Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO
Ministro da Defesa, Raul Jungmann
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse hoje (28) que a
quantidade de armas de fogo e objetos perfurantes encontrados em
presídios brasileiros por militares das Forças Armadas – em vistorias
feitas ao longo do ano – sugerem que haja algum tipo de “acordo” entre
agentes do sistema prisional e criminosos. Segundo o ministro, cerca de
11 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica inspecionaram 31
presídios de seis estados (Acre, Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte,
Rondônia e Roraima) durante 2017. Somadas, as seis unidades prisionais
abrigavam 22.970 detentos. Considerando que foram encontradas 10.882
armas e objetos perfurantes, é como se houvesse quase uma arma à
disposição de cada dois detentos cumprindo pena nos presídios
inspecionados. “O fato de o sistema prisional brasileiro admitir que um
em cada dois detentos esteja armado é um escândalo. Como isto foi parar
lá dentro? A gente chega a pensar se não há algum tipo de leniência, de
acordo entre os [trabalhadores] do sistema prisional e aqueles que estão
presos”, disse Jungmann, ao fazer o balanço anual das atividades do
ministério. Segundo o ministro, durante a chamada Operação Varredura,
deflagrada em janeiro, também foram apreendidos aparelhos de telefonia
celular, drogas e outras substâncias e objetos ilícitos. No entanto, de
acordo com Jungmann, as suspeitas se baseiam em uma avaliação pessoal
dos dados, e não em qualquer outra informação fornecida por serviços de
inteligência do Estado. “É uma conclusão pessoal. Porque tudo aquilo que
vocês imaginarem pode ser encontrado no interior do sistema prisional.
Televisor, freezer, churrasqueiras…Como tudo isso entra em um sistema de
isolamento? Parece haver uma espécie de acordo tácito [no qual os
presos dizem] “você não aperta a gente aqui que a gente não cria
problemas lá””, acrescentou o ministro, destacando que a situação
contribui para que as organizações criminosas continuem crescendo e
dominando as ruas, mesmo que de dentro dos presídios. Para Jungmann, um
fator que contribui para a manutenção destas circunstâncias é a
facilidade legal com que presos mantém contatos além dos muros
prisionais. Até mesmo com seus advogados. “O crime organizado continua
tendo poder e suas ordens cumpridas do lado de fora. O que tem a ver com
o problema das comunicações. Coisas como visitas íntimas ou encontros
com seus advogados e com terceiros produzem um fluxo de informação que
faz com que os grandes criminosos mantenham seu mando”, afirmou
Jungmann, propondo que o Congresso Nacional deve enfrentar a questão e
aprovar leis mais rigorosas de controle às visitas a presos considerados
perigosos. “Três grandes bandidos, o Nem, o Marcinho VP e o Fernandinho
Beira-Mar têm, juntos, 37 advogados que vão aos presídios com passagens
e diárias pagas e que, evidentemente, tem uma relação que não é apenas a
de um cliente e seu advogado”, citou Jungmann, lembrando que, só no
estado de São Paulo, mais de 60 advogados já foram detidos pela polícia,
acusados de envolvimento com atividades criminosas. “Isso nem de longe
significa criminalizar advogados. Como eu já disse ao presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil, temos um problema e precisamos
enfrentá-lo.”
Alex Rodrigues, Agência Brasil
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