Mera pergunta isolada em
exame pode parecer pouco, mas reflete uma tendência maior: é
consequência direta da confusão entre Estado, agenda e escola.
Reportagem da Gazeta do Povo, observando o viés ideológico esquerdista dos professores que elaboram a prova do Enem:
O primeiro dia do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no último domingo (04), manteve o
perfil de abordar temas sociais. Nas provas de Linguagens e Ciências
Humanas, as questões trouxeram assuntos como feminismo, direitos
humanos, refugiados, gênero e diversidade.
Já na prova de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, as questões passaram por temas
como racismo, feminismo, travestis, lésbicas e diversidade. Em uma
pergunta era necessário interpretar um trecho do conto “Vó, a senhora é
lésbica?”, de Natália Borges Polesso. Outra pergunta abordava o Pajubá,
dialeto adotado por gays e travestis.
“'Nhai, amapô! Não
faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!'
Entendeu as palavras desta frase? Se sim, é porque você manja alguma
coisa de pajubá, o 'dialeto secreto' dos gays e travestis”, propunha o
texto.
O presidente Jair
Bolsonaro criticou a questão: "Uma questão de prova que entra na
linguagem secreta de travesti não mede conhecimento nenhum. Temos que
fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis", disse Bolsonaro em
entrevista ao programa Brasil Urgente nesta segunda-feira (5).
Fracasso sistêmico
“A proposta do ENEM
é, em si, fadada ao fracasso. Você jamais conseguirá reunir em exame
único de abrangência nacional aspectos científicos e/ou culturais de uma
nação de dimensões continentais”, avalia Dennys Garcia Xavier,
professor Associado de Filosofia Antiga, Política e Ética da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Doutor em Storia della
Filosofia pela Università degli Studi di Macerata.
“A não ser em um
único caso: que avaliássemos os resultados de currículo mínimo empregado
em todo o país, sem qualquer elemento próprio de regiões, aspectos
antropológicos ou notas culturais de regiões específicas”, completa.
Para ele, uma mera
questão isolada em um exame pode parecer pouco, mas reflete uma
tendência maior: é consequência direta da confusão entre Estado, agenda e
escola, uma prática comum nos últimos anos em que o aparelhamento do
setor público se tornou norma.
“Em mãos de
elaboradores inábeis, sejam bem ou mal intencionados, o que é ruim fica
ainda pior: a prova, com a de 2018, evoca elementos que poderíamos
chamar de ‘lacração’, que nada tem a ver com interesse nacional,
formação científica ou humanística de base”, diz Dennys.
Direitos humanos
No primeiro dia do
Enem, os temas políticos se repetiram: textos de Eduardo Galeano, autor
uruguaio de esquerda, trecho de discurso do presidente João Goulart
contra a privatização da Petrobrás. Direitos humanos já são um tópico
recorrente, mas sem abordar sua composição legal.
“Os ‘direitos
humanos’ do Enem não têm nada a ver com os direitos humanos propriamente
ditos, que são aqueles previstos na Constituição, nas leis e tratados
internacionais com força de lei no Brasil”, destacou Miguel Nagib,
fundador da Associação Escola sem Partido, em artigo publicado
recentemente na Gazeta do Povo.
Para Nagib, a
definição de direitos humanos adotada pelo Enem é de “valores como
cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural” e assim a
manutenção da pauta dos direitos humanos no Enem é uma forma de
incentivar a doutrinação em larga escala e assegurar o uso das escolas
como instrumento de engenharia social.
Distorção ideológica
À primeira vista,
pareceria não haver problema algum em pedir “respeito aos direitos
humanos”; no entanto, o governo federal sempre teve uma visão muito
particular do que sejam direitos humanos, expressa na terceira edição do
Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), objeto do Decreto
7.037/2009, atualizado pelo Decreto 7.177/2010.
Nesse plano, o
governo federal não aborda apenas temas consensuais na sociedade
brasileira, como a condenação ao racismo ou à violência contra a mulher,
mas também impõe uma série de visões sobre assuntos controversos, como a
defesa do direito ao aborto, questões relativas à identidade sexual e
ao controle dos meios de comunicação.
“Tal como tem sido
concebido, o exame se torna a projeção evidente de um processo
educacional falido, ancorado em bandeiras ideológicas e discursos
sectários cuja importância, em ambiente formativo de base, é nenhuma”,
conclui Dennys.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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