A epidemia do crime e seus danos sociais e econômicos
Em
agosto do ano passado, escrevemos artigo, publicado em vários jornais,
intitulado “O amargo preço da violência”, no qual alertávamos sobre a
premência de políticas de Estado mais amplas e eficazes de combate à
criminalidade, problema crônico e grave, que intimida e dissemina o
terror em nossa sociedade. Os números são de um cenário de guerra: em
2022, segundo dados de 2023 do Monitor da Violência, o País teve
40,8 mil mortes causadas por homicídios, latrocínios e lesões corporais.
Além do flagelo irreparável das vidas roubadas, o Brasil perdeu, em
2022, R$ 410 bilhões em decorrência do mercado ilegal, segundo o Fórum
Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). Em
consequência dessa grave situação, as empresas gastam R$ 171 bilhões
anuais com sistemas e medidas de segurança privada. O valor representou
1,7% do PIB nacional em 2022, último ano com os dados totais
disponíveis. A informação consta de estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), inserido no seu Atlas da Violência. O
problema é muito complexo e não tem solução pronta, mas exige
mobilização mais robusta e responsável do poder público, incluindo a
União, estados e municípios. As
causas são muitas, desde a exclusão socioeconômica, passando pela
precariedade do ensino gratuito, até as ações do crime
organizado/tráfico de drogas e armas, que atua cada vez mais como as
máfias e se estruturam num Estado paralelo, mantido pelo poder das armas
e imposição do medo. Por isso, é necessária ação articulada
multidisciplinar, com olhar de curto, médio e de longo prazo, incluindo
imediata e mais eficiente estratégia de combate e repressão. A
criminalidade e a violência também afetam de modo direto a
competitividade das empresas e o ambiente de negócios. Preocupamo-nos
com isso neste momento em que o parque fabril está mobilizado no sentido
de promover o fomento, modernização e ganhos de produtividade,
consciente de que o setor, como se observou em numerosos países, é
fundamental para o crescimento econômico sustentado e melhoria da renda e
do bem-estar da população. Nesse sentido, é grande a expectativa de que
a Nova Indústria Brasil (NIB), política pública em curso, consiga
contemplar esses objetivos. Porém,
dois aspectos, já citados aqui, dificultam a conquista dessas metas: o
desestímulo aos investimentos e as altas despesas com segurança. Há,
ainda, a restrição do mercado, devido à concorrência ilegal com produtos
advindos de roubos, descaminho, contrabando e empresas que só existem
para lavar dinheiro. Outro efeito colateral gravíssimo da criminalidade é
a perda de talentos e recursos humanos, pois numerosos profissionais de
distintas áreas, pesquisadores e cientistas buscam emigrar para viver e
trabalhar em paz. Nosso
país tem imensa possibilidade para crescer e alcançar elevado patamar
de desenvolvimento, considerando suas dimensões territoriais, mercado
potencial superior a 200 milhões de habitantes, recursos naturais,
reservas hídricas, indústria diversificada e competente, agronegócio
avançado e um moderno setor de serviços. Porém, o crime é um dos fatores
que retardam nosso progresso. Não podemos mais nos resignar à
intervenção da violência em nossa trajetória como povo e nação. *Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Atendimento à imprensa - Ricardo Viveiros & Associados Oficina de Comunicação |
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