Rodrigo Augusto Prando,
Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Cientista Social, Mestre e Doutor em Sociologia. Membro da Comissão de
Políticas e Mídias Sociais do IASP – Instituto dos Advogados de São
Paulo.
Em
recente matéria publicada no Estadão, em 01 de junho, na página A6, de
Hugo Henud, há a apresentação de uma pesquisa realizada por cientistas
políticos da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e da USP
(Universidade de São Paulo) acerca do aumento da filiação partidária no
Brasil.
Paradoxalmente,
em um ambiente de rejeição à política e de desconfiança em relação aos
partidos políticos, houve o aumento da filiação partidária em nosso
país. Como explicar tal paradoxo? A investigação traz à tona o fato de
que “entre os filiados, cerca de 70% consideram, em algum grau, a
aversão e o ódio ao rival político como motivos relevantes para aderir a
uma legenda”. Nas palavras de Pedro Paulo de Assis, pesquisador do
Departamento de Política da USP: “Queríamos entender por que a filiação
partidária estava aumentando, mesmo diante do crescente descrédito e
desconfiança com relação aos partidos. Então, descobrimos que o ódio e a
rejeição ao adversário motivam não só a filiação, mas também são
fatores que tornam os filiados muito mais engajados na vida partidária”.
Esse fenômeno foi denominado, pelos pesquisadores, como “engajamento
pelo ódio”.
Essa
pesquisa, de certa forma, corrobora teses de outros cientistas
políticos e teóricos. Giuliano Da Empoli publicou, em 2019, a obra “Os
engenheiros do caos”, cujo subtítulo - “Como as fake news, as
teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para
disseminar ódio, medo e influenciar as eleições” - vai de encontro com a
ideia do “engajamento pelo ódio”. Na mesma linha, o livro de Felipe
Nunes e Thomas Traumann, “Biografia do abismo” (2023), apresenta que
nossa polarização política já se tornou uma “calcificação” e que visões
de mundo que alicerçam as ideologias políticas acabam por dividir
indivíduos e grupos não apenas no período eleitoral, mas que isso invade
o núcleo familiar, a sociabilidade nas escolas e universidades, nas
empresas, enfim, nossa vida está em constante tensão dada a
polarização/calcificação vivenciada politicamente.
O
quadrante histórico, por assim dizer, nos faz sentir, pensar e agir a
respeito da política de uma forma desencontrada, fraturada e, por isso,
gerando traumas evidentes. Políticos eleitos, nossos representantes,
estão, cada vez menos, apresentando um projeto para o país ou, mais
simplesmente, suas propostas de ação política. Muito melhor é lacrar,
engajar, fazer cortes e, assim, apresentar-se como vitorioso não em um
franco e profundo debate de ideias acerca de nossos problemas reais,
mas, sim, em um rápido vídeo para as redes sociais.
Não raro, políticos e seus assessores – os “engenheiros do caos” – conjugam fake news,
pós-verdades, negacionismos e teorias da conspiração, tudo isso para
ganhar forças nas redes sociais, impulsionados por algoritmos que captam
a força do medo, do ódio e do ressentimento, por exemplo. Neste caso,
não há adversários políticos que devem, democraticamente, conviver, mas
inimigos que devem ser destruídos em suas trajetórias, reputações e em
seus ideais e sonhos.
Os
partidos políticos e seus operadores, que são intermediários, estão
nutrindo-se, infelizmente, desses elementos atinentes ao ódio e, com
isso, apequenam a Política. Reina, em muitos casos, uma mediocridade e
mesquinharia que ganha likes e viraliza, mas é vazio de conteúdo, de ideias, de projetos, de conceitos, de conhecimento e informação.
A situação será dramática no curto e médio prazo neste universo político. No longo prazo, já asseverou Keynes, estaremos mortos...
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
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