O que pode ajudar a resolver, isso sim, é pensar com seriedade numa
lógica para enfrentar a doença e não arrastar o país ao abismo. J. R.
Guzzo, em sua coluna publicada pela Gazeta do Povo:
Sempre é preciso tomar muito cuidado quando você decide que sua
prioridade é ser responsável ao máximo, ou há o sério risco de perder o
pé e acabar agindo de maneira irresponsável – exatamente o oposto das
suas intenções. Acontece, com frequência, quando a obrigação de ser
responsável supera a sua obrigação de pensar. O senso de
responsabilidade, então, se torna destrutivo e leva as pessoas a caírem
num mundo mental de desprezo insensato pela verdade. Os resultados são
os que se pode imaginar. No Brasil do coronavírus, é algo que se pode
ver todos os dias.
Todos, em geral, querem fazer o bem, e cada um quer fazer mais o bem
que todos os outros – governos, mídia, entidades, organizações, médicos,
hospitais, direita, centro, esquerda. Em suma: todo mundo que pode
decidir alguma coisa, do presidente da República ao síndico do prédio,
acha sua obrigação agir com o máximo de prudência, cautela e toda a
coleção de virtudes aparentadas a essas – é a “responsabilidade”.
Em relação à epidemia, a ideia predominante, ou a chamada “sabedoria
convencional”, é copiar o tempo todo quaisquer atos de proibição,
restrição, interdição, suspensão, cancelamento, fechamento determinados
por alguém que está ao seu lado, e principalmente acima, na árvore dos
que mandam.
Fechou lá? Então fecha aqui. Não pode lá? Então não pode aqui. O
certo seria pensar, caso a caso, se é ou não necessário fazer a mesma
coisa – ou, mais ainda, se o correto é fazer o contrário. No momento,
parece que apenas uma minoria pensa assim – ou, melhor dizendo, parece
que apenas uma minoria se dá o trabalho de pensar. O ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, talvez seja um exemplo.
Mandetta lembrou que sim, perfeito, tudo bem, precisamos agir com o
máximo de rigor para combater o contágio. Mas lembrou também que é
preciso transportar cloro para tratar os sistemas de água corrente. Se
são tomadas medidas que impedem as companhias de saneamento de colocar
cloro na água, pelas restrições em cadeia que crescem a cada 24 horas,
você estará salvando o Brasil do coronavírus — e destruindo um dos
princípios mais elementares da saúde pública.
O que é pior: coronavírus ou água contaminada, principalmente nas
grandes cidades, onde estão os focos principais da epidemia? Os dois são
piores – não há escolha — e os dois têm de ser combatidos. Mas para
fazer o combate completo à doença, uma coisa não pode impedir a outra.
Muita coisa, neste momento, está sendo decidida, tanto nos governos como
no setor privado, sem a consideração correta das consequências. Um
carro não anda só com acelerador, ou só com freios – é indispensável
combinar os dois, a menos que se queira arrumar uma colisão frontal ou
ficar parado no mesmo lugar.
É angustiante que quase ninguém esteja pensando numa coisa chamada
“emprego” – ou em trabalho, produção, atividade. Não se trata de ficar
falando em “verbas”, como políticos e governos adoram fazer. Desemprego?
Toca uma verba aí, mesmo que não exista de onde tirar um tostão dessa
verba. Isso não resolve nada. O que pode ajudar a resolver, isso sim, é
pensar com seriedade numa lógica para enfrentar a doença e não arrastar o
país ao abismo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário