Samuel Pessôa
Folha
Com o passar do tempo e a consolidação das estatísticas é possível olhar para trás com mais distanciamento. A economia brasileira entrou em uma profunda crise em 2014 e saiu dela somente no final de 2016. A recuperação foi muito lenta. Ainda vivemos sob desequilíbrio fiscal estrutural e tudo sugere que a dívida pública continuará a crescer até 2026 pelo menos.
Uma questão importante é saber quando iniciamos o desvio da rota da estabilidade macroeconômica. Foi no governo Lula 2 ou em Dilma 1? Esta coluna apresenta os números. A evidência é clara de que começamos a construir nossa grande crise no segundo mandato de Lula.
RENDA E PRODUTIVIDADE – Há estatísticas sobre a evolução do custo unitário do trabalho (medido pela renda do trabalho da Pnad) contra a produtividade do trabalho (medida pelo observatório da produtividade Régis Bonelli do FGV Ibre). A partir de 2007, os salários sobem a uma velocidade muito superior à da produtividade.
Fica clara a queda da rentabilidade das empresas —medida pela geração de caixa como fração do faturamento (dados das empresas abertas). Para essa estatística, a piora ocorre a partir de Dilma 1.
Mas a evolução do superávit primário estrutural do governo central, medido pela Instituição Fiscal Independente (IFI), traz queda acentuada em Lula 2. A contrapartida da elevação do déficit fiscal é a claríssima redução, a partir de Lula 2, das exportações liquidas.
DESEMPREGO E INFLAÇÃO – Já em Lula 2, a economia registrava aumento do desemprego. Na época, todas as estimativas de taxa natural de desemprego indicavam algo em torno de 9,5%, bem acima do observado já em 2010.
Após a reforma trabalhista há sinais de que a taxa natural se encontra abaixo de 8,5%.
A inflação de preços livres, após em 2006 cair a 2,6% ao ano, fecha o segundo mandato de Lula a 7% e fica nesse patamar até 2014. Ao longo do primeiro mandato de Lula, o atraso tarifário foi corrigido. Política desfeita já no segundo mandato. Dilma 1 termina com atraso dos preços administrados, em relação à posição de dezembro de 2002, de 6,3%.
POLÍTICA EQUIVOCADA – É comum se alegar que a queda do investimento público teria sido responsável pela desaceleração da economia no primeiro mandato de Dilma. No entanto, como proporção do PIB, o investimento público eleva-se até 2013, inclusive.
Os números documentam: a política econômica em Lula 2 e Dilma 1 era não sustentável.
Se o melhor momento que tivemos — acho que desde que Pedro Álvares Cabral colocou seus dois pés na Bahia — foi sob uma política econômica insustentável, isso indica que nossa democracia ainda não encontrou a fórmula de compatibilizar crescimento econômico sustentável com equidade e redução da pobreza.
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