Agora não é mais o PT, apenas, que está correndo da polícia. A coisa ficou preta para o PSDB e o MDB. Coluna de J. R. Guzzo, publicada na edição impressa da revista Exame:
O Brasil está ficando um país positivamente arriscado para
presidentes da República. Já não é normal, para o padrão médio de
moralidade política vigente no mundo civilizado, haver um ex-presidente
na cadeia; dois ex-presidentes presos ao mesmo tempo, então, já é coisa
para se pensar em livro de recordes, por mais temporária que possa ser
uma situação dessas. O fato é que Michel Temer, acusado pela Lava Jato
de ter transformado o Estado brasileiro numa “máquina de arrecadar
propinas” e alvo de dez inquéritos por ladroagens variadas, entrou no
camburão da polícia e foi trancafiado no xadrez como Lula, em mais um
capítulo desta espantosa crônica do crime na qual está enterrada até o
fundo da alma a vida política do Brasil. Juntou-se a ex-governadores
como o incomparável Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, seu sucessor, que
conseguiu subir na vida com o nome de “Pezão”, de Beto Richa, do Paraná,
há pouco encarcerado pela terceira vez seguida, e Marconi Perillo, de
Goiás, que entra e sai da prisão. Isso sem contar um rico fricassée de
ex-ministros ─ o último deles, justamente, Wellington Moreira Franco,
parceirão de Temer em seu governo, e motivo de perplexidade geral entre
os políticos por não ter sido preso antes. Ainda estava solto? A
propósito: e o próprio Temer, o que estava fazendo fora de uma cela? É o
Brasil de hoje.
A situação de Temer, é verdade, não é tão ruim quanto a do gênio
político a quem devemos sua criação; por enquanto não foi julgado, ao
contrário de Lula, que já está condenado em duas instâncias e cumpre
pena, com 25 anos de cadeia no lombo. Mas é uma desgraça de
primeiríssima classe ─ para ele, e, indiretamente, para todos os
delinquentes que operam há anos na vida pública nacional. Estavam
achando, talvez, que a Lava Jato tinha mais ou menos parado em Lula? Se
pensaram nisso pensaram horrivelmente errado. Pode ter até havido essa
esperança, estimulada pela incansável ala pró-crime do STF, mas a
realidade está apresentando um futuro soturno para eles todos. Figuras
como Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e companhia fazem o
que podem, mas também não são de ferro; seus protegidos, positivamente,
não ajudam. Estão exigindo assistência permanente dos protetores, numa
base quase diária. Gilmar, por exemplo, solta esse Beto Richa e até
inventa um “salvo conduto”, proibindo que a polícia chegue perto dele.
Mas o homem dá um trabalho insano: consegue ser preso de novo, o que vai
obrigar Gilmar e seus sócios a mandarem soltar mais uma vez. E aí: vai
ser assim pelo resto da vida? Quantas vezes terão de tirar o cidadão da
cadeia? Cinco? Sete? Dez? É a mesma situação, sem tirar nem pôr, dos
demais políticos dessa raça. É claro que cada caso é um caso, mas que
ninguém se iluda: não haverá a menor chance de sossego, inclusive para
Temer, enquanto não matarem a Lava Jato. Estão fazendo o diabo para
isso, mas não estão conseguindo. Essa é a vida real. O resto é barulho
na mídia e no picadeiro da politicada, que ficam cada vez mais
indignados, mas não conseguem evitar uma única e escassa prisão.
É um problemaço. Agora não é mais o PT, apenas, que está correndo da
polícia. A coisa ficou preta para o PSDB e o MDB. A quem apelar? Quem
vai fazer a campanha “Temer Livre”? Quem tiraria 1 real do bolso para
ajudar Temer em alguma coisa? E Moreira Franco, então? Pelo jeito, estão
todos reduzidos a contar com o apoio dos “garantistas”, que se
escandalizam com o que chamam de ataque “à atividade política”, mas não
decidem nada. Ou com a ajuda do deputado Rodrigo Maia, contraparente de
Moreira Franco, inimigo do projeto anticrime de Sergio Moro e
investigado em dois processos por corrupção. Têm apoio na mídia, nos
advogados milionários de corruptos, na classe intelectual, etc. Só que
ninguém consegue se dar bem defendendo o lado do ladrão; se você tem de
ficar a favor de um Paulo Preto da vida, por exemplo, a sua situação
está realmente uma lástima. Não é assim que farão a Lava Jato morrer.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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