Assassinato de Daniella Perez expõe sensação de impunidade da legislação brasileira. Lygia Maria para a FSP:
Se
estivesse viva, a atriz Daniella Perez faria 52 anos neste mês. Mas, em
1992, Daniella foi brutalmente assassinada por Guilherme de Pádua e sua
esposa, Paula Thomaz. A história desse crime que chocou o Brasil é
contada no documentário "Pacto Brutal", que estreou recentemente na HBO.
A
violência do crime impressiona: 18 facadas pelo corpo da jovem, sendo
12 no coração. Porém a Justiça brasileira continua apunhalando o coração
de Daniella, da mãe dela, a escritora Glória Perez, e dos familiares.
Isso porque os assassinos condenados a 19 anos de prisão foram soltos
após cumprirem menos de 7 anos da pena. Efeito da progressão de regime,
que faz com que condenados no Brasil cumpram apenas parte da sentença na
cadeia. Resultado: sensação de impunidade e indignação popular.
Fiquei a pensar, então, qual seria uma punição justa para esse tipo de crime.
Sou contra a pena de morte: é imoral que se autorize o Estado a matar
um indivíduo indefeso. Sem contar, claro, a possibilidade de assassinar
um inocente: segundo pesquisa nos EUA, dos 7.842 presos no corredor da
morte entre 1973 e 2004, 107 conseguiram provar inocência antes da
execução. E os que não conseguiram? Para tornar a pena de morte
moralmente inaceitável, basta um.
Há
a prisão perpétua. Eu era a favor, até conversar com meu pai, professor
de direito penal, que me disse: "Não, minha filha, isso é desumano,
toda pessoa tem capacidade de se arrepender e de se redimir". Uma
justificativa mais cristã do que técnica. Sou agnóstica, mas esse ponto
de vista filosófico me agrada.
Concluí,
então, que o ideal seria ver alguém que apunhala 12 vezes o coração de
uma jovem passar 30 anos na cadeia. É pedir muito? Para o Congresso
Nacional, é. Lá, eles estão mais interessados em aumentar os próprios
salários do que as penas para crimes bárbaros que afetam todos os
estratos sociais. Afinal, Glória Perez não é a única mãe brasileira a
sentir a dor de ver um filho assassinado e os assassinos livres.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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