A viagem a Israel foi um bom exemplo. A imprensa, maciçamente, diz que
ao abrir um escritório comercial em Jerusalém desagradou a todos.
Estranho, não? Coluna dos jornais de quarta-feira de Carlos Brickmann:
O presidente Jair Bolsonaro tem muitos defeitos, não perde
oportunidades de perder oportunidades, lidera um Governo tão completo
que cuida até de fazer oposição a si mesmo. É correto criticar Bolsonaro
(e o Governo) por suas inúmeras falhas. Mas, se há tantas falhas, por
que não criticá-lo por elas? É incorreto, e desnecessário, o esforço
para criar falhas e então atacá-lo.
A viagem a Israel foi um bom exemplo. A imprensa, maciçamente, diz
que ao abrir um escritório comercial em Jerusalém, quando havia
prometido para lá transferir a Embaixada, desagradou a todos: aos
árabes, contrários à qualquer iniciativa que envolva Jerusalém, e a
Israel, decepcionado com o adiamento da transferência. Estranho, não?
Considerando-se que a ideia do escritório nasceu numa conversa de
Bolsonaro com o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelly, em
novembro, e que até as pedras de Jerusalém sabiam que era o que
aconteceria, houve mesmo decepção? A propósito, a República Tcheca fez a
mesma coisa: primeiro o escritório, a Embaixada irá mais tarde. E
ninguém ficou decepcionado nem fez mimimi por isso.
O ministro Sergio Moro também tem defeitos a criticar. Mas agora vem
sendo atacado, via Internet, por não conseguir pronunciar direito a
palavra “cônjuge” (ele diz “conge”). Isso é prova, segundo os críticos,
de que ele não entende nada de Direito e mesmo assim se atreveu a
condenar Lula à prisão – justo Lula, “o maior presidente” que tivemos.
Lula dizia “menas”. E daí?
Pensando no passado
Bolsonaro, além de não perder oportunidades de perder oportunidades,
não perde a oportunidade de entrar em brigas sem sentido. Começou com a
ênfase à comemoração do 31 de março: há anos as Forças Armadas fazem
suas cerimônias, tudo bem, mas ele quis mudar. Resultado: abriu a porta
para a contestação do que houve há 55 anos. E, buscando novas brigas,
resolveu seguir a cabeça de seu chanceler e afirmar, logo em Israel, que
o nazismo é uma ideologia de esquerda.
O Yad Vashem, o comovente memorial do Holocausto, centro de estudos
sobre o antissemitismo, diz que o nazismo é de extrema direita. É
discussão sem sentido: o nazismo, derrotado há 75 anos, é o mal absoluto
– e essa convicção só não é partilhada por algumas pessoas nocivas. E
que vantagem Bolsonaro pode obter no debate? Demonizar a esquerda? Não
dá: de Pol Pot a Mao, a esquerda criou seus próprios monstros. Não
precisa de outros, pois já tem seus pecados a expiar.
Paz...
Bolsonaro chega e, conforme combinou, deve se encontrar já amanhã com
o pessoal do Centrão e do PMDB – são 166 deputados e 35 senadores. Seus
partidos são conhecidos pela flexibilidade de negociação: rendem-se com
facilidade a bons, sólidos, múltiplos argumentos. Como dizem, não se
opõem a trabalhar com o Governo, dividindo os ônus da aprovação da
reforma da Previdência; mas querem também os bônus, ou seja, ocupar bons
cargos. O caroço da conversa é esse: o que entendem por bons cargos. Há
definições já sacramentadas, como a do deputado que disse que na
Petrobras queria cargos daqueles de furar poços. Bolsonaro terá de
convencê-los a apontar nomes competentes e honrados para que possam ter
uma participação no Governo.
...e guerra
Há hoje boas possibilidades de aprovação da reforma, apesar do lobby
de servidores públicos, da pressão sindical e das propostas de
afrouxamento do rigor da nova lei. Mas com Bolsonaro nunca se sabe: ele a
qualquer minuto pode iniciar uma discussão, com direito a insultos em
redes sociais, sobre as reais causas do início da Primeira Guerra
Mundial, em 1914. Culpa, é claro, do Kaiser da Alemanha e do Imperador
da Áustria, notórios esquerdistas.
Então, tá
O empresário bolsonarista Osmar Stabile informou ao Congresso em
Foco, importante portal de Brasília, que foi o responsável pelo vídeo de
apoio ao golpe e ao regime militar divulgado no dia 31. Disse que fez o
vídeo por sua iniciativa, com seu dinheiro. Certo: só resta descobrir
como o vídeo foi distribuído pela Secretaria de Comunicação da
Presidência da República.
Brasil inzoneiro
Reforma da Previdência, tudo bem. Mas será obedecida? Porque a lei do
teto salarial para servidores públicos não chega a ser rigidamente
aplicada. O ótimo portal jurídico gaúcho Espaço Vital (www.espacovital.com.br) traz duas notícias interessantíssimas – a fonte é oficial, é tudo documentado.
Um analista judiciário do Tribunal de Justiça do Pará pediu
aposentadoria e receberá R$ 56 mil mensais. O salário máximo de servidor
é R$ 39.200,00. Detalhe: o salário dele é de R$ 6 mil. Os R$ 50 mil a
mais são gratificação e adicionais. No outro caso, o aposentado pelo
Tribunal de Justiça da Bahia ganha menos que os ministros do Supremo: só
R$ 24.700,00 mensais. Era motorista, com salário de R$ 5.600,00. O
restante engloba as vantagens pessoais, o abono permanente e a reposição
de adicionais.
Tudo explicado?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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