Ângelo Coronel, o censurador. |
Enterraram a Liberdade numa vala comum, onde jaziam também suas irmãs
Democracia e Justiça. A pá de cal foi jogada por um coveiro chamado
Coronel. Artigo de Paulo Briguet, editor do Brasil Sem Medo:
Todos os mortos da pandemia devem ser pranteados. Cada um deles tinha
um nome, uma história, uma família, uma missão, uma alma imortal. Da
mesma forma que a partitura de um concerto segue existindo depois que a
música cessou de ser tocada, essas pessoas seguem vivas no plano eterno,
cujo correspondente na Terra é o coração humano. Sentimos saudade
daqueles que partiram; a saudade é o tributo que o tempo paga à
eternidade.
Mas eis que as nossas lágrimas e a nossa dor hoje pranteiam uma velha
amiga, a Liberdade. Entre os donos do mundo, pouquíssimos foram aqueles
que lamentaram seu falecimento. Em nosso país, a Liberdade morreu
anônima, silenciosa, como um indigente na boca da noite. A grande mídia
sequer reservou-lhe uma notinha de rodapé. Velório e missa de exéquias
foram proibidos pelas autoridades sanitárias; enterraram a Liberdade
numa vala comum, onde jaziam também suas irmãs Democracia e Justiça. A
pá de cal foi jogada por um coveiro chamado Coronel.
Embora o atestado de óbito registre como causa mortis o Covid-19,
Liberdade morreu de morte matada. Perseguida implacavelmente por seus
inimigos, foi alvo de calúnias sem fim. Disseram até que ela tencionava
matar Democracia, sua irmã querida. Xingaram-na de defensora da ditadura
e acusaram-na de ameaçar a segurança nacional. Deram-lhe até um apelido
jocoso: Fake News. Uma extremista de direita, essa Liberdade!
No entanto, o verdadeiro motivo de tanto ódio à Liberdade é que
Liberdade é conservadora. O sentido de sua vida consistia em defender
tudo aquilo que mais amava: sua fé, sua família, seu trabalho, seu país.
Liberdade não tinha medo de nada; aprendeu isso com sua mãe, Coragem.
Liberdade não morreu de uma vez só. Foi sendo envenenada aos poucos;
seus algozes diziam que o veneno era necessário para garantir a saúde
pública. E então ela foi morrendo ― foi morrendo em cada emprego
perdido, em cada inocente perseguido, em cada palavra censurada, em cada
abuso cometido. Morreu um pouco quando o ministro foi para o exílio;
morreu outro tanto quando o jornalista foi preso; morreu bastante quando
o ex-herói se revelou traidor. Morreu por pensamentos, palavras, atos e
omissões. Como Sócrates, morreu condenada por um colégio de juízes.
E os mesmos juízes que condenaram Liberdade providenciaram-lhe uma
substituta: Censura. Embora não gostem de pronunciar o nome da sucessora
― pode causar má impressão ―, no fundo os juízes acreditam que só
Censura vai resolver os problemas causados por Liberdade.
Desarmamentistas até o fundo da alma, estão convictos de que só Censura
pode acalmar o povo e assegurar a paz. A paz dos escravos.
Mas há algo que os juízes não sabem — ou fingem não saber. Liberdade
ainda vive no coração de cada um de nós; é um presente que nos foi dado
por Deus. E de nosso coração ela vai ressuscitar, porque é mais forte
que todos os senhores do mundo.
― Paulo Briguet é cronista e editor-chefe do BSM.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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