Folha
Fãs de jazz de todas as idades deveriam ter reservado um minuto de silêncio, na semana passada, em homenagem a um homem que nos deu acesso a 50 anos de grande música e milhares de horas de prazer. Aos 98 anos, morreu no dia 22, em Nova York, George Avakian, cuja profissão pode ser descrita assim: ele produzia discos. Aos milhares. Entre estes, talvez metade do catálogo do jazz clássico, contendo material que estava esquecido e ele salvou da destruição.
Exemplos. As primeiras gravações de Louis Armstrong, nos anos 20; as de Bessie Smith, acompanhadas por Louis ou Fletcher Henderson; e as de Bix Beiderbecke, em coleções de quatro LPs cada, incluindo faixas inéditas até em 78 rpm. As caixas com três LPs de Duke Ellington, Billie Holiday, Mildred Bailey e do jazz de Chicago, enriquecidas por fascículos com informações e fotos raras. Tudo isso na Columbia. Esse tesouro, depois de reencarnar por décadas em CD, está hoje na “nuvem”, ao alcance de um clique.
OUTRAS FAÇANHAS – E os LPs conceituais que Avakian idealizou e cuja gravação dirigiu? Foi ele quem, nos anos 50, produziu os LPs de Armstrong tocando W.C. Handy e Fats Waller, levou Louis à hit parade com “Mack the Knife” e apresentou Edith Piaf aos americanos com “La Vie en Rose”. E quem senão ele tornou a Columbia um selo capaz de transformar jazzistas como Dave Brubeck, Erroll Garner e Miles Davis em grandes vendedores de discos?
Por onde passou Avakian deixou sua marca, ressuscitando artistas, como fez com Sonny Rollins nos anos 60, ou promovendo casamentos, como o do Modern Jazz Quartet com Gunther Schuller. Foi ele também quem levou Benny Goodman à URSS em 1962, e tente calcular o que isto significou.
Imagine agora o tamanho e o valor do arquivo desse homem. Pois é. Há três anos, ele o doou para a biblioteca do Lincoln Center, em Nova York.
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