Durante
o mês de novembro as fitas azuis tomam conta das instituições de saúde e
até mesmo das redes sociais. Mundialmente conhecido como o mês dedicado
à prevenção do câncer de próstata, em novembro a cor azul também assume
um outro alerta: a prevenção e conscientização sobre o diabetes.
Em um cenário em que mais de 527 milhões de pessoas convivem
diariamente com a doença, olhar para o segundo lado da fita é um tema
emergente na sociedade atual.
De acordo com o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF),
o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo,
registrando 16,8 milhões de pessoas com a doença entre 20 e 79 anos.
Representado pela produção insuficiente de insulina característico do
diabetes tipo 1 ou má absorção de glicose, característico tipo 2,
hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o
organismo, o diabetes é uma doença crônica que demanda um cuidado
periódico. Alcançando mais de 10% da sociedade brasileira,
a parcela da população que vive longe de centros urbanos enfrentam
desafios diários para ter acesso ao tratamento básico da doença.
Essa
é a realidade vivida por uma comunidade que luta uma batalha silenciosa
em meio às dunas dos Lençóis Maranhenses. Localizado ao norte do
estado, Buritizal, comunidade pertencente ao município de Santo Amaro do
Maranhão, fica a quatro horas de distância da capital do estado, um
percurso de 251 quilômetros que tem que ser realizado para ter acesso à
médicos especialistas. Rodeados pela areia e o escaldante sol, o caminho
mais fácil para chegar até a comunidade é pelas dunas, trajeto que
dificulta o acesso à medicamentos, alimentos e produtos para a subsistência básica. São rostos, histórias e desafios únicos que clamam por soluções integradas e inovadoras.
A equipe da startup social SAS Brasil,
realizou uma expedição na região para a prevenção, diagnóstico e
tratamento das pessoas com diabetes. Durante a ação com profissionais
multidisciplinares formada por nutricionistas, enfermeiros e médicos foi
possível entender a realidade do lugar. Os atendimentos, que
aconteceram de forma presencial e remota, foram realizados na casa de
uma das moradoras, já que a região ainda não conta com uma
infraestrutura dedicada para os serviços de saúde.
A nutricionista e coordenadora do projeto com foco em diabetes, Juliana Nabarrete, explica que os desafios vão do acesso à consulta e exames até a compra dos alimentos e medicamentos.
“Pessoas com diabetes precisam de duas consultas ao ano para o
gerenciamento de complicações e avaliação do tratamento. A limitação no
acesso a consultas especializadas é um obstáculo significativo, a
demanda ultrapassa a oferta. Em paralelo, em uma realidade em que até
comprar vegetais frescos é um “luxo”, o tratamento do diabetes muitas
vezes acaba tornando-se um dilema", destacou a profissional ao finalizar
a ação.
Responsável
pelo projeto há quase dois anos, Juliana aponta que muitas vezes, além
da falta de especialistas, o acesso ao medicamento apropriado torna-se
uma dificuldade que vai além da disponibilidade. "Em certas situações o
remédio mais apropriado para buscar um melhor controle da doença é caro e
não tem versão genérica.
A
solução é pedir em farmácia de alto custo no SUS, mas muitas vezes o
procedimento de solicitação acaba se perdendo ou por falta de
conhecimento do profissional ou por prescrição com o nome comercial,
assim o paciente acaba não comprando a medicação adequada ou destinando
grande parte de seu sustento diário para o tratamento" relata a
nutricionista.
É neste cenário que o projeto desenvolvido em parceria com a indústria farmacêutica Novo Nordisk tem como princípio uma abordagem que considera as nuances socioeconômicas e culturais da localidade.
É assim que a educação torna-se uma ferramenta poderosa, com
enfermeiros desempenhando um papel vital ao fornecer orientações
práticas e ampliar o cuidado além da prescrição médica. A nutrição,
muitas vezes negligenciada, também emerge como um pilar crucial do
tratamento, visando não apenas otimizar os índices de hemoglobina
glicada, mas também fortalecer a saúde global da comunidade.
“Adaptar
a dieta às particularidades locais, como a inclusão de fontes de
proteína nos alimentos cotidianos, representa uma estratégia prática e
culturalmente relevante. A conscientização sobre o impacto do café e
tapioca nos picos de glicemia torna-se essencial, desmistificando
práticas alimentares arraigadas na cultura local”, evidencia a
nutricionista.
Uma realidade para além de Buritizal
A
comunidade maranhense é uma de milhares de agrupamentos ou até mesmo
municípios que enfrentam diariamente dilemas no cuidado e acompanhamento
de pessoas com diabetes. Atualmente, a SAS Brasil acompanha 3.070
pessoas com o diagnóstico da doença que moram em localidades remotas em
estados como Goiás, Ceará e Maranhão. Neste cenário, o projeto visa
sempre atuar como engrenagem do Sistema Único de Saúde, potencializando o
cuidado que é ofertado.
Dessa
forma, ao proporcionar suporte abrangente a pacientes
recém-diagnosticados, concentrando-se em áreas cruciais como tratamento,
rastreamento de complicações crônicas e educação em saúde, torna-se
possível mapear, evitar e tratar as complicações do diabetes, como a
retinopatia diabética que pode causar a perda da visão se não
acompanhada.
Não
se limitando aos pacientes, aos profissionais de saúde e Agentes
Comunitários de Saúde estão constantemente envolvidos nas atividades de
educação com foco no cuidado com o diabetes. A abordagem contínua e
abrangente de cuidados ao longo do tempo é explicada, formando a linha
de cuidado para pessoas com Diabetes Mellitus.
Os
resultados e impacto da iniciativa são apresentados, evidenciando
melhorias nos cuidados de saúde e na qualidade de vida dos pacientes.
Com a utilização da tecnologia por meio da telessaúde que permite a
consulta com especialistas e o acesso a regiões de baixo IDH, o projeto
possui o potencial de fazer uma diferença significativa na gestão do
diabetes e na prevenção de complicações crônicas. Sua narrativa oferece
uma oportunidade de compartilhar o sucesso, inspirando iniciativas
semelhantes em outras regiões.
Sobre a SAS Brasil
Startup
social, uma instituição do terceiro setor que desenvolve e implementa
soluções de acesso à saúde. Desde 2013, atua de forma itinerante em
cidades carentes de acesso a médicos especialistas, resolvendo os
problemas de saúde de ponta a ponta, impactando diretamente as filas de
espera do SUS. Com a missão de levar saúde e alegria para quem mais
precisa, a SAS Brasil criou soluções inovadoras e premiadas, nacional e
internacionalmente.
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