Quem
fabrica as roupas no Brasil – a indústria têxtil e de confecção –
integra uma das cinco maiores cadeias produtivas do mundo e a maior
integrada do Ocidente, desde a matéria-prima (natural, sintética ou
artificial) até o produto que chega ao consumidor. Criar um parque
produtivo igual ao nosso custaria hoje mais de R$ 400 bilhões. É um
setor com operações em todo o território nacional, empregando 1,33
milhão de pessoas diretamente. Mais de 65% dos postos de trabalho são
ocupados por mulheres e 85% dos negócios são de pequeno e médio portes.
Estamos entre os 10 maiores mercados do mundo. Portanto, há muito mais
do que blusinhas a ser defendido de uma descabida desigualdade tributária e regulatória. Nesse
sentido, foi importante a decisão do Senado, dia 5 de junho, de
aprovar, no âmbito do Projeto de Lei 914/2024, o dispositivo referente
ao Imposto de Importação de 20% nas compras de até US$ 50 nas
plataformas internacionais de e-commerce. A medida, que já havia
sido votada pela Câmara dos Deputados, atenua a desigualdade tributária
em relação às empresas brasileiras. Entretanto,
é preciso alertar que a alíquota estabelecida ainda mantém uma grande
diferença, considerando que os sites estrangeiros, além dela, continuam
recolhendo apenas mais 17% de ICMS. A indústria e o varejo brasileiros,
porém, pagam um oneroso pacote de impostos que chega a 90%. Persiste,
assim, um cenário de desigualdade tributária e concorrência desleal. As empresas nacionais já foram muito prejudicadas pelo benefício fiscal concedido pelo governo às plataformas internacionais de e-commerce
desde agosto de 2023, por meio da Portaria 612 do Ministério da
Fazenda. Foi uma insólita compensação para que aderissem ao programa
Remessa Conforme, da Receita Federal. Ora, cumprir a lei é uma obrigação
e não uma concessão em troca de privilégios. Também cabe enfatizar a desigualdade regulatória, pois as mercadorias importadas por meio das plataformas de e-commerce
não são submetidas à análise e à anuência de organismos como o Inmetro,
Anvisa e Ministério da Agricultura e Pecuária, como ocorre com as
nacionais e as que ingressam no País pelas vias aduaneiras regulares. É
preciso avançar nesse controle, pois se trata de um monitoramento
essencial para a segurança dos consumidores e no sentido de que tenham
garantias quanto à qualidade e especificidade dos produtos. A
defesa da igualdade tributária e regulatória, que, apesar da medida
aprovada pelo Congresso Nacional, ainda está longe de ser alcançada, não
expressa qualquer xenofobia, mas apenas a necessidade lógica de
condições justas e isonômicas para competir. O e-commerce e
empresas estrangeiras são muito bem-vindos ao nosso país, em especial
num mundo cada vez mais globalizado e sem fronteiras comerciais. Mas,
não é plausível que disputem o nosso mercado favorecidos por
privilégios, pois isso, muito além das blusinhas, afeta imensa gama de produtos e ameaça milhares de empresas e milhões de empregos. *Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Atendimento à imprensa - Ricardo Viveiros & Associados Oficina de Comunicação |
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