De
acordo com jurista do CEUB, atualização engloba uma das principais leis
que regem a vida dos brasileiros a igualdade entre casais,
independentemente do sexo
Reconhecida
como constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a união entre
pessoas do mesmo sexo está a caminho de ser oficialmente incorporada à
legislação brasileira. A comissão de juristas encarregada da reforma do
Código Civil, apresentou em abril deste ano o anteprojeto que legaliza a
união homoafetiva. De acordo com o texto, que está em análise no
Senado, a alteração garante maior segurança jurídica à população
LGBTQIAPN+.
Luciana Musse, professora de Direito de Família do Centro Universitário de Brasília (CEUB) e advogada especialista em Direito de Família e Sucessões, defende atualização proposta e aponta a efetivação da garantia dos direitos dos casais homoafetivos. Segundo ela, os avanços não se limitarão aos institutos jurídicos, mas afetarão a percepção da população LGBTQIAPN+ de maneira geral.
Confira entrevista, na íntegra:
Qual é o impacto da atualização do Código Civil na legalização da união homoafetiva no Brasil?
LM:
O impacto da legalização do casamento homoafetivo proposta pela
comissão de juristas, se aprovada pelo legislativo, é a maior segurança
jurídica para os casais, pois, no Brasil, a lei é a fonte mais
importante do Direito e deve prevalecer em relação a outras fontes como a
jurisprudência ou a doutrina.
Considerando a decisão unânime do STF equiparando as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres, como influencia a interpretação do Código Civil em vigor?
LM:
A decisão influencia a interpretação das normas cíveis e registrais
relacionadas ao casamento e à união estável, que deverão ser feitos
conforme a Constituição. Apesar de a redação atual do Código Civil e da
própria Constituição Federal mencionar "homem e mulher", o intérprete
(como um tabelião ou juiz) deve entender essa expressão como "entre duas
pessoas" para não violar os princípios constitucionais da dignidade
humana e da igualdade, evitando assim a discriminação.
De que outras formas a atualização do Código Civil pode influenciar as relações contratuais e o direito sucessório no Brasil?
LM:
O reconhecimento legal do modelo de família homoafetiva, quer pelo
casamento, quer pela união estável, tem desdobramentos em outros
institutos, como a obrigação alimentar, inclusive ao pagamento de
alimentos compensatórios. Assim entendido como o valor a ser pago ao
“cônjuge ou convivente cuja dissolução do casamento ou da união estável
produza um desequilíbrio econômico que importe em uma queda brusca do
padrão de vida”. Se aprovado, terá impacto em outros campos do direito,
como o direito sucessório, que disciplina a herança e o testamento, por
exemplo.
Como a Resolução 175/2013 do CNJ contribuiu para garantir os direitos das uniões homoafetivas no país?
LM:
A Resolução n. 175/2013 reforça e reafirma o direito fundamental à
formação, à formalização e ao reconhecimento da família homoafetiva, por
intermédio do casamento quando veda a recusa de habilitação e
celebração do casamento ou à conversão de união estável em casamento
entre pessoas do mesmo sexo. Além de prever a comunicação dessa recusa
ao juiz corregedor, para providências.
Considerando a atual configuração do Senado, quais são os desafios esperados na aprovação das mudanças propostas no anteprojeto do Código Civil em relação à união homoafetiva?
LM:
Desde o início dos trabalhos da comissão de juristas, foram
disseminadas fake news em torno dessa e outras temáticas, como a
legalização do aborto. Como o campo da política é muito sensível à
opinião pública, pode haver maior resistência à aprovação desses
dispositivos legais voltados à proteção das famílias homoafetivas.
Além da dimensão legal, de que forma a mudança no Código Civil pode impactar a percepção social e cultural das uniões homoafetivas no Brasil?
LM:
O direito, como um fenômeno social, tanto influencia quanto é
influenciado pela sociedade, em uma relação dialética. Nesse contexto,
as mudanças aprovadas em relação ao casamento e à união homoafetiva irão
moldar o comportamento da população e das autoridades, impulsionando,
ampliando e até acelerando modificações culturais. Essas transformações
não se limitarão apenas aos institutos jurídicos, mas afetarão a
percepção e os direitos da população LGBTQIAPN+.
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