Enquanto o resto do mundo se une para vencer a pandemia, muitos brasileiros travam combates dispensáveis. Augusto Nunes:
Nos Estados Unidos, democratas e republicanos suspenderam a sempre
animada pancadaria eleitoral para derrotarem juntos a pandemia de
coronavírus. Nada lhes parece mais importante que a vitória sobre o
inimigo comum.
Na Itália, críticas muito pertinentes à demora do governo em avaliar a
extensão do perigo ficaram para depois. Políticos de todas as
tendências e siglas compreendem que nada deve retardar o fim do
pesadelo. Esse é o perigo real e imediato. O inimigo comum.
Nas varandas em Barcelona, nacionalistas catalães e antiseparatistas
aplaudem juntos, no começo da noite, o heroísmo dos médicos, enfermeiros
e demais soldados do sistema de saúde que travam por eles a guerra
contra o inimigo comum.
Na Inglaterra, jornais esqueceram as travessuras da família real para
que não falte um centímetro de espaço ao noticiário exigido pelo
coronavírus. Tem sido assim em todos os países. Melhor: todos os que
identificaram com nitidez o inimigo comum. Não é — ainda —o caso do
Brasil.
No país do Carnaval, a pandemia é o tema do momento, mas o besteirol
continua relevante. Deputados exigem o impeachment do presidente da
República, com o apoio de guerrilheiros empunhando panelas. Jornalistas
denunciam Jair Bolsonaro por mau uso de máscaras no rosto. E o PT
continua berrando que o vírus nascido na China foi concebido e espalhado
por Bolsonaro.
No começo dos anos 60, Nelson Rodrigues constatou que os idiotas
haviam perdido o pudor e, pior, estavam por toda parte. Se estivesse
vivo, o grande cronista saberia que nunca houve tantos cretinos
fundamentais na imprensa e no Congresso.
A idiotia tornou-se epidêmica no Brasil. E idiotas não conseguem enxergar um inimigo comum.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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