Quando esse traço de comportamento moral é negado por razões ideológicas, aprofundamos seus efeitos. Luiz Felipe Pondé via FSP:
Conversando
recentemente numa conferência internacional com duas colegas
intelectuais e acadêmicas, uma francesa e uma americana e ambas de
temperamento liberal —no sentido europeu do termo—, logo, sem o ranço
ressentido das feministas, acompanhei os relatos delas sobre os modos de
exercício de violência e de crueldade entre mulheres, filhas ou amigas
das filhas, alunas, enfim.
Esse
tema, da violência e crueldade entre mulheres, é um dos temas proibidos
desde que acabaram os "tempos democráticos", como diz o namorado de uma
amiga minha.
Inteligentinhos
dirão que se trata de sexismo, uma das palavras da moda para calar a
inteligência não orgânica —isto é, uma forma de inteligência rara no
pensamento público em que o intelectual não quer prestar serviço a causa
nenhuma e busca unicamente tentar entender a realidade. Lutando para
não perder aquilo que o filósofo Isaiah Berlin (1909-1997) chamava de "senso da realidade".
O
dano que esta forma de silêncio causa é que as próprias mulheres,
principalmente as mais jovens, têm sido educadas na mentira política
segundo a qual a violência é um traço exclusivo dos homens. Estes são machistas, estupradores, assediadores.
Não,
as mulheres são cruéis também entre elas, e principalmente, mas de
forma diferente dos homens. São mais sutis, e isso torna a violência que
promovem quase invisível.
Imaginemos
a seguinte situação hipotética, mas que acontece todo dia. Um grupo de
cinco amigas que trabalham juntas na mesma empresa ou estudam juntas na
mesma faculdade, por exemplo.
Uma
delas faz alguma coisa que as outras não aprovam ou da qual desconfiam.
Pode ser uma relação sexual com um homem casado, pode ser uma promoção
inesperada no trabalho, pode ser uma conversa desavisada com outra
mulher que o grupo desgoste.
Agora
imagine que por anos as cinco amigas e colegas saem juntas, viajam com
seus namorados, são madrinhas de casamento umas das outras. Tudo postado
nas redes e acompanhado pelos seguidores.
A
partir do momento em que se dá o cancelamento interno da vítima no
grupo, ela desaparece dos posts, fotos, stories. Enfim, some. As pessoas
começam a perguntar à vítima cancelada o que está acontecendo, e isso
implica um desgaste psicológico —por causa das tentativas de inventar
desculpas para seu sumiço das redes das ex-amigas— e solidão. O
acontecido se espalha e o estresse se instala. Isso contamina o trabalho
ou os estudos.
Imagine
que, por anos tendo o hábito de almoçarem juntas depois da aula ou no
meio do expediente, de repente as quatro restantes saem deixando a
culpada sozinha. Pessoas à volta olham sentindo a energia da exclusão.
Mais estresse psicológico.
Na
volta do feriadão, as quatro conversam alegremente sobre o programa
feito juntas —praia, o sítio de uma delas, enfim—, deixando claro que a
cancelada foi mais uma vez excluída da vida social do grupo. De repente,
demonstram um breve interesse por ela, mimetizando o passado, antes do
cancelamento, para duas horas depois voltarem a deixá-la na
invisibilidade punitiva, entre aspas.
É
evidente que a violência e crueldade aqui são de caráter
prioritariamente, poderíamos resumir, psicológico, não físico,
explícito, como costuma ser entre homens. A violência implícita pode
levar tempo para ser percebida, ou mesmo reconhecida como tal. A dúvida
com relação à permanência, ou não, do antigo laço afetivo é parte da
própria violência.
Nesse
sentido, apesar de as mulheres costumarem de fato ser muito menos
violentas fisicamente, elas o são psicologicamente, principalmente umas
com as outras.
Quando
esse traço de comportamento moral é negado por razões ideológicas,
aprofundamos seus efeitos difusos e aparentemente inexistentes.
Enfim,
as feias odeiam as bonitas, as menos gostosas odeiam as mais gostosas e
tendem —ao contrário do que dizem as feministas— a pôr em dúvida com
frequência as capacidades intelectuais e profissionais das bonitas e
gostosas.
Quem
sempre põe em dúvida a capacidade profissional da mulher bonita é a
feia. O homem, ao contrário, presta mais atenção e acolhe com imenso
prazer a inteligência de uma mulher bonita.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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