser muito mais difícil de ser fabricado, devido às novas exigências de equipamentos e eficiência. Isso deixa mais difícil para nós, quando estamos num segmento que temos baixo volume. Na nossa visão, o segmento B-Hatch não é tão atrativo assim, num planejamento até 2027”, explica Silva, deixando claro que o atual March segue em linha, mas não dá esperanças da nova geração ser produzida em Resende (RJ).
Volume
A fala do executivo pode soar contraditória, vez que as vendas de hatches de entrada e compactos correspondem a 38% do dos emplacamentos. Mas ele explica que é preciso ter um volume muito alto para ser competitivo.
E de fato 60% do volume de compactos correspondem a apenas três modelos. Sendo que o líder, Onix, detém 30% de todas as vendas da categoria. Já o March, tem apenas 0,97%, segundo a Fenabrave.
“No segmento B-Hatch é preciso escala. E com as novas exigências de níveis de emissões e segurança, não será um carro barato. A virada do ABS e airbag mudou a faixa de preço. Nos últimos meses, todos os segmentos sofreram escalada de preços. Isso sem falar no dólar. Tem marcas que conseguem fazer esse tipo de manobra e vender 200 mil com menor retorno, mas não é o nosso caso. Sabemos que precisamos atender o consumidor, mas também ter retorno”, analisa.
Silva também endossa o coro de outros fabricantes que sugerem um adiamento das novas regras em virtude da pandemia.
“Pensamos em postergar as exigências, pois a pandemia afetou todas as empresas. Isso não significa querer sair do compromisso, ma adequar a situação atual da indústria, que vai se estender por vários meses ainda. Sou bem reticente: para a economia voltar, tem que ser em sua plenitude”, observa, o executivo, que acredita que o mercado feche 2020, com 1,8 milhão de unidades, ante os 2,65 milhões de 2019, uma queda de quase 35%.
Estratégia
Hoje, o carro chefe da marca é o Kicks. O SUV goza de prestígio no mercado brasileiro e fechou 2019, na quarta colocação, com 56 mil unidades licenciadas. E como os utilitários são a bola da vez, a próxima tacada da Nissan poderá ser o pequenino Magnite.
Aventureiro que acabou de ser apresentado na Índia, que compartilha plataforma do Renault Kwid.
“É um carro interessante, mas depende do tamanho do investimento. Afinal é um carro feito para o mercado da Índia. Mas podemos dizer que pode ser o produto, mas não necessariamente o mesmo carro”, explica Silva, que também destaca novas estratégias com a Renault, marca que junto da Nissan faz parte da Aliança, que ainda inclui a Mitsubishi.
Hoje, Nissan e Renault compartilham componentes como motores e transmissões. Mas segundo executivo, as marcas querem ampliar a sinergia e desenvolver produtos de forma conjunta para a região. Ou seja, numa conta de padaria, o Magnite poderia ser o carro para figurar abaixo do Kicks, pois já conta com a plataforma pronta e linha de motores. Além disso, conta com o valor agregado de ser um SUV. E mesmo miúdo, permitiria maior rentabilidade.
Basta vermos os novos Tracker e Nivus, modelos derivados do Onix e que atuam em faixas de preços bem mais salgadas, com praticamente os mesmos conteúdos. O hatch alemão orbita numa faixa de preços entre R$ 56 mil e R$ 86 mil. Já o compacto da GM, também parte de R$ 56 mil e vai até R$ 77 mil.
No entanto, quando se muda para Nivus e Tracker, o primeiro tem valores entre R$ 85 mil e R$ 98 mil, enquanto o segundo preenche uma faixa que vai de R$ 87 mil a R$ 119 mil. Ou seja, o esforço para obter a mesma rentabilidade com um hatch é muito maior que com um SUV, mesmo que o custo de produção seja muito parecido.
Versa
Mas antes da chegada (ou não) do jipinho indiano, fato é a estreia do Versa. O sedã compacto, que concorrerá com Onix Plus e Virtus, era para ter sido lançado por agora, mas ficou para o final do ano devido a pandemia.
A chegada do sedã já exigiu mudanças na linha da Nissan, como por exemplo reposicionamento da atual geração do Versa, que inclusive passou a se chamar V-Drive. Vindo do México, terá o conhecido motor 1.6 da marca, transmissão do tipo CVT, um pacote de conteúdos farto, nos patamares do Kicks e valores que devem ficar entre R$ 75 mil a R$ 90 mil.
Moral da história: no Brasil, carro zero voltou a ser artigo de luxo, até mesmo para quem fabrica.
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