Surgem aí problemas para os superministros e para o presidente que os
nomeou: ao enfraquecê-los, obrigando-os a mudar de opinião, também se
enfraquece, reduzindo sua credibilidade. Coluna dominical de Carlos Brickmann:
A credibilidade de Bolsonaro no mercado e na política internacional
se baseia, desde antes de sua eleição, em duas âncoras de grande
prestígio: Paulo Guedes e Sérgio Moro. Bolsonaro, embora popularíssimo,
jamais havia divulgado em profundidade seu pensamento econômico: e se
temia, por suas declarações agressivas, que tivesse viés autoritário.
Guedes e Moro resolveram o problema – tanto que a oposição não funciona.
Mas ambos estão sendo minados por Bolsonaro. Ele já disse, antes de
qualquer discussão, que a reforma da Previdência, base de sua política
econômica, pode ser “flexibilizada” – ou seja, acochambrada conforme a
vontade dos parlamentares. E Moro, o superministro da Justiça, já foi
desautorizado várias vezes: a criminalização do Caixa 2 nem entrou na
primeira lista de medidas contra a corrupção, o decreto das armas não
inclui suas ideias, a especialista que ele convidou e nomeou para sua
equipe teve de ser afastada no dia seguinte – sob aplausos de um dos
filhos do capitão, que a acusou ter aceito o convite de Moro para
sabotar o Governo.
Surgem aí problemas para os superministros e para o presidente que os
nomeou: ao enfraquecê-los, obrigando-os a mudar de opinião, também se
enfraquece, reduzindo sua credibilidade - não diante de seus eleitores,
mas de investidores estrangeiros (e nacionais), de quem em grande parte
depende seu sucesso. Qual a sensação de estabilidade que transmite aos
negócios?
Quem perde mais
Ao nomear Moro, um dos riscos de Bolsonaro era ter um subordinado
indemissível – demiti-lo significaria desistir da credibilidade de que
Moro dispunha e de sua disposição de combater a corrupção doesse a quem
doesse. Mas ninguém pensou no outro lado: se Moro pedir demissão, como é
que fica? Deixou a carreira de juiz, deixa de lado a chance de ser
ministro do Supremo e, principalmente, sai menor do que entrou,
questionado sobre o prazo de validade de suas opiniões (como, por
exemplo, dizer não há muito tempo que Caixa 2 é um crime pior do que
corrupção e, agora, dizer que Caixa 2 é menos grave do que corrupção).
E, não esqueçamos, qual sua opinião sobre a “rachadinha” no salário dos gabinetes parlamentares?
Por falar nisso
Fabrício Queiroz, aquele assessor de Flávio Bolsonaro, se manifestou:
o dinheiro que provocou suspeitas era mesmo proveniente de funcionários
do gabinete que entregavam a ele parte de seus salários. A explicação é
curiosa: ele estava preocupado em fazer com que a verba do gabinete do
Filho 01 de Bolsonaro rendesse o máximo para o deputado. Então, sem
conhecimento dele, combinava com os funcionários contratados a devolução
de parte de seus ganhos, que era utilizada para contratar informalmente
mais gente que divulgasse com mais intensidade o trabalho do deputado.
Que, claro, não sabia de nada, nem que havia gente a mais trabalhando
para ele em lugares nos quais não havia nomeado ninguém.
A caça aos tucanos...
Aparentemente, chegou ao fim a tranquilidade dos tucanos. Um dos
profissionais mais ligados aos governadores do PSDB em São Paulo, Paulo
“Preto” Vieira da Silva, foi condenado a 27 anos de prisão por corrupção
(e, segundo o Ministério Público, tem em seu poder dinheiro vivo
suficiente para lotar dois apartamentos como o de Geddel Vieira Lima –
fazendo as contas, algo como cem milhões de reais). O ex-governador de
Goiás, Marconi Perillo, coordenador da fracassadíssima campanha de
Alckmin à Presidência, já enfrenta oito processos. Num deles, pede-se
sua prisão por ter deixado um bilhão de reais em “restos a pagar” para
seu sucessor, sem que houvesse recursos para pagá-los, o que é proibido
por lei.
...ainda vai longe
E as coisas ainda podem piorar: a filha de Paulo Vieira da Silva diz
que o pai estava pronto a uma delação premiada, mas o ex-chanceler
Aloysio Nunes Ferreira Filho o convenceu a trocar de advogado e escolher
outro contrário à delação. Caso a informação seja verdadeira, por que a
luta para evitar a delação? E quais dirigentes tucanos entrarão na
linha de tiro?
O tucano é um pássaro peculiar: tem bela plumagem, mas é de voo curto. E seu bico é longo e forte.
A riqueza dos índios
Há na Florida, EUA, um esplêndido cassino. Um só; e apenas pôde ser
instalado por estar terra indígena. Terra indígena na Florida? Sim: foi
comprada por índios ricos. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina,
quer fazer como os americanos, integrar os índios à economia, em
especial ao agronegócio. Segundo diz, tem sido procurada por
representantes indígenas de diversas regiões reivindicando melhores
condições para criar riquezas e empregos em seus territórios. São bons
agricultores, diz a ministra. “E querem as mesmas oportunidades de todos
os produtores para criar riquezas, produzindo ou ganhando royalties de
quem produz”.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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