As pessoas têm um limite de tolerância aos desmandos de governos ruins. E os governadores e legisladores democrata são muito ruins. Flavio Quintela para a Gazeta do Povo:
Todos
os anos, sempre no mês de janeiro, a U-Haul divulga seu relatório anual
de utilização de frota. Para quem não sabe, a U-Haul é a empresa líder
no aluguel de veículos de mudança – desde picapes até caminhões com baú
de nove metros – em todo o território norte-americano. A grande maioria
dos habitantes deste país não paga uma empresa de mudança quando sai de
uma residência para outra. Aqui a gente faz tudo sozinho, no máximo com a
ajuda dos amigos. Eu mesmo acabei de passar por isso. Você reserva um
caminhão, diz onde quer pegar e onde quer devolver, diz quantas milhas
pretende rodar, e depois escolhe se quer itens auxiliares como carrinhos
para transportar móveis, mantas de proteção e plástico bolha. Chegado o
dia da mudança, basta se dirigir à unidade escolhida, passar o cartão
de crédito e sentar na boleia. Todos os veículos são de transmissão
automática e de fácil direção.
E
o que a U-Haul tem a ver com os grandes temas dos Estados Unidos?
Muito. Por deter mais de metade de seu mercado, seus dados refletem o
que está acontecendo em termos de mudanças de pessoas dentro do país. E
os americanos se mudam bastante; em média, cada um se muda 11,7 vezes
durante sua vida. De acordo com dados do último censo, 31 milhões de
pessoas se mudaram no ano de 2019, quando a pandemia ainda não fazia
parte da lista de motivos das pessoas. E dessas, mais de 3 milhões se
mudaram para outro estado. E é aí que a coisa começa a ficar
interessante, já que as diferenças entre estados no tocante a custo de
vida, leis, educação e liberdade podem ser bem grandes dependendo de
quem é comparado a quem.
Quando
alguém se muda de estado utilizando um caminhão da U-Haul, o veículo é
devolvido no destino. Ou seja, a empresa tem dados precisos de onde as
pessoas saíram e para onde foram. E com base nesses dados, ela compila
um ranking entre os 50 estados, onde o primeiro colocado é o que mais
recebeu migrantes. Para nenhuma surpresa, a Califórnia ocupa mais uma
vez a última posição no ranking de 2021, e o Texas ocupa a primeira. A
Flórida vem logo atrás, em segundo, seguida de Tennessee, Carolina do
Sul e Arizona. Somente em 2021 foram mais de 2 milhões de caminhões
alugados para viagem só de ida. A média atual de pessoas por domicílio
nos Estados Unidos é de 2,3. Isso significa que somente a U-Haul alugou
caminhões para quase 5 milhões de migrantes, um número muito superior à
média pré-pandemia. E um fato curioso: houve, em 2021, um momento em que
a U-Haul ficou sem nenhum caminhão disponível aos californianos,
tamanho foi o êxodo do estado.
A
explicação para esses dados é bastante simples. As pessoas têm um
limite de tolerância aos desmandos de governos ruins. E os governadores e
legisladores democratas, via de regra, são muito ruins. Não há surpresa
nenhuma na última posição da Califórnia, nem na falta de caminhões por
lá. A lista é longa, mas os fatores principais são custo de vida
altíssimo, violência e sujeira nos grandes centros, impostos e mais
impostos, estímulo à criminalidade por conta de leis absurdas,
interferência do Estado em assuntos familiares e educacionais e, no topo
de tudo isso, as políticas autoritárias adotadas durante a pandemia.
Cada vez mais as pessoas se perguntam “por que ficar aqui se posso viver
melhor em outro lugar?” e acabam encontrando a mesma resposta. O final
da história geralmente se dá em uma unidade da U-Haul.
Curiosamente,
os dois estados que mais receberam migrantes em 2021 são também os mais
republicanos da nação. São os estados em que as restrições relacionadas
à pandemia foram mais frouxas, onde a obrigatoriedade de uso de máscara
durou muito pouco tempo, onde se permitiu que a economia fosse reaberta
o mais rapidamente possível, e onde os governadores e legisladores
estaduais trabalharam para manter as liberdades que sempre
caracterizaram os Estados Unidos da América como um farol para o mundo.
Acho que, no fim das contas, as pessoas gostam mesmo é de liberdade,
ainda que sejam chamadas de “negacionistas”, “antivaxers” ou
“terraplanistas”. No fim das contas, elas querem apenas ser deixadas em
paz, sob uma interferência mínima do Estado, livres para cuidar de suas
famílias e educar seus filhos conforme lhes aprouver.
Enquanto
isso, as condições de vida não param de piorar nos fortes redutos
democratas, onde o Estado quer em tudo mandar. E as diferenças entre
estados muito azuis e muito vermelhos vão se aprofundando cada dia mais.
É difícil prever o resultado desse processo. Politicamente, a migração
afeta a representatividade dos estados no Legislativo federal. É uma
transformação de longo prazo, mas que ganhou uma turboalimentação com as
migrações relacionadas à pandemia. E o ano de 2022 trará ainda dois
resultados de impacto gigantesco sobre a política norte-americana: a
decisão da Suprema Corte sobre o caso da lei de restrição de aborto do
Mississippi – que pode reverter a jurisprudência de Roe v. Wade – e os
resultados das eleições de midterm. A se confirmarem os prognósticos, os
liberais enfrentarão uma derrota histórica, e o abismo entre os dois
partidos pode se aprofundar ainda mais, já que é pouco provável que os
democratas optem pelo caminho mais ao centro (é quase certo que
triplicarão a aposta na radicalização e se afastarão ainda mais para a
esquerda).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário