A afirmação que está no título pertence a Juscelino Kubitschek, num episódio passado em 1956, quando a Câmara Federal rejeitou o pedido de cassação do deputado Carlos Lacerda pelo fato de ter revelado o código secreto das comunicações veiculadas pelo Ministério das Relações Exteriores. Lacerda então era deputado federal e proprietário do Jornal “Tribuna da Imprensa”. Foi na “Tribuna da Imprensa” que ele revelou o código do Itamaraty, usado na correspondência com as Embaixadas que funcionavam nos diversos países.
A reação ao fato partiu do então Ministro da Guerra, general Teixeira Lott, apoiado pelos Comandos Militares existentes nos vários estados brasileiros. A pressão abriu amplo debate no Congresso.
AMPLO DEBATE – JK encaminhou ao Congresso a iniciativa militar de pedir a cassação. A matéria abriu debate também na opinião pública. O projeto teve parecer favorável na Comissão de Justiça, presidida então pelo deputado Martins Rodrigues. Porém, revelando sua visão de que os adversários são essenciais, JK recuou da cassação. No plenário a matéria foi rejeitada com maioria de seis votos num total de 285 deputados federais, número da época.
A maioria escassa atendeu à reclamação militar, de um lado, de outro atendendo a JK, e ao final o Parlamento firmou posição de apoio as Forças Armadas.
O duelo na sessão final foi emocionante, colocando em posições antagônicas o líder Vieira de Melo e Carlos Lacerda. O debate foi fantástico sobretudo por reunir dois grandes oradores.
NO CATETE – Passado o episódio, numa entrevista no Palácio do Catete, o presidente da República recebeu os jornalistas Carlos Castelo Branco, Jornal do Brasil, Vilasboas Correia, O Estado de São Paulo, e a mim, Correio da Manhã. Ouvido no dia seguinte ao desfecho, Juscelino disse que a oposição forte é essencial para o êxito de qualquer governo, cumprindo seu papel no contexto político.
A oposição na época era liderada por Carlos Lacerda, que além dos discursos na Câmara, dos artigos na Tribuna da Imprensa e no programa diário na Rádio Globo, tinha cesso também à televisão Tupi.
SEM SE ISOLAR – Incomodava muito ao governo, porém na visão de JK nenhum governo pode se isolar da realidade porque os fatos terminam sempre chamando atenção para o desempenho do Executivo. Se os presidentes da República e governadores não tiverem pela frente a voz dos contrários, terminarão sendo anestesiados pelos elogios de sempre, dos correligionários.
Em torno do poder forma-se sempre um anel imobilista de elogios. Os governantes, assim, perdem o senso crítico e deixam-se levar pelo mar de elogios. Isso é profundamente negativo. Os bajuladores de plantão, e sempre os há, terminam distorcendo a realidade e isolando os presidentes.
O episódio é um exemplo definitivo a respeito dos riscos que correm os detentores do poder. Elogiar é fácil, atacar também, mas dos dois polos surge a realidade política hoje e sempre.
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