Em seu segundo livro (não é o primeiro, ao contrário do que diz artigo
abaixo), Matt Walsh dá um tapa na cara dos cristãos que se calam diante
da perseguição sofrida pelos que seguem a religião. "Num mundo em que
extremistas de esquerda chegam a pregar a derrubada de estátuas de Jesus
por simbolizarem a “supremacia branca”, parece crucial entender o que
está em jogo, comenta Rodrigo Constantino, via Gazeta:
Como um cristão pode manter sua fé e seus rituais num mundo cada vez
mais secularizado e materialista? Como um americano que professa a fé
cristã é capaz de encarar o enorme preconceito vindo da elite
cosmopolita? É possível se manter fiel a Jesus Cristo e seus
ensinamentos nesse meio insalubre? Essas são as questões colocadas por
Matt Walsh em seu primeiro livro, cujo título já mostra a que veio:
Church of Cowards [Igreja de covardes]. Trata-se de um chamado de
despertar para os cristãos complacentes.
Independentemente da crença ou não em Cristo, o livro é instigante
para todo público, ainda que direcionado basicamente aos cristãos. Num
mundo em que extremistas de esquerda chegam a pregar a derrubada de
estátuas de Jesus por simbolizarem a “supremacia branca”, parece crucial
entender o que está em jogo.
As palavras de Walsh são bem duras, um soco na cara daqueles que se
dizem cristãos, mas não praticam nada dos ensinamentos de Cristo. Ele
abre com uma provocação: alienígenas que desejassem destruir o legado
cristão ficariam decepcionados de encontrar seus supostos representantes
na América atual, fracos demais, autocentrados e efeminados. A matança
nem valeria muito a pena, diz, pois não teria um rival à altura.
Frustrados, esses inimigos iriam embora sem esmagar o estilo cristão
de vida, pois não encontrariam nada parecido. Eles descobririam que
aquilo que pretendiam eliminar já está morto mesmo, restando somente uma
carcaça em seu lugar. “Está claro que nós não vivemos mais numa nação
cristã”, constata o autor, mesmo que algo como 70% da população professe
ser cristã.
Walsh menciona os casos de perseguição a cristãos mundo afora,
amplamente ignorados pela mídia e pelo próprio povo. Quase ninguém liga,
mas esses são cristãos verdadeiros, dispostos a morrer pela Igreja,
pela fé em Cristo. Só que tudo acontece longe demais para ser notado,
tanto em geografia como em experiência. Do conforto da civilização
ocidental, os supostos cristãos tomam como garantida a sobrevivência do
cristianismo. E nada fazem contra a guerra promovida contra sua Igreja.
A perseguição a cristãos hoje é das maiores da história. Afeganistão,
Somália, Sudão, Paquistão, Coreia do Norte, Líbia, Iraque, Iêmen, Irã,
Egito: nestes e em tantos outros países os cristãos costumam ser presos,
torturados, espancados, estuprados e mortos, além de impedidos de
professar com liberdade sua fé. Suas igrejas são destruídas, e muitos
precisam arriscar a vida para adorar a Deus em encontros secretos. Eles
vivem em constante perigo.
Nada disso soa real para quem vive no conforto americano, tendo de
enfrentar apenas idiotas que xingam os crentes. Para Walsh, não há
exagero em afirmar que o cristão americano médio nunca abandonou uma só
coisa importante por Cristo, mesmo que Ele tenha dito para largar tudo e
segui-Lo, abraçar o sofrimento, carregar sua cruz. O cristão moderno,
na tranquilidade americana, não parece tão disposto ao real sacrifício
por sua fé.
Ao contrário desses casos mundo afora, porém, Walsh diz que ninguém
está parando os cristãos americanos além deles próprios. Criam
justificativas para não serem religiosos de fato, deixando-se consumir
pelo conforto. Um guerreiro de Cristo que não se deixa intimidar, que
não se conforma com a passividade, é uma “bomba nuclear” no arsenal
divino. Infelizmente, constata o autor, há pouquíssimos com esse perfil
no país.
Desta forma o trabalho dos perseguidores de Cristo fica bem
facilitado. Basta deixar cada um ser arrogante e cheio de si, acomodado e
acovardado, para que a Igreja vá desaparecendo gradualmente, sem luta. A
receita tem sido bem-sucedida: “Não apele ao medo deles; apele para sua
luxúria, sua preguiça, sua gula, sua vaidade, seu orgulho, seu tédio. E
os veja caírem como moscas no fogo”.
A Igreja está morrendo de inanição, de dentro para fora. “O
verdadeiro perigo que enfrentamos não é a perseguição cataclísmica e
violenta, mas o lento abandono da Verdade. Foi o que aconteceu com a
cristandade no Ocidente”. Apatia é a palavra que define melhor os
crentes de hoje. Eles criaram uma bolha de autoengano e nela vão
flutuando rumo ao Inferno. “O cristão moderno pensa que acreditar que
ele é cristão é suficiente para torná-lo cristão”, lamenta Walsh.
Poucos questionam o quanto de fato a fé em Deus é relevante para suas
vidas. A maioria mantém essa fé como uma espécie de utensílio esquecido
no canto do quarto, uma raquete velha, um tipo de hobby a ser praticado
de vez em quando. Falta coragem. A reverência ao sagrado foi retirada
das igrejas, cada vez mais locais “agradáveis”, feitos para encontros
sociais ou mensagens de autoajuda. Não há sequer mais o silêncio que
força um encontro interior, a contemplação, mas sim barulho, muito
barulho. “Nossa abordagem casual, falsa e egoísta da fé resultou em
desastre”, fulmina Walsh.
Não é preciso ser cristão para apreciar a essência da mensagem do
livro. Inseridos num ambiente extremamente secular e mesmo anticristão, o
“default” é todos se tornarem mais ou menos seculares e materialistas.
Se nem os cristãos forem capazes de remar contra essa maré, para
enaltecer o sagrado frente ao profano, então nem há mais razão para
temer os inimigos de fora: os valores cristãos, fundadores do Ocidente,
já foram deixados de lado pelos próprios ocidentais.
“É fácil ser virtuoso em nosso mundo porque adotamos virtudes fáceis.
Aplaudimos a nossa bondade, mas não custa nada ser ‘bom’ nos tempos
modernos”, alfineta Walsh. Quando observamos tanta sinalização de
virtude nas redes sociais, fica claro que ele tem um ponto. Mas para
defender o Bom, o Belo e o Verdadeiro, é preciso muito mais do que isso,
do que um “lacre” no Twitter. É preciso coragem, a virtude mais básica,
e uma disposição pelo sacrifício em nome da Verdade, o que é algo bem
raro. Isso soa incompatível com quem busca autoestima em vez de gratidão
a Deus.
O narcisismo da era moderna é um grande aliado de Satã nessa batalha.
Para amar Deus e lutar pela Igreja, Walsh entende que é crucial focar
naquilo que é eterno, não no efêmero. Quantos estão dispostos a fazer
essa escolha?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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